Livro: Teologia dos Milagres de Jesus
Autor: João Ferreira Santos
Editora: JUERP
Páginas: 170
Se você for a qualquer dicionário e procurar a palavra milagre vai perceber que, seja qual for a definição, ela vai ter pelo menos dois sentidos:
1) Algo extraordinário, que transcende o mundo natural ou explicação lógico/científica;
e/ou 2) Algo que não acontece com frequência.
Indo propriamente para Jesus (afinal o livro trata diretamente dele) o que mais me chama a atenção no seu ministério é que, em momento algum, um milagre dele foi em benefício dele mesmo. Era sempre algo que trazia benefício para o outro, o próximo, e não para ele.
Outra coisa que também, particularmente, me comove ao pensar na vida de Jesus, era que seus milagres, principalmente curas, não tinha alvos (pessoas) baseado no padrão social. Era para todo aquele que cresse. O que abarca desde um fariseu radical, a um soldado romano, a gente de pouco (ou nenhum) status social, mulheres de má fama, ricos, pobres, etc.
E principalmente, nenhum de seus milagres foi feito com intenção de propaganda de sua missão. Servia, óbvio, para confirmação aqueles que já o seguiam à tempos e já percebiam, através de seu ensino, que ele era de fato divino, filho de Deus, como Jesus mesmo se auto intitulava.
Apesar disto, Jesus nunca fez destes sinais e curas propaganda para auto-promoção como um super star palestino. Ao contrário! Quando curava alguém, exortava veementemente para que os beneficiados não contassem à ninguém. E quando via que a multidão estava encantada pelos sinais e queria torná-lo um líder, Jesus, seja num sermão extremamente duro e desconsertante para quem ouvia, ou quando se retirava estrategicamente do meio da multidão e procurava a solidão dos montes, sempre dava um jeito de escapulir da aclamação popular.
Jesus não se interessava por isso. Ele queria ser aceito por aquilo que ele era, e não por aquilo que, potencialmente, ele podia proporcionar as pessoas.
E muita gente naquela época o procurava para se entreter vendo um mago fazendo sinais e milagres.
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Ele sabia tanto que essa aclamação das massas era ilusória que, quando entrou em Jerusalém, foi aclamado como um rei em sua famosa entrada em Jerusalém, montado em cima de um jumentinho, com a multidão jogando ramos e túnicas em seu caminho e o chamando de rei. Jesus, ao perceber a empolgação dos discípulos por conta do aparente sucesso de seu mestre, logo jogou um balde de água fria soltando uma profecia perturbadora e sinistra sobre si mesmo:
Eis que estamos subindo a Jerusalém e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e escribas. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado.
Mateus 20: 18 - 19a
Dito e feito! Poucos dias depois, a mesma multidão, em uníssono, gritava histericamente: -Crucifica-o! Crucifica-o!
Jesus, com toda sua sabedoria, sabia mais do que ninguém que, definitivamente, a voz do povo não é a voz de Deus.
Hoje vemos que (pelo menos para aqueles que regularmente vêem tv) há um sem número de programas tele-evangelisticos que alardoa, diariamente, muitas curas e milagres, propagando isso numa lógica mercadológica, tendo por intuito não dizer: - Deus é bom, olha o que Ele faz! e sim marquetear - Venha para cá, só aqui a coisa funciona e acontece!
Milagre, pelo próprio termo da palavra, já dá a idéia de ser uma coisa rara, uma exceção, e não uma regra. Se for regra deixa de ser milagre e passa a ser fenômeno, coisa comum.
Me dói o coração ver que, regra geral, as pessoas não procuram mais a espiritualidade como consequência de contemplação. Tampouco por uma sincera busca pela verdade. As pessoas não se questionam mais: - O quê faz sentido? Apenas se interessam por: - Isso funciona?
E daí esta grande avalanche de gurus, guias, pastores, apóstolos, padres, de todas as correntes religiosas e ideológicas, prontos para satisfazer o gosto do fiel/freguês.
O que Jesus mais temia aconteceu nas gerações que o precederam. Gente falando dele (Jesus) apenas como um amuleto. Como se milagrosamente, ao optar por Jesus (leia-se: Jesus e a instituição que o ofereceu) as coisas começam a acontecer e os pÓbremas são sanados, e finalmente nosso bolso vai gozar da tão sonhada prosperidade!
Achei super interessante um trecho de um livro sobre catequese católica que eu li à pouco:
Urge anunciar Jesus Cristo liberto dos fundamentalismos que tentam aprisioná-lo como um milagreiro. Muitos buscam uma Igreja como a casa dos milagres, uma igreja de resultados que girem em torno de si mesma, que atenda perifericamente os pedidos, sem as preocupações do Reino.
E prossegue:
Uma iniciação cristã que traduza o ser cristão em atitudes de vida nos leva a um horizonte bem distante daquele traçado pela atual teologia da prosperidade, a qual atribui os males ao tentador e acentua as vantagens que a pessoa de fé desfruta: sucesso nos negócios, êxito nas relações amorosas, cura milagrosa de doenças e conforto espiritual.
O autor fecha com uma provocação louvável:
A iniciação cristã, particularmente na periferia das grandes cidades, enfrentará o desafio de confrontar-se com o posicionamento radical de uma fé de corte utilitarista.
(Trechos tirados do livro Catequese com Estilo Catecumenal de Antônio Francisco Lelo, ed. Paulus, pg. 12)
E lendo o livro Teologia dos Milagres de Jesus você, além de estudar todos os aspectos dos milagres como: o poder sobre a natureza, as curas físicas e as curas de caráter espiritual/psicológico; ainda estudará os conceitos e a historicidade.
Você se aprofundará em todos os milagres dos quatro evangelhos e ainda irá perceber que, em cada milagre de Jesus, existe um propósito dele de, especificamente, revelar algum aspecto do caráter de Deus.
Milagre, palavra esta tão misteriosa e fascinante, através da leitura deste livro, me levou a ver como Jesus era profundo, e como o cristianismo é superficial.
É, amigo Gandhi, você tinha razão...
Resumindo: Nem tudo o que reluz é ouro!
Boa leitura a todos!
p.s. - e por falar em cura, para edificação dos irmãos e irmãs, vejam o ungido vídeo abaixo: