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07 abril 2014

Resenha Filme's: Azul é a cor mais quente (França - 2013)



Orgânico... Se eu pudesse resumir em uma palavra o porquê gostei tanto deste filme seria essa.

O bom cinema francês é assim. Sem enfeites nem subterfúgios tecnológicos. Apenas uma câmera focada no rosto do ator. Não tem para onde correr. Se o ator não tiver segurança na verdade que ele está dizendo através do personagem, as lentes focadas vão desmascará-lo na hora.

Daí toda a tradição do cinema francês na fabricação de excelentes atores.

E com este filme não é diferente.

Neste filme há poucas cenas abertas. A maior parte é feita com a lente focada nos rostos dos atores deixando o telespectador ver cada detalhe do rosto.

O filme trata da história de Àdele e de sua fase de descoberta sexual. Uma adolescente urbana, linda e cheia de amigas. Namorando um cara super legal e carinhoso. E que por algum motivo tem a sensação que lhe falta alguma coisa na vida. E esse motivo ela descobre quando olha para os cabelos azuis de uma jovem que cruza com ela pela rua. Aquela garota por algum motivo não sai mais de sua cabeça. Até que as duas se reencontram e, daí, o enredo começa a dar essas respostas de que ela tanto busca.

O filme tem cenas de sexo viscerais. E explícito. A primeira cena de Àdele transando com o namorado dela dura quase 5 minutos. A segunda cena da Àdele matando a sede na saliva com sua linda amante de cabelos azuis duram mais de 10 minutos.

Na sala de cinema pude ver reações das mais diversas. Uns mais assanhados gritavam como se tivessem vendo uma partida de futebol, e a grande maioria ficava com risinhos constrangidos ou simplesmente o silêncio.

Bem, Nelson Rodrigues dizia que se todo mundo soubesse o que os outros faziam entre quatro paredes ninguém se cumprimentava na rua. Há coisas na vida que só dá pra explicar adentrando na intimidade destas quatro paredes. Ou seja, apesar da cena ser forte, na intensidade das cenas dá pra sacar porquê aquela intimidade é tão marcante (como ferro quente marcando um gado) na ligação daquelas garotas. O que pode refletir para qualquer casal, seja lá o gênero sexual que for.

Sexo é um negócio bizarro e fascinante na vida dos seres humanos. Casais permanecem juntos durante anos baseados naquilo que vivenciam na cama. Outros se separam pelos mesmos motivos (ou pela ausência ou apatia sobre estes motivos).

Significa que as cenas foram realmente necessárias? Talvez na mente do diretor sim. Exatamente porquê a resposta pro enigma estava ali, não tinha como explicar de outra forma.

Agora claro que essa curiosidade para ver essas cenas de vários minutos de sexo pode ter sido um pouco prejudicial, principalmente por restringir bastante o público que irá assiti-lo. Por conta disto muita gente vai deixar de ver um filme belo. Um drama excelente maravilhosamente vivenciado pela bela dupla de atrizes francesas Àdele Exarchopoulos e Léa Seydoux.

As duas se garantiram tanto que o Festival de Cannes, não sabendo qual das duas foi a melhor, resolveu premiar as duas como melhores atrizes. E foi muito bem merecido.

Realmente fui arrebatado pela interpretação delas. Uma verdadeira escola de dramatização. E a atriz que interpreta a Àdele é linda demais.

É um filme humano. Muito mais do que uma história gay, é uma busca de uma garota por auto-conhecimento. É também a história de uma relação a dois (ou duas) com todas as facetas positivas e negativas. Fala de hipocrisia, de lealdade, de tempo, de desgaste. Está tudo ali na tela. Humano demasiado humano.

Gosto muito de filmes comerciais americanos. Mas tem momentos que meu cérebro clama por filmes de arte mais densos e tal. Então na medida que posso intercalo esses dois tipos de filme.

Para quem for se aventurar esteja desprendido de qualquer pudor para ver as cenas de sexo. E no mais é aquilo que o cinema francês tem de bom: impecáveis atuações!

Enfim, foi uma interessante experiência cinematográfica para mim.

p.s. - o novo cinema do Dragão do Mar está nota 10!
    
Assista abaixo ao trailer do filme "Azul é a cor mais quente":

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