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21 julho 2010

Loucura para clarear o intelecto!






Livro: Dom Quixote
Subtítulo: Livro Primeiro e Livro Segundo (Coleção L&PM POCKET, vol. 400 e 401)
Autor: Miguel de Cervantes Saavedra (1547 - 1616)
Editora: L&PM POCKET
Páginas: vol. 400 (511p) / vol. 401 (518p) 

Gostei do livro.

Mas você corre o risco de não gostar dele de cara. Tem que ter perseverança. Porque Cervantes lhe ganha pela convivência.

Ainda mais se você leu a mesma edição que eu, da L&PM POCKET, em dois volumes, somando os dois livros quase mil páginas.

Sugiro que você dê ao livro um crédito de pelo menos 150 páginas. Se ainda assim ele não lhe seduzir, esqueça! Doe o livro para uma biblioteca pública perto de sua casa, e alugue um bom filme para desopilar.


Miguel de Cervantes
Avô do Monty Python 

Dom Quixote trata de um cara viciado em literatura de cavalaria, que depois de tanto ler esse gênero literário, pira o cabeção achando que é de fato um cavaleiro andante. Daí resolve sair pelo mundo atrás de aventuras (e desventuras) dignas de serem contadas! Sem esquecer que nesta jornada ele tem como companhia um escudeiro (tão doido quanto) chamado Sancho Pança.

Dom Quixote daria uma ótima série de tv (com várias temporadas), pois em quase todos os capítulos existem uma mini aventura. E acredite, Dom Quixote tem muitos capítulos!

À medida que você avança na leitura, pode sentir uma leve sensação de tédio. Mas não se preocupe, quando o tempo de leitura corre mais um pouco, você se vê como que acostumado com a companhia do livro e ele entra na sua rotina, se torna parte de você. (relevem o exagero!)

Demorei torno de um mês para concluir a leitura. E agora, estou aqui, às traças e órfão, com saudades do nobre cavaleiro e seu inseparável escudeiro.

Nem vou entrar no mérito da importância histórica do famoso folhetim de Cervantes. Para isto você tem o bom sabe tudo tio Wiki.

Se você é daqueles que, ao se deparar com um grosso volume de um clássico da literatura, já sente aquele calafrio na espinha pensando que, além da grossura, ainda vai ter que encarar uma linguagem difícil (para os cult's leia-se: linguagem sofisticada ou clássica), não se desanime, ó desocupado leitor. É normal! Você não tem do que se envergonhar. Há outras formas de você entender o personagem Dom Quixote sem necessariamente ter que ler os dois volumes do livro.

Uma delas é assintindo ao filme Don Juan DeMarco; com atuação bem convincente e marcantes de Jonny Deep e Marlon Brando.


Tá com preguiça de ler Dom Quixote?
Sem problema! 
Veja este filme!

Ou, se você quer uma coisa mais na real, acesse o Youtube e veja todas as entrevistas e participações em programas de tv do INRI Cristo, que, a meu ver, é um ótimo exemplar de um verdadeiro Dom Quixote dos nossos loucos tempos. E que, ainda por cima,  consegue ter uma legião de Sanchos Pança seguindo ele.

INRI Cristo!
Um Típico Dom Quixote Contemporâneo! 

Isso tudo, tomando um bom vinho vagabundo ao som de Balada do Louco dos Mutantes!

Então, para todos os loucos de plantão, o meu sincero lero lero lero!

E claro, boa leitura! Sempre!

Bônus Track: Balada do Louco (Os Mutantes)

17 julho 2010

A doce vingança da amarga Medéia


Livro: Medéia
Autor: Eurípedes ( 484 a.C. - 406 a.C.)
Editora: Martin Claret
Páginas: 109

Medéia e Jasão são aquele casal de vilães típico das novelas globais. Um casal que, como se costuma dizer aqui no nordeste, não são flor que se cheire.

Tanto que, depois de aprontarem todas (leia-se: traições, conspirações e assassinatos), foram expulsos de seu país de origem, fugindo para o exílio na cidade de Corinto, levando consigo apenas seus dois filhos.

Acontece que Medéia se vê trocada pela deliciosa filha do rei de Corinto. Como se já não bastasse, ainda foi convidada a, junto com os filhos, deixar a cidade de mala e cuia. Isto para que Jasão pudesse usufruir de tudo do bom e do melhor que as boas graças do rei e o fogoso leito da princesa poderiam lhe dar; sem ter o incômodo de ter uma ex-mulher lhe torrando a paciência.

Típico não!?

Eurípedes
Já fazendo jorrar sangue pelos areópagos gregos muito antes do Tarantino vir ao mundo!

Medéia então, com seu instinto feminino tomado por uma fúria incontrolável, junto a todas as forças hediondas de muitas tpm's somadas, resolve não levar desaforo para casa (leia-se: para outro exílio) e decide por acabar (expressão bem comum usada por mulheres furiosas) com a raça do pobre canalha desafortunado Jasão.

A personagem Medéia é de fazer a vingativa Beatrix Kiddo (Kill Bill vol. 1 e 2), a Flora (vilã da novela A Favorita) e Suzane von Richthofen (burguesinha paulista assassina dos pais) ficarem parecendo a Madre Teresa de Calcutá.

E, ao contrário das vilãs citadas, Medéia não é levada a sua sanguinolenta vingança por motivos de busca do poder (Flora), nem dinheiro (Suzane), tampouco a vingança pela filha morta (Beatrix). Medéia é movida pelos motivos mais primitivos do universo feminino:

Um leito desonrado!

Susane Von Richthofen
Comparada a Medéia, ela é a nora que toda mãe sonha ter!

Até que ponto uma mulher é capaz de chegar para fazer o seu marido infiel pagar caro por tê-la traído e abandonado?

É um livro perfeito para a namorada ou esposa desconfiada presentear o parceiro como uma forma de aviso prévio.

Para os cuecas de plantão, o livro pode ser extremamente instrutivo para que se possa perceber como a mulherada tem essa capacidade de ir da doce ternura (amor!) a um azedume vingativo (ódio!) num piscar de olhos.

Toda mulher é potencialmente uma Medéia, quando devidamente estimuladas pela nossa incurável canalhice; salvo, claro, as devidas proporções emocionais de cada uma.

Enfim, para todos uma ótima leitura, ou vingança, sei lá!

15 julho 2010

Uma aula sobre Jesus e seu legado histórico.


Livro: O Incomparável Cristo
Autor: John Stott
Editora: ABU (Aliança Bíblica Universitária)
Páginas: 250

John Stott, de forma clara e enxuta, escreve como poucos sobre a sinergia entre teologia, espiritualidade e cristianismo.

O autor sempre busca ter precisão e coerência doutrinária, de forma que agrade tanto o leitor leigo, quanto ao cristão já devidamente doutrinado por uma igreja protestante de tradição histórica.

Stott não complica, tampouco polemiza. Sua motivação, de forma sóbria e centrada, é esclarecer o leitor.

Isto o torna um dos teólogos ingleses mais respeitados e consistentes do século XX.

As dezenas de livros do autor sempre estiveram nas boas graças de boa parte dos acadêmicos da área de teologia. Sem contar as igrejas; mais precisamente as igrejas históricas como batistas, anglicanas, luteranas e presbiterianas.

O livro O incomparável Cristo é baseado em uma série de palestras ministradas por ele na Igreja de All Souls (em Londres), na virada do milênio. Ele falou sobre a pessoa de Jesus Cristo; sua importância e relevância para os dias de hoje, mesmo passados dois mil anos.

Particularmente, o que mais me fascina no autor é que ele, declaradamente, é um conservador (no sentido menos pejorativo da palavra). E  assim como o velho São Paulo, ele consegue ser como aquele velho xamã indígena, cheio de sabedoria, que faz esquecer a complexidade dos vícios relativistas, e remete o pensamento de volta a fascinante e encantadora simplicidade dos evangelhos.

                                          John Stott


Porém, atenção!

Ele procura ser claro e preciso, mas nem sempre consegue ser aquele escritor que tem aquele apelo de, página após página, seduzir o leitor (a exemplo de Lewis, Yancey, Lucado e cia).

Você deve encarar o livro como uma aula, pois Stott é muito didático.

E é recomendável ter uma bíblia por perto, pois dela extrai várias citações.

O livro divide-se em quatro partes:

1) O Jesus original

Onde Stott explora, sem meias verdades, como o Novo Testamento retrata Jesus.

2) O Jesus eclesiástico

Nesta sessão ele avalia as diferentes formas de como Jesus foi representado através de toda a história; viajando dos primeiros séculos do cristianismo até hoje.

3) O Jesus Influente

Depois de explorar as formas como Jesus foi representado nas mais diversas fases e movimentos da história da igreja, ele agora mostra como a vida e os ensinos de Jesus Cristo impactaram indivíduos que conseguiram mudar a realidade deles mesmos e das pessoas que os rodeavam.

Dentre as várias personalidades citadas estão Francisco de Assis, Leon Tolstoi, Gandhi, Madre Teresa e Luther King.

"Não conheço ninguém que tenha feito mais para a humanidade do que Jesus. De fato, não há nada de errado no cristianismo. O problema são vocês, cristãos." (Mahatma Gandhi)


4) O Jesus eterno

Esta foi a parte que eu menos gostei.

Aqui, Stott explora os 22 capítulos do Livro de Apocalipse.

Ele defende que, no Livro de Apocalipse, o Espírito Santo através de São João, queria retratar Jesus e a igreja numa amplitude cósmica.

Por ser repleta de simbologia, o Livro do Apocalipse (ou Revelação) é de difícil compreensão. Além de dar margem a muitas controvérsias e interpretações bizarras.

São João, muito antes do festival de Woodstock, já recebendo inspiração (e instrução) para escrever o psicodélico Livro do Apocalipse.

Na sua forma britanicamente polida, Stott bem que tentou; conceituou as interpretações básicas das igrejas históricas (o que para um leigo deve ser fascinante). Mas a mim (já caduco de ir a igreja) não trouxe grandes novidades.

Gostei quando ele desmistifica alguns fragmentos ditos apocalípticos (leia-se proféticos) mostrando que, ao invés de prever o que ia acontecer no futuro, o Livro de Apocalipse falava diretamente para as igrejas perseguidas daquela época. E que tinha a intenção de, subliminarmente,  conscientizar aquela geração de cristãos perseguidos que Deus, apesar da sangrenta e implacável investida do Império Romano, não esqueceu de seus filhos. São João, ao escrever o Livro de Apocalipse, encoraja a igreja para que, mesmo diante da certeza da morte por execução por parte das legiões romanas, tivessem, para consolo de suas almas, a certeza da redenção; que a vida do cristão transcendia a temporalidade terrena; e que o sofrimento, nem de longe, se compara a maravilha de desfrutar a eternidade na glória, também chamado céu, paraíso, etc.

Então, caro leitor, recomendo O incomparável Cristo de John Stott a você que têm o desejo de aprimorar os conhecimentos sobre diversos aspectos de tudo o que possa representar a pessoa de Jesus Cristo.

Então, ao invés de desejar boa leitura, termino com uma saudação mais apropriada para quem lê John Stott:

Bons estudos!

12 julho 2010

Não Gostei!


Livro: Histórias Extraordinárias
Autor: Edgar Allan Poe (1809 - 1849)
Editora: Globo
Páginas: 254

E digo o porquê.

Histórias Extraordinárias é uma compilação de contos de mistério do consagrado escritor Edgar Allan Poe. Este americano é um dos pais da chamada literatura de ficção científica e fantástica modernas.

Não sou nenhum crítico profissional de literatura, menos ainda um intelectual de primeira. Longe disso. Sou um mero leigo que, quando lê, tem como únicas sensações o fato de  gostar ou não.

Histórias extraordinárias é, de fato, incrivelmente bem escrito. Talvez, para o leitor da época, acostumado com aquele tipo de linguagem, devia ser, pela forma como ele escreve, uma coleção de contos muito, no mínimo, fascinantes.

O cara é famoso, e certamente influenciou um sem número de outros escritores após ele.


                                          Edgar Allan Poe

Mas para mim, já contaminado com a linguagem cinematográfica e com escritos de suspense do Stephen King, achei Edgar Allan Poe cansativo.

Não gosto de autores descritivos demais. Como descrever que tipo de formato o vapor que a xícara com café quente produz enquanto os personagens conversam. Ou as descrições minuciosas dos móveis e objetos da casa. 

Tá, eu sei, Stephen King também é assim e eu adoro ele. Mas por vezes Edgar Allan Poe torna isso um exercício quase insuportável.

Para não ser de um todo injusto e ranzinza, teve alguns contos desta compilação que eu gostei. Aliás, poderia até mesmo usar este espaço para comentar conto por conto. Mas não vou fazer.

Alguns contos me cativaram, mas não de forma surpreendente. Foi algo do tipo - Há tá, saquei! entendem?

Mas, quem sabe, este tipo de escrita seja por demais sofisticado para um cara como eu. Quem sabe a experiência seja diferente para você. Sei lá.

Então vou tomar a liberdade de afirmar que não gostei. E dizer que, se você quer ler um livro de suspense, por puro entretenimento, que lhe instigue a imaginação (por que essa foi minha expectativa diante deste livro), eu não recomendo Histórias Extraordinárias para você.

Mas esta foi a única obra que li dele.

Afirmo isso antes que você proteste dizendo que eu não li a obra toda dele. Fique à vontade para indicar outro trabalho dele, que eu procurarei ler com todo o prazer. Até porquê, sou daqueles que acreditam piamente que nem sempre a primeira impressão é a que fica.

Paulo Coelho que o diga.

Aguardo sugestões!

09 julho 2010

Filosofia para Leigos


Livro: Iniciação à História da Filosofia
Subtítulo: Dos Pré Socráticos a Wittgenstein
Editora: Zahar
Páginas: 304

O que me fez gostar de ler este livro é que o autor, de forma muito clara, polida e direta, atingiu o objetivo a que se propõe: escrever a história da filosofia abarcando dos pré-socráticos a filosofia moderna, pensando prioritariamente no leitor leigo nesta área, assim como nos iniciantes acadêmicos no árido estudo da filosofia.

Confesso que filosofia não é minha praia. Comecei o curso a uns dois anos e  me vi (devido a minha incapacidade de assimilação, confesso) obrigado à  abandoná-lo.

Mas mesmo assim, sei da importância (pelo menos, para os aficcionados por leitura) de ter uma noção básica de como se desenvolveu a maneira de pensar o pensar no decorrer dos séculos.

Então, se você é daqueles que não tem paciência para ler um grosso volume de história da filosofia com aquela linguagem acadêmica sacal, mas também acha que O Mundo de Sofia já é frescura demais, eis aí o livro ideal para você caro leitor.

Boa leitura!

02 julho 2010

Um Cabra de Deus na terra do Sol




Livro: As Faces de um Mito
Subtítulo: A Fascinante História de um Cabra de Deus na Terra do Sol
Autor: Carlos P. Queiroz
Editora: Vinde
Páginas: 278  

Este livro caiu em minhas mãos à muito tempo. Presente do próprio autor, que de uns anos para cá têm se tornado, além de amigo, uma agradável companhia na caminhada espiritual.

O livro é, basicamente, uma biografia de seu falecido pai, pastor João Queiroz, um dos pioneiros do protestantismo no sertão do Rio Grande do Norte e Ceará.

Sendo que ele, o que já dá para perceber pelo nome, não é um missionário gringo que veio dos EUA ou Europa para propagar o evangelho aos nativos. Ele é um típico sertanejo pobre, que como todos os outros, experimenta das benesses e dessabores da sequidão e aridez da caatinga.

Principalmente, trata das inúmeras histórias de providência e consolo de Deus em meio a todos os percalços de sua vida, como a morte prematura de sua esposa, que lhe deixou mais de uma meia dúzia de filhos para criar sozinho, além do óbito de parentes por conta de doenças ou acontecimentos diretamente relacionados a seca nordestina.

E mais; a luta na labuta do cultivo da terra, adversidades políticas, conversas com cangaceiros, êxodo rural, orações atendidas e não atendidas, perseguições religiosas e claro, muitas outras aventuras e desventuras.

O livro leva por vezes você às lágrimas, e por outras à muitos risos. Pois apesar da vida difícil, como um bom nordestino, pastor João Queiroz contava tudo regado à muito humor.

Na mesma semana que resolvi ler o livro As Faces de Um Mito fui a uma grande livraria local e fiquei lá dando uma folheada na biografia dos Beatles. Vendo a grossura da biografia daqueles titãs da música pop mundial, olhei de repente para o livro As Faces de um Mito com um certo desdém.

O que teria de interessante na vida de um nordestino no meio do nada, perdido no sertão do Rio Grande do Norte e Ceará?

Lembrei-me no mesmo instante do que diziam acerca de Jesus:

E por acaso pode vir alguma coisa que preste de Nazaré?

E resolvi colocar o pré-conceito de lado e prossegui na leitura.

Carlos Queiroz conta uma boa história como ninguém. E, página por página, você vai se deliciando com os inúmeros causos que aconteceram durante esta peregrinação de quase um século do pastor João Queiroz.

A sensação que você têm lendo o presente livro é de estar num alpendre de uma casa no sertão, ouvindo seu avô contando histórias.

Como me surpreendi!

Não há limites para alguém viver uma boa história!

Seja em Liverpool, Hollywood ou sertão do Brasil. Onde há gente, há certamente boas histórias para contar!

Então, como um grande admirador de biografias, recomendo este livro!

Boa leitura!

* Desenho de Jonas Gomes, confira esses e outros trabalhos no site:  http://www.flickr.com/photos/jonasgomes/