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23 dezembro 2010

Por uma catequese mais aprofundada, e nada mais...






Livro: Catequese Com Estilo Catecumenal
Autor: Antônio Francisco Lelo
Editora: Paulinas
Páginas: 62


Não sei exatamente a realidade do Norte e Centro-Sul do país. Mas aqui no Nordeste, no que diz respeito a cristianismo, há uma verdadeira multidão de religiosos sem um mínimo de profundidade de conhecimento sobre a religião que pratica. Que dirá os dogmas.

Um exemplo básico disto são as chamadas Escrituras Sagradas (Bíblia para os íntimos). Livro este que tem em suas páginas o que se julga ser toda regra de fé e conduta do cristão. E, quando você vai conversar com qualquer religioso cristão, e começa a perguntar se eles leram o documento sagrado, bem, a maioria vai responder - Na verdade não, só alguns fragmentos.

Isso é curioso, e até contraditório. E revela bastante sobre nossa geração.

Realmente, depois da objetividade de toneladas de informações na internet, e ainda após os famosos 150 caracteres do Twitter, é difícil que algum cidadão com mais coisas para fazer possa ter tempo de ler os documentos sagrados.

E como toda causa gera uma conseqüência, vemos toda uma geração de cristãos (católicos e protestantes) completamente alienados de princípios básicos da verdade revelada por Jesus, sendo descaradamente ludibriadas por um sem número de líderes oportunistas, ou, no caso aqui do Nordeste, por festas e movimentos religiosos.

O livro Catequese com Estilo Catecumenal, de Antônio Francisco Lelo, serve exatamente para denunciar essa superficialidade teológica que boa parte dos aprendizes a primeira comunhão e crisma (o autor é católico) vivenciam.

O autor chama a atenção ao questionar o por que da catequese ser apenas uma fábrica de alunos que aprenderam apenas a decorar dogmas, e não aprender a fundo o que cada símbolo litúrgico, junto com as verdades bíblicas têm a dizer.

Você assinaria um documento sem antes ler?

Como então você vai confessar que um documento é de fato sagrado, que um Deus é de fato verdadeiro, ou que uma religião é de fato legítima se você não a estudou nem procurou se aprofundar no que ela ensina?

Parece bobagem, mas nessa perguntas está a linha tênue que existe sobre o fato de sua motivação ser a contemplação da verdade ou apenas um interesse mesquinho de se conseguir as coisas.

Apesar de ser mais técnico ao mostrar como se pode catequisar alguém com mais profundidade, consegui enxergar neste livro algumas preocupações geradas em torno desta pergunta.

Se você quiser ler um livro que tenha um discurso mais crítico e profundo sobre liturgia e derivados dela, certamente você vai encontrar livros melhores nas livrarias Paulinas, Vozes, etc.

Esse no entanto aborta isso timidamente no prefácio, meio que tentando auto justificar sua proposta catequética.

Escrito sob medida para sacerdotes e líderes católicos. 

O leitor comum vai achá-lo enfadonho.

* * *

Interlúdio

Católicos Vs. Protestantes

Sou protestante (hoje prefiro o termo detestante) desde meus quinze anos. E ao contrário de muitos testemunhos, eu não era um bêbado, que vivia drogado e hoje está curado porque aceitou Jesus. Para ser bem objetivo, eu ter ido parar numa igreja batista foi a soma de alguns fatores.

O primeiro fator, sendo bem sincero, é que de fato, apesar de ir a missa todos os domingos (até os quinzes eu me confessava católico) sempre achei a liturgia católica fria e impessoal. Falo da liturgia católica do meu bairro em particular.

O segundo fator foi o fato de eu ter sido reprovado na escola e, por conta disto, ter perdido uma bolsa de estudos. O que fez minha mãe me matricular numa escola mais barata no meu bairro. A escola era de confissão protestante.

E isso me leva ao terceiro fator, que foi ter feito amizades com meus colegas de classe nesta nova escola (boa parte filhos de lideranças protestantes) e naturalmente ir rolando os convites para conhecer a igreja deles.

E daí já dá para prever né!? Em pouco tempo eu era mais um na estatística da até então grande migração de católicos para o protestantismo.

Que me desculpem os católicos, mas era latente na época a diferença litúrgica entre as duas religiões. O protestantismo oferecia uma liturgia que colocava os membros numa atmosfera mais pessoal com a divindade e com o sacerdócio. Lembro na minha primeira visita o pastor me chamar para almoçar na casa dele. E lembro a primeira vez que eu dei as mãos em volta da mesa e agradeci a Deus pelo alimento.

E esse foi o grande fator checkmate de tudo. Como filho de mãe solteira, apesar da infância feliz eu tinha muita carência de figuras de autoridades em minha vida. Eu praticamente parasitava os pais dos meus amigos. E a igreja se tornou então este seio familiar que tanto me faltava.

Só depois é que de fato eu fui me atentar para questões doutrinárias. E fui bastante estimulado pela igreja a aprofundar meus estudos sobre as escrituras.

Da Igreja para o seminário, e do seminário a este profano que vos escreve foram um sem número de livros e disciplina acirrada de estudos.

Ao que parece, o catolicismo nas últimas décadas vêm aprendendo a lição, e tem tornado suas celebrações bem mais pessoais para os fiéis.

O teólogo Carlos Queiroz tem um interessante estudo demonstrando o processo de pentecostalização do catolicismo, e a catolicização e umbandicização do protestantismo.

No geral, hoje (para o bem ou para o mal) acho as duas gritantemente semelhantes. Os protestantes, dentre muitas coisas, acusam os católicos de idólatras (para usar apenas um exemplo), no entanto a idolatria protestante existe sim e é muito mais perigosa por ser sutil (no caso das igrejas chamadas históricas) e não tão sutis assim (como no caso das igrejas neo-pentecostais).

Toda denominação protestante é um mini-Vaticano em potencial; onde, como na igreja Católica, tem um Papa (chamado no protestantismo pastor presidente, bispo, apóstolo ou Pai-póstolo) que determina as ações e pensamentos das ovelhas. É só trocar a Infabilidade Papal por Infabilidade Pastoral (ou doutrinária), trocar inquisição por disciplina, e excomunhão por:

- Você está convidado a sair de nosso meio, irmão.

Até parece ironia, mas falo isso tendo uma profunda dívida de gratidão pela igreja. Apesar de crer que Jesus Cristo, se viesse ao mundo hoje, passaria bem longe de qualquer uma delas, acho que historicamente a existência delas é reconhecidamente legítima e importante para a formação de nossa sociedade.

Na igreja (católica e protestante) conheci o que há de mais mesquinho e potencialmente mau em um ser humano, e também conheci gente que transbordava piedade e amor como nunca vi em lugar nenhum.

Apesar de freqüentar dominicalmente uma igreja convencional, sinto a muito tempo que ideologicamente não faço mais parte dela. Pegando as palavras de Yancey:

Embora seja evangélico e escreva frequentemente sobre minha fé, nunca aceitei a igreja com facilidade. Algumas vezes, sinto-me fora do lugar dentro dela e tento ajustar-me, como alguém que procura fazer com que um paletó de outro tamanho lhe sirva bem.

Hoje já consigo ver tranquilamente catolicismo e protestantismo como parte de um todo.

Quanto a mim, não partidarizo mais por nenhuma, nem católicos, nem protestantes. Nestas horas lembro-me do velho Paulo (com quem particularmente tenho muitas rixas):

Explico-me:
Cada um de vós diz: Eu sou de Paulo!, ou Eu sou de Apolo!, ou Eu sou de Cefas!, ou Eu sou de Cristo!
Cristo estaria assim dividido?
1 Coríntios 1: 12 – 13ª

Não querido Paulo, Ele não está! 

Ate por que, Jesus definitivamente desburocratizou a nossa conexão com Deus. Segundo jesus, para falar com Deus, basta nos trancarmos na solidão de nosso quarto e seguir as instruções de Gilberto Gil na música abaixo:

 

10 comentários:

Anônimo disse...

Bem interessante o comentário do livro e gostei muito de sua perspectiva na sua caminhada crista. texto muito bem escrito!!! daniel brandao

Hugo Lucena Theophilo disse...

Facundo: o cara que se veste como um marginal...rs. Essa história dá um post. Publica aqui que eu coloco lá no meu também...rs

Weslley (ABU) disse...

Caríssimo George...
Bom saber que você caminha pelas trilhas dos blogs tbm...
Li esse seu texto e gostei muito da lucidez dele. A análise do livro, de si mesmo e da igreja atual.
Gostaria de comentar este trecho especificamente:
"Na igreja (católica e protestante) conheci o que há de mais mesquinho e potencialmente mau em um ser humano, e também conheci gente que transbordava piedade e amor como nunca vi em lugar nenhum."
Costumo dizer às pessoas que a Igreja é um lugar de vida e de morte. Muita coisa boa de minha formaçao vem de lá; e muitas neuras, preconceitos e medos também (que vão se desfazendo, ao passo que tomei consciencia disto.)
Gostaria muito de ver igrejas diferentes (conheço algumas poucas - muito poucas), que caminhassem a caminhada de Cristo e de Jesus (transcendência e imanência), sem puritanismos e mercantilismos, preocupando-se em promover a Vida...
Abraço, mano!

Marlon Marques disse...

Protestantes e católicos fazem parte de um todo cristão como você disse. Não há diferença quanto a idolatrias (em seus contextos) e veneração pelas pessoas. Sou protestante e sempre estarei neste meio cristão, mas respeitando os do outro meio e compartilhando os ensinamentos de Cristo.

Excelente texto, mano! Abração!

Andreia Inoue disse...

repetindo o que os colegas acima escreveram:
parabens pelo excelente texto.A medida que fui lendo fui lembrando de algumas passagens na minha vida dentro do catolicismo (e do protestantimo, sim, frequentei algumas igrejas protestantes, principalmente a batista que eh a que minha mae faz parte),
mais devido a algumas coisas que nao concordo, prefiro nao frequentar uma igreja especifica, prefiro mesmo eh orar em casa, em um cantinho do quarto,acho que tenho uma comunhao muito mais profunda com Ele.
E valeu por compartilhar um pouco da sua vida, suas experiencias conosco,
um abracao.

Roberto Oliveira disse...

Oi George, muito apropriado o texto e comentário!Precisamos de uma reflexão que caminhe na prática do Jesus crucificado. Valeu cara!!Que a paz do Todo Poderoso te ilumine o coração.

VAI NA FE QUE DA! disse...

Opa legal o Post como sempre heim! precisava falar com você, deixa seu e-mail no blog para entrar em contato
Abs

Anônimo disse...

George, vc é uma das minhas grandes influências teológicas... Saudade, véi.
Murilo

Marcy Moreira disse...

Deus te abençoe ainda mais querido! Que texto viu!
Fico feliz por achar em você mais um remanescente que apesar da embasada caminhada da igreja ainda permanece nela, mas não se aliena e nem se conforma. Acredito que se Cristo viesse hoje não passaria longe das igrejas, mas não a pouparia como não poupou os fariseus e ensinaria a essência de sua palavra como fez (sempre ensinava no templo). Assim permaneço também eu na igreja, não me iludindo com um formato ou instituição, mas procurando viver na obediência a Cristo conforme minha consciência é iluminada pela sua Palavra e na medida da experiência do relacionamento pessoal com Deus que a confirma e não causa confusão. Assim permaneço vivendo e ensinando os que ainda estão começando a caminhada. Mas sem pretensões, é Deus quem faz tudo em nós.
Ah! onde encontro o estudo do teólogo Carlos Queiroz, demonstrando o processo de pentecostalização do catolicismo, e a catolicização e umbandicização do protestantismo.?

Naiana Carvalho disse...

No twitter são 140 e não 150 caracteres. hahahaha =P

Ah! Pra não perder o costume... #ficaadica


Um xero monstro!!!