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31 março 2014
Resenha Livro's: Pré-cinemas & pós-cinemas
Livro: Pré-cinemas & pós-cinemas
Autor: Arlindo Machado
Ed. Papitus
303 páginas
Eu achava que gostava de, digamos, práticas cinematográficas. Até o dia em que fui convidado por um amigo produtor pra ser assistente de câmera em uma produtora aqui de Fortaleza. E aí começou um de meus mini-purgatórios. Gravar é um processo sacal, enfadonho e, principalmente, cansativo. Claro que isso é a perspectiva de quem foi assistente. Logo ficava com a parte mais pesada do trabalho - levar equipamento, montar equipamento, ajustar equipamento, desmontar equipamento, guardar equipamento. Quando ficava sabendo que a grua ia pra gravação chega me batia uma tristeza interior.
Indiretamente, por conta desta experiência, meu olhar pro cinema mudou um pouco também. Toda vez que eu via uma cena com uma média logística de complexidade eu já ficava cansado imaginando o trabalho que deve ter dado montar todo o equipamento para aquela cena ser possível.
Enfim, me desapeguei totalmente da ideia de ser um cara dessa área. E com o tempo fui esquecendo essa experiência e meus olhos foram voltando ao costume de ver um filme como puro entretenimento sem pensar muito na técnica.
Esse livro eu adquiri antes dessa fase cansativa de assistente de câmera. Uma época que eu achava que podia ser o que quisesse, inclusive diretor de cinema.
A Vila Das Artes, uma excelente escola de audiovisual aqui de Fortaleza abriu um edital para um curso de cinema e eu me inscrevi. E dentre a bibliografia recomendada para prova estava um capítulo desse livro.
Passei na primeira fase, mas na segunda eu não consegui. Mas o livro ficou guardado na minha biblioteca, até que finalmente resolvi lê-lo.
Bem, o sr. Arlindo Machado é um grande pesquisador na área audiovisual. Um cara que já escreveu toneladas de artigos sobre o tema e que, de fato, academicamente tem uma incontestável autoridade no que fala.
Esse presente livro é uma compilação dos mais importantes artigos dele. Compilados de tal forma que sequencialmente passa a ser um passeio sobre a história do cinema. E leia-se história do cinema, segundo ele, remetido desde eras das cavernas, onde nossos ancestrais desenhavam animais nas paredes numa sequencia que dá a nítida impressão de continuidade. E daí ele vai explorando aos poucos a evolução desse conceito de desenho querendo exprimir movimento, até os primeiros ilusionistas de espelho em circos espalhados pelo mundo em meados dos séculos VII e VIII.
Mas assim, devo alertá-los que em 85% do livro o cara é muito técnico. Realmente não é um livro para alguém que só goste de cinema e quer se informar mais um pouco. É um livro bem pra estudante de cinema mesmo. Então em muitas partes a leitura é bem árida.
Mas se você tiver paciência e seguir em frente você vai acompanhando minunciosamente todos os pormenores de como cada fase do cinema foi evoluindo. Desde as tomadas, as sequências, os roteiros. Nisso o livro é bem rico.
Indo mais para o contemporâneo ele vai falar sobre a evolução dos vídeos e de como isso poderia afetar positiva e negativamente a produção cinematográfica, e daí vai divagar sobre o próprio conceito do que é cinema. Lembrando que os textos foram escritos numa era pré Internet e Youtube. Acho até que o autor poderia, na próxima edição, adicionar novos capítulos (artigos) sobre esses temas.
Ao final do livro tem um artigo superinteressante falando sobre a cobertura audiovisual e jornalística da guerra do golfo. Falando de como os meios de comunicação tem o poder de informar, mas também de alienar a massa sobre os acontecimentos.
Emfim, no geral é um livro interessante, porém é tão técnico que tive muita dificuldade de terminá-lo por ser cansativo as descrições em muitas partes. Mas enfim terminei e realmente me sinto um cara mais bem informado sobre o assunto.
04 março 2014
Resenha CD's: AC/DC - For Those About To Rock We Salute You (1981)
Banda: AC/DC
Álbum: For Those About To Rock We Salute You
Ano: 1981
Gravadora: Columbia
Geralmente pensa-se que o segundo trabalho depois de um disco de sucesso é o mais difícil para uma banda. Eu discordo! Porque geralmente o segundo disco ainda vai ter aqueles resquícios de criatividade que houve no sucesso anterior. Agora, difícil mesmo é manter o mesmo fôlego no terceiro disco. Ou a banda se recicla ou vai fazer um trabalho deprimente por motivos contratuais tirando a última gota do bagaço da laranja.
Agora se coloque no lugar dos caras do AC/DC, em especial o guitarrista Angus Young.
Você cria um álbum de sucesso estrondoso chamado Highway To Hell (1979), perde seu vocalista (Bon Scott, morto repentinamente em 1980) e consegue manter a unidade do grupo, convoca um novo vocalista (Brian Johnson) e, novamente, repete o feito gravando um clássico chamado Back In Black (1980) que levou o AC/DC como um foguete para os braços do mundo.
Mas e aí? A banda iria ficar refém de seus dois últimos clássicos e levar uma carreira confortável (e cômoda) empurrando com a barriga com discos medianos? Bem, era o que todos esperavam.
Mas aí a banda se recolhe na França (sim, França meus amigos!) e cheios de boemia gravam este outro grande estouro de disco For Those... no ano que eu nasci (1981) e, se alguém tinha duvidas sobre o talento desses australianos criadores de infindáveis riffs, a dúvida certamente dissipou-se como uma névoa dando lugar a um sol brilhante.
Para o título do disco (e principal faixa) "For Those About To Rock (We Salute You)", Angus Young se inspirou num livro que estava lendo chamado "For those about to die, we salute you" sobre os gladiadores romanos. Antes de começar o festival de sangue nas arenas, os gladiadores viravam-se para o imperador e diziam "Ave Caesar moriture te salutant" (César, os que vão morrer te saúdam). Daí o título de convocação a todos que gostam de rock a se embrenhar nas arenas dos estádios pra ver um poderoso som cheio de eletricidade. Este basicamente virou a música de encerramento dos shows do AC/DC, com direito a sons estrondosos de canhões. Um verdadeiro grand finale!
Este intocável 8º álbum do AC/DC tem um som com uma pegada mais lenta, porém com rifs bem fortes. Faixas como "Let's Get It Up" (que assim como "Put The Finger On You" celebram o lado sacana de alguém louco por mulher no sentido mais primeira fase dos Raimundos possível...), "Inject The Venom" e "Spellbound" mostram bem essa pegada lenta porém intensa.
"Snowballed" retoma a velha pegada AC/DC, rápida, direta, sem enfeites, de sua era mais setentista.
"Breaking The Rules" e "Night Of The Long Knives" (esta última teve como inspiração a sangrenta noite de 1934 quando Hitler mandou matar todas as pessoas que estavam em seu caminho em sua habitual caminhada noturna) também tem aquela levada mais lenta porém bastante consistentes.
Agora claro, deixei para o final a cereja do bolo! Mesmo falando de temas mais, digamos avulsos, quando não falando de noitadas intermináveis rodeado de vadias e muito álcool, o aspecto que mais aprecio nesta banda, definitivamente, é quando eles, sem reverência alguma, brincam com a perspectiva católica medieval do mal (leia-se capiroto, coisa ruim, capeta, etc...).
Claro que isso é de uma infantilidade tremenda, e escutar as músicas do AC/DC sobre esse tema é tão divertido quando ver um dos inúmeros filmes de exorcismo, demônios, possessões, fantasminhas malvados, etc...
"Evil Walks" mostra bem isso. O mal que nos acompanha o tempo todo, está (como diz um jargão bíblico) como um leão andando ao redor da presa esperando um momento de fragilidade para atacar.
Claro que vou aprofundar mais essa perspectiva quando resenhar os dois álbuns anteriores deles.
"C.O.D." está dentro desta temática sombria, mas essa vou deixar pro final.
For Those... catapultou definitivamente o AC/DC para o topo das paradas de sucesso no mundo todo e, definitivamente, a tornou uma banda das grandes arenas.
Claro que os críticos (alguns com certa razão) dizem que à partir de então a banda meio que vem gravando o mesmo disco sempre, mudando apenas o título. Realmente, quando você tem uma fórmula pronta apenas tem que seguir em frente e administrar isso. Algumas bandas para provar algo a si mesmas caminham experimentando novas sonoridades, fazem coisas que destoam totalmente no projeto original usando a mesma marca (tô com preguiça demais para citar as inúmeras bandas que fizeram isso). Algumas poucas bandas realmente conseguiram se inovar e tal. Mas a maioria não conseguem nem agradar os ouvidos mais apurados, tampouco os fãns.
AC/DC optou pelo caminho "mais fácil" mas sem perder a sua essência. Um hard rock puro, pesado, sem enfeites, direto ao ponto, com letras de conteúdo absolutamente irresponsáveis (no sentido mais positivo possível), e nisso tem arrastado multidões de fãns por décadas. E muita gente começou a curtir a banda não pelos dois clássicos anteriores, mas por esse disco.
Eu por exemplo comecei a degustar o AC/DC depois que as americanas colocou todo o catálogo da banda na loja a R$ 14,90 cada. Comecei a comprar e ouvir os discos. É repetitivo? Sim! Se você passar dias seguidos escutando você enjoa. Porém, com o tempo, você vai aprendendo a colocar os discos pra tocar em momentos especiais. Lavando o carro, malhando, correndo, numa farra em casa com os amigos, e todos começam a fazer o chifrinho com a mão e brindam e conclamam algo muito parecido com o título do álbum:
For Those About to Rock, We Salute You!
A PREDILETA:
"C.O.D" é muito interessante por explorar essa dicotomia cristã ocidental do bem e do mal. A letra mostra o perigo quando o demônio (ou o mal, que, em tese, tem um pouco em cada um de nós) pode se tornar destrutivo principalmente para aqueles que nos rodeiam. Cuidado! É a música do disco que eu mais curto escutar. Enfim, é puro rock moleque: riff pegajoso pra escutar tomando uma cerveja jogando sinuca com letra sobre aspectos do capiroto!
Há, e para aquele leitor cristão que acha um absurdo uma banda falar sobre o diabo pense bem e reveja seus conceitos. Para muitos amigos cristãos que eu tenho a figura do diabo já se tornou algo mitológico, a tal ponto que, se você pensar bem, falar sobre o diabo (principalmente na sua forma mais caricatural) é tão conservador e religioso quando os neo medievais que acreditam em Deus. Afinal de contas, segundo essa linha o diabo não veio para "matar, roubar e destruir"? Então! Ninguém pode vir aqui e acusar o AC/DC de serem teologicamente imprecisos em sua visão do diabo que, para eles, se tornou um tema bem mais divertido e interessante do que Deus. Bem, se eu for pensar em tanta música sem sal que se escrevem sobre Deus por aí, sou até tentado a pensar que eles têm razão.
Ouça no vídeo abaixo a música "C.O.D.":
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