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15 outubro 2010

Milagre Altruísta Vs. Curandeirismo Televisivo


Livro: Teologia dos Milagres de Jesus
Autor: João Ferreira Santos
Editora: JUERP
Páginas: 170

Se você for a qualquer dicionário e procurar a palavra milagre vai perceber que, seja qual for a definição, ela vai ter pelo menos dois sentidos:

1) Algo extraordinário, que transcende o mundo natural ou explicação lógico/científica;

e/ou  2) Algo que não acontece com frequência.

Indo propriamente para Jesus (afinal o livro trata diretamente dele) o que mais me chama a atenção no seu ministério é que, em momento algum, um milagre dele foi em benefício dele mesmo. Era sempre algo que trazia benefício para o outro, o próximo, e não para ele.

Outra coisa que também, particularmente, me comove ao pensar na vida de Jesus, era que seus milagres, principalmente curas, não tinha alvos (pessoas) baseado no padrão social. Era para todo aquele que cresse. O que abarca desde um fariseu radical, a um soldado romano, a gente de pouco (ou nenhum) status social, mulheres de má fama, ricos, pobres, etc.

E principalmente, nenhum de seus milagres foi feito com intenção de propaganda de sua missão. Servia, óbvio, para confirmação aqueles que já o seguiam à tempos e já percebiam, através de seu ensino, que ele era de fato divino, filho de Deus, como Jesus mesmo se auto intitulava.

Apesar disto, Jesus nunca fez destes sinais e curas propaganda para auto-promoção como um super star palestino. Ao contrário! Quando curava alguém, exortava veementemente para que os beneficiados não contassem à ninguém. E quando via que a multidão estava encantada pelos sinais e queria torná-lo um líder, Jesus, seja num sermão extremamente duro e desconsertante para quem ouvia, ou quando se retirava estrategicamente do meio da multidão e procurava a solidão dos montes, sempre dava um jeito de escapulir da aclamação popular.

Jesus não se interessava por isso. Ele queria ser aceito por aquilo que ele era, e não por aquilo que, potencialmente, ele podia proporcionar as pessoas.

E muita gente naquela época o procurava para se entreter vendo um mago fazendo sinais e milagres.

www.malvados.com.br

Ele sabia tanto que essa aclamação das massas era ilusória que, quando entrou em Jerusalém, foi aclamado como um rei em sua famosa entrada em Jerusalém, montado em cima de um jumentinho, com a multidão jogando ramos e túnicas em seu caminho e o chamando de rei. Jesus, ao perceber a empolgação dos discípulos por conta do aparente sucesso de seu mestre, logo jogou um balde de água fria soltando uma profecia perturbadora e sinistra sobre si mesmo:

Eis que estamos subindo a Jerusalém e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e escribas. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado.
Mateus 20: 18 - 19a   


Dito e feito! Poucos dias depois, a mesma multidão, em uníssono, gritava histericamente: -Crucifica-o! Crucifica-o!

Jesus, com toda sua sabedoria, sabia mais do que ninguém que, definitivamente, a voz do povo não é a voz de Deus.

Hoje vemos que (pelo menos para aqueles que regularmente vêem tv) há um sem número de programas tele-evangelisticos que alardoa, diariamente, muitas curas e milagres, propagando isso numa lógica mercadológica, tendo por intuito não dizer: - Deus é bom, olha o que Ele faz! e sim marquetear - Venha para cá, só aqui a coisa funciona e acontece!

Milagre, pelo próprio termo da palavra, já dá a idéia de ser uma coisa rara, uma exceção, e não uma regra. Se for regra deixa de ser milagre e passa a ser fenômeno, coisa comum.

Me dói o coração ver que, regra geral, as pessoas não procuram mais a espiritualidade como consequência de contemplação. Tampouco por uma sincera busca pela verdade. As pessoas não se questionam mais: - O quê faz sentido? Apenas se interessam por: - Isso funciona?

E daí esta grande avalanche de gurus, guias, pastores, apóstolos, padres, de todas as correntes religiosas e ideológicas, prontos para satisfazer o gosto do fiel/freguês.  

O que Jesus mais temia aconteceu nas gerações que o precederam. Gente falando dele (Jesus) apenas como um amuleto. Como se milagrosamente, ao optar por Jesus (leia-se: Jesus e a instituição que o ofereceu) as coisas começam a acontecer e os pÓbremas são sanados, e finalmente nosso bolso vai gozar da tão sonhada prosperidade!

Achei super interessante um trecho de um livro sobre catequese católica que eu li à pouco:

Urge anunciar Jesus Cristo liberto dos fundamentalismos que tentam aprisioná-lo como um milagreiro. Muitos buscam uma Igreja como a casa dos milagres, uma igreja de resultados que girem em torno de si mesma, que atenda perifericamente os pedidos, sem as preocupações do Reino.

E prossegue:

Uma iniciação cristã que traduza o ser cristão em atitudes de vida nos leva a um horizonte bem distante daquele traçado pela atual teologia da prosperidade, a qual atribui os males ao tentador e acentua as vantagens que a pessoa de fé desfruta: sucesso nos negócios, êxito nas relações amorosas, cura milagrosa de doenças e conforto espiritual.

O autor fecha com uma provocação louvável:

A iniciação cristã, particularmente na periferia das grandes cidades, enfrentará o desafio de confrontar-se com o posicionamento radical de uma fé de corte utilitarista.
(Trechos tirados do livro Catequese com Estilo Catecumenal de Antônio Francisco Lelo, ed. Paulus, pg. 12)

E lendo o livro Teologia dos Milagres de Jesus você, além de estudar todos os aspectos dos milagres como: o poder sobre a natureza, as curas físicas e as curas de caráter espiritual/psicológico; ainda estudará os conceitos e a historicidade.

Você se aprofundará em todos os milagres dos quatro evangelhos e ainda irá perceber que, em cada milagre de Jesus, existe um propósito dele de, especificamente, revelar algum aspecto do caráter de Deus.

Milagre, palavra esta tão misteriosa e fascinante, através da leitura deste livro, me levou a ver como Jesus era profundo, e como o cristianismo é superficial.

É, amigo Gandhi, você tinha razão...

Resumindo: Nem tudo o que reluz é ouro!

Boa leitura a todos!

p.s. - e por falar em cura, para edificação dos irmãos e irmãs, vejam o ungido vídeo abaixo:


10 outubro 2010

Há um passo do paraíso! Ou não.


Livro: Verdadeira Paz e Segurança
Subtítulo: Como Poderá Encontrá-la?
Autor: Vários
Editora: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados
Páginas: 189

A religião Testemunhas de Jeová foi fundada na década de 1870 por Charles Taze Russell na Pensilvânia (EUA).

Apesar da atuação, digamos, discreta, as Testemunhas de Jeová agrega mais de 7 milhões de seguidores em todo o mundo.

Segundo a Wikipédia, eles adicionam aproximadamente 5 mil membros a cada semana.

Entretanto, quando falei em atuação discreta, não estava sendo irônico. É discreta mesmo.

Basicamente eles tem o estilo de evangelização clássica de algumas seitas cristãs. O método do de porta em porta.

Se você mora ou morou em residências fora das muralhas de condomínios fechados, certamente já deve, pelo menos uma vez, ter recebido a visita de pessoas que confessam essa religião.

Charles Taze Russell
Testemunha nº 1

Eles tem algumas peculiaridades.

Se confessam como cristãos não-trinitários; por não aceitarem, ao contrário das ditas religiões cristãs oficiais, que Deus é três pessoas em um só (trindade seria o termo).

E, assim como as demais religiões, acreditam que só eles tem o monopólio da verdadeira interpretação e práticas da bíblia. Tanto que eles tem sua própria tradução da bíblia, por acreditar que as religiões desprezam o verdadeiro nome de Deus, que segundo eles tem o nome de Jeová. Daí o nome Testemunhas de Jeová.

Literalmente, se você for adaptar o nome de Deus, que está na bíblia hebraica, para as letras oficiais do ocidente, você vai ter um tetragrama de quatro consoantes desta forma que se segue:

YHVH

YHVH, na nossa língua, e até para um judeu ortodoxo, é praticamente impronunciável. Reza a lenda que os judeus levavam tão à sério o mandamento Não tomarás o nome de Deus em vão que, durante séculos, nenhum judeu ousava pronunciar o nome Dele. Daí a pronuncia se perdeu.

O nome Jeová é apenas uma destas tentativas de se traduzir o nome de Deus na linguagem ocidental. Claro que isso só foi possível depois de adicionar vogais ao tetragrama. Outras possibilidades de pronuncia seria Javé ou Iavé.

Os Testemunhas de Jeová sempre foram perseguidos em algumas culturas por tomarem posturas polêmicas devido a sua forma literal de interpretar e praticar a bíblia.

Dentre as práticas mais estranhas está a de não participar de lutas armadas, negar-se veementemente a doar ou receber transfusões de sangue, a não se posicionarem politicamente, dentre outras coisas.

- Eu vou beber seu saaaangue!!!
- Não pode moço! Eu sou uma Testemunha de jeová!

A escatologia (estudo das profecias na bíblia e seu cumprimento) das Testemunhas de Jeová também tem muitas diferenças na interpretação. E é sobre isso que trata boa parte do presente folhetim religioso Verdadeira paz e Segurança, que veio as minhas mãos (adivinha!?) numa destas visitas que eles fazem periodicamente nas casas, no caso, na minha casa.

Fica claro no livro (o que já era de se esperar) que a verdadeira paz e segurança só se alcança se houver por parte da pessoa uma auto entrega a Jeová de corpo e alma, acompanhado (obviamente) de toda instrução que os Testemunhas de Jeová tem a oferecer.

E para isso, no livro, eles usam até alguns argumentos retóricos razoáveis. Como o fato de nunca um governo humano ter conseguido plenamente estabelecer a paz e oferecer segurança a ninguém.

Eles encaram o mundo como uma causa perdida, e leva o leitor a pensar que só um reino estabelecido por Jeová é capaz de promover esse paraíso social.

No livro, eles falam que este mundo tal qual conhecemos e vivemos está fadado à destruição. Assim como na história de Sodoma e Gomorra (livro de Gênesis), Jeová vai esgotar sua infinita paciência, destruir tudo e recomeçar de novo. E todas as calamidades que ocorrem hoje como fome, guerras, epidemias, violência e desastres naturais são sinais de que esse Dia D está se aproximando.

Mas calma, não se desespere! Segundo o livro Verdadeira Paz e Segurança, um grupo de 144 mil sortudos irão sobreviver a todos estes cataclismas apocalípticos e, a partir deles, Deus (ou melhor, Jeová) irá estabelecer seu reino e a terra voltará a ser um paraíso.

Óbvio que estes 144 mil são Testemunhas de Jeová. Coincidência não!?

No livro, há gravuras sobre como vai ser esse paraíso. E é exatamente como o senso comum imagina. Muito verde, paisagem natural deslumbrante, e pessoas de todas as raças vivendo em plenitude e harmonia. Até os bichos vão viver assim. No livro, há gravuras de leões deitados numa linda grama ao lado de ovelhas. Crianças inocentemente brincando com serpentes, etc.

Paz total.

 O Paraíso...
Segundo As Testemunhas de Jeová e alguns grupos de vegetarianos radicais.

Então, resumidamente (parece piada diante do tamanho desta resenha) eles são um grupo, que como todos os outros grupos religiosos, acham que tem A Revelação e fazem de tudo para mostrar essa luz para as outras pessoas.

O louvável de tudo isso é que eles, no livro, não medem palavras. Deixam claro para as pessoas o que eles realmente pensam sobre os mais diversos assuntos como sexo antes do casamento, homossexualidade, bebidas alcoólicas, festas, sociedade, relacionamento homem e mulher etc. Eles tomam a postura do tipo - nós pensamos isso, agimos desta forma, aceita quem quiser!

Há alguns anos eu acharia um absurdo eles acharem que no mundo só se salvam 144 mil, de toda uma multidão de cristãos que existem.

Já hoje, devido a minha fase de total pessimismo quanto ao dito cristianismo que se pratica pelas diversas religiões espalhadas por este mundo afora, acho que 144 mil já é otimismo até demais.

Então, vamos ficar na torcida para que, mesmo Jeová estabelecendo que só 144 mil vão cair em suas graças, Ele possa ter um coração de mãe, onde sempre cabe mais um.

De qualquer forma, já comprei meu ventilador portátil, porque, segundo dizem os mesmos Testemunhas de Jeová, lá embaixo deve fazer um calor desgraçado.

E que Deus, ou Jeová, ou Iavé, Alá ou O Cara lá de Cima tenha um pingo de piedade de nós, pobres profanos.

Amém!