The Beach Boys Today! (1965)

Banda: The Beach Boys
Álbum: The Beach Boys Today!
Ano: 1965
Gravadora: EMI


O ano de 1964 não foi dos melhores para Brian Wilson. O que aparentemente é um grande absurdo já que neste ano os Beach Boys eram tranquilamente uma das bandas mais populares do mundo. Talvez a única a rivalizar realmente com os Beatles. E talvez esse seja exatamente o motivo de tanta correria para Brian Wilson.

Em 64 os Beach Boys lançaram quatro álbuns. Imagine o que é, em um ano, você gravar quatro discos. Tirando o desgaste intelectual, ainda teve, para completar, um ano lotado de shows, e essa maratona toda de shows, estúdio e criação de músicas culminou num colapso nervoso em Brian Wilson em dezembro de 64.

Brian Wilson jogou a toalha branca, e disse ao resto da banda que eles saíssem em turnê sem ele que ele ia cuidar somente dos projetos de criação de canções da banda. Trancou-se no estúdio, descobriu a maconha como ótimo remédio para relaxar e, a partir daí, começou a criar as maiores obras-primas dos Beach Boys.

Brian Wilson muito doido criando obras-primas!

Today! é, na minha opinião, o melhor álbum dos Beach Boys depois do Pet Sounds (óbvio!). Apesar de conter aquelas já conhecidas canções deles, bem dançantes, com influência das praias ensolaradas, o lado B do álbum me toca mais por conter letras mais melancólicas, onde a sofisticação de arranjos mais elaborados abriam caminho na criatividade de Brian Wilson.

É impossível você ver um filme clássico que retrate a adolescência dos americanos na primeira metade da década de 60 sem aparecer na trilha obrigatoriamente uma canção dos Beach Boys. Em algumas canções você até consegue imaginar uma adolescente americana com aparelho nos dentes e óculos de grau preto, no quarto com sua roupa de torcida, deitada na cama, lendo a carta do paquerinha ouvindo uma das canções deste disco. Era isso! Eles eram os queridinhos da América. Simon e Garfunkel encantavam as universitárias. Os Beach Boys atingiam em cheio o Ensino Médio. Principalmente as garotas!

Típico espécime fã dos Beach Boys na década de 60

Neste álbum certamente você encontrará canções que lhe atingirá em cheio o coração. Na audição deste disco você certamente sentirá saudades de uma época a qual não viveu.

Today! foi o pontapé inicial da fase mais criativa de Brian Wilson, que culminaria no brilhante Pet Sounds (1966), uma obra de arte que marcaria a música pop para sempre. Mas está já é uma outra história...


FAIXA A FAIXA:


1 - Do you wanna dance? (Freeman)


Com Dennis Wilson nos vocais, este certamente foi o grande hit do disco. Uma regravação de um sucesso da década de 50 que, no original, era uma balada romântica. Aqui com a versão dos Beach Boys ficou ensolarada e dançante. Os EUA de ponta a ponta dançou ao som desta canção.


E certamente muitos relacionamentos começaram na época depois de uma cantada do tipo:

Do you want to dance under the moonlight?


2 - Good to my baby (B. Wilson)


E a festa continua!

Linda canção! Porém, retrata aquela ideia da mulher de malandro. Daquela garota que o cara por vezes é áspero com ela, ela sabe que o cara a faz sofrer, mas mesmo assim o cara apela para o amor e diz para a garota que, mesmo ele tendo uma série de defeitos, o amor tudo supera e o melhor que ela faz é ficar com ele.

O amor tudo supera, tudo suporta? Segundo Brian Wilson sim. Não sei se concordo... Porém, para as americanas caseiras, que sabiam muito bem o que é isso, era uma grande declaração de amor. Vá entender!

They think a'm bad and I treat her so mean
Bul all they know is from what they've seen
And when I get her alone now
You know we're happy as a couple cold be
And when I give her my love it's between her and me


3 - Don't hurt my little sister (B. Wilson)


Singela canção de um irmão super-protetor protegendo a irmanzinha de um menino mau que quer magoar o coração dela. Linda canção!

4 - When I grow up (To be a man) (B. Wilson)


Por mais linda que seja essa canção (e por incrível que pareça), eu a conheci através de um dos grandes clássicos do terror. A série Halloween praticamente fez parte da minha infância. Junto com a série Sexta-feira 13 e A hora do pesadelo. E sempre achei curiosa uma característica destes filmes. Eles sempre encerravam com uma música bem singela. Tipo daquelas lindas, que sempre embalavam os natais americanos. E essa canção dos Beach Boys foi uma das agraciadas depois de um final extremamente sangrento em um dos filmes da série. De repente a tela se apaga, e aparece o som dessa música com a imagem daquela abóbora clássica das noites de halloween americana, e os créditos rolando.

Engraçado que a canção trata das dúvidas de um jovem quanto ao futuro.

- Quando eu crescer e virar um homem ainda verei a vida da mesma forma e serei o mesmo cara?

Diante da letra, acho até instrutivo uma música assim depois de um filme onde o alvo principal do assassino são jovens. Perdendo todo o seu futuro ainda no âmago da vida. Ui!

5 - Help me, Rhonda (Love - B. Wilson)


Sabe aquele ditado que um amor cura outro? Pois é, neste caso Rhonda é a heroína que vem ajudar o cara de coração partido a esquecer o antigo amor.

A canção foi um sucesso estrondoso nos EUA chegando a 1° lugar nas rádios.

6 - Dance, dance, dance (B. Wilson - C. Wilson)

E para encerrar a parte festiva do álbum, essa canção clássica que marcou toda uma geração.

Principalmente a escolar, pois a letra trata desse universo de ensino médio. As aventuras que podem acontecer após o término das aulas, os amores das férias de verão, etc.

7 - Please Let Me Wonder (Love - B. Wilson)


Agora termina a festa e começa o lado que eu mais gosto neste álbum.

Apesar de embalar os verões americanos com músicas dançantes, o lado dos Beach Boys que eu mais curto certamente são as baladas. As letras melancólicas, letras estas que para mim reflete mais a alma perturbada de Brian Wilson. A voz dele desliza por sobre a música com uma angelical singeleza.

Essa canção é uma das mais lindas dele! Facilmente poderia estar no Pet Souns por exemplo. Com aquele coral vocal característico dos Beach Boys, uma letra bem triste de um cara refletindo sobre seu amor por uma garota. Enfim, todos os elementos necessários para um clássico está aí. Linda canção!

8 - I'm so young (Tyrus)


Fico imaginando quantos adolescentes na década de 60 não perderam a virgindade no banco de trás daqueles carros antigos ao som dessa canção no toca fitas. O amor de dois jovens que se vem com o desejo de casar, mas percebem que ainda são tão jovens.

9 - Kiss me, baby (Love - B. Wilson)


Nossa, outra maravilhosa canção que também poderia estar no Pet Sounds sem medo de ser feliz! Neste lado B vê-se claramente o aprimoramento musical de Brian Wilson, uma vez que ele agora se dedicava quase que exclusivamente seu tempo a explorar tudo o que a tecnologia de estúdio tinha a oferecer na época. A harmonia vocal da banda nesta música é de fazer os cabelos ficarem em pé de emoção.

10 - She knows me too well (B. Wilson)


Uma forma estranha de amar. O amor ocidental, baseada em projeção romântica, tem essa ideia de esperar da mulher esse amor incondicional. Tipo:

- Eu a faço sofrer, chorar, mas no fundo ela sabe que eu a amo!

É o tipo de mulher submissa, criada nos padrões familiares conservadores que eram verdadeiras fábricas de donas de casa segundo o padrão do sonho americano. Não sei se Brian Wilson escrevia isso no sentido de ser um retrato daquela sociedade (como muitas vezes Chico Buarque fez em suas letras, colocando a mulher dona de casa submissa ao marido, mais como uma denúncia do que um ideal). Ou se ele escrevia isso porquê vivia isso em seu próprio relacionamento. Pois todos sabem que Brian Wilson nunca foi, digamos, um marido nota dez. Ele era bem nervosinho com sua namorada. Porém, se redimia sempre escrevendo letras belíssimas.

Como essa por exemplo!

11 - In the back of my mind (B. Wilson)


Aqui se vê quase que uma oração. De um homem que encontrou a felicidade nas coisas mais simples da vida. Por ter uma vida pacata ao lado da mulher que ama. Quando ele reflete sobre coisas que poderia ter vivido e conquistado, ele de repente para e pensa:

- As coisas estão bem assim! 

E sente-se feliz com isso! E não se vê de outra forma.

I tried to rationalize
But some day I might realize
That things are just good the way they'll be
I know it's so hard to find


Lindo!

12 - Bull session with "big daddy" (Jardine - Love - B. Wilson - C. Wilson - D. Wilson)


Nem vale muito a pena eu comentar essa faixa. Basta dizer que isso para mim é uma merda tão grande, uma ideia tão idiota de se colocar em um álbum, só equiparado ao Revolution 9 dos Beatles (faixa bizarra e porra louca feito pelo John Lennon e Yoko incluído no White Album).

Trata-se de uma espécie de entrevista onde, aparentemente todos estão à mesa comendo e jogando conversa fora sobre a turnê na Europa.

Definitivamente só para quem é muito fã.

A PREDILETA:

Escolhi como predileta deste álbum a faixa Please Let Me Wonder. Gosto muito desta canção!

Quando você põe ela pra tocar e deita no sofá, ela lhe transporta no tempo e lhe leva para a beira de uma praia, com um pranchão, curtindo um verão eterno e feliz, sei lá. Muita gente deve ter vivido um amor, ou chorado com um coração partido ouvindo esta canção. Ela serve para os dois casos!

Uma linda canção, já na linha do que viria a ser o Pet Sounds.

Reza a lenda que foi a primeira música que Brian Wilson fez sob o efeito da maconha. Pense numa ervazinha abençoada viu!

Confira esta linda canção abaixo: