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18 setembro 2012

Resenha (CD's): Los Hermanos - "4" (2005)


Artista: Los Hermanos
Álbum: 4
Ano: 2005
Gravadora: Sony/BMG

"Um disco com menos faixas mas, possivelmente, o mais amplo e abrangente de todos."
Bruno Medina (2005)


Acho feliz esta afirmação do Medina, uma vez que ele de fato foi preciso na avaliação neste disco minimalisticamente intitulado 4.

Muitos vão achar exagero, ou falácia barata de minha parte, mas certamente Los Hermanos é a Legião Urbana dos anos 2000'. Principalmente por uma característica, e essa é relacionada mais a quem curte a banda do que propriamente a musicalidade: Los Hermanos (assim como a Legião em sua época) não tem fans, e sim seguidores!

Certamente essa geração universitária minimamente instruída e apreciadora de boa música certamente vai ter como maior referência a sua estada na graduação os Hermanos. Não à toa, principalmente nos departamentos de humanas, do lançamento do ventura pra cá virou super comum aquela figurinha barbuda e jeans surrado, com uma bolsa a tiracolo, camisa de algodão quadriculada, ostentando uma barba de meses (e de preferência, usando um óculos de grau da Chilli Beans).

Enfim, 4 é um disco que trouxe em si a responsabilidade de ser o sucessor do bem sucedido Ventura (2003). Mas que nada, apesar disso, eles foram pro tradicional exílio num sítio e deram forma as canções deste maduro álbum. E diga-se de passagem, até os fãs, ops, quer dizer, seguidores dos caras estranharam. Muitos só foram digerir o disco depois da quinta audição. Pelo número enorme de referências, e por ser sensivelmente diferente dos outros trabalhos, é até difícil demarcar um ponto comum neste disco. Complexo, denso, existencialista e introspectivo podem ser palavras que pode dar um certo norte. Mas nada ainda muito óbvio.

Neste os metais ficaram de fora, assim como os carnavais e os sambas. Este disco está mais MPB, claro que com uma boa pitada de Radiohead ali e saudosismo acolá. O clima começa soturno, como uma tardinha de frente ao mar ao som de "Dois barcos" e da bossa "Fez-se Mar" (com Fernando Catatau no solo de guitarra), seguindo pelo anoitecer e o mergulho na tristeza e confusão de "Primeiro Andar" e "Os pássaros".  O clima é quebrado pela tropical "Paquetá", pela singela "Morena", o segundo single do álbum depois da ótima "O vento".

"Horizonte Distante" é a mais, digamos, pesada do álbum. Um grito com atmosferas épica na letra. Uma música que, ao vivo, deve ser daquelas onde todo mundo fecha o olho e canta em completo sinal de fanatismo hermaníaco! Expressão exagerada, réu confesso!

"Condicional" é a segunda mais pesada e que poderia ter fechado o disco com chave de ouro. Como um álbum que ia subindo de tom de forma progressiva, com a introspecção melancólica inicial, subindo o clima no meio e com um fim explosivo! Mas não... A força se esvai e aqui entra Marcelo Camelo tecendo as últimas três músicas do disco. "Sapato Novo" e "Pois é" é de um saudosismo de partir os corações mais sensíveis. E quando você está pedindo arrego, vem a última "É de lágrima" e você vai a nocaute com um final soberbo!

Apesar do estranhamento dos fãs e da crítica, o álbum de início vendeu 50 mil cópias. Produzido pelo competente produtor Kassin, que de fato conseguiu tirar dos Hermanos sua essência criativa! E sempre deixa tudo bem caprichado e enxuto!

Eu, como bom apreciador da melancolia, isso acompanhado com uma boa dose de contemplação, tenho neste disco meu predileto do Los Hermanos. É um disco para se degustar de preferência sozinho, à noite deitado no sofá sem muita luz em volta. É um disco que te faz pensar na vida, te faz olhar pra dentro de si. Enfim, é Los Hermanos em sua melhor forma. Ainda mantendo o perfeito equilíbrio entre as composições da dupla Camelo/Amarante que, na soma da obra, conseguem produzir canções que se completam, sem rixas e rivalidades. São músicos que, apesar do hiato enorme desde a gravação deste álbum em 2005, até hoje, mesmo sem estar no Los Hermanos, porém com seus trabalhos paralelos, vêm mostrando a quê vieram.

Enfim, Medina foi totalmente feliz na frase do início: amplo e abrangente. Com referências que podem vir de qualquer parte. E assim, está aí registrado um disco que, com certeza, é um marco na história da música nacional. Lírico, belo e saudoso. Solidão, amor, existência e loucura: temas universais e atemporais! Um disco puramente humano, que certamente tornou o álbum 4 eterno, e irá ainda emocionar muitas gerações!

A PREDILETA:

Quando escutei o Ventura pela primeira vez, fui marcado pela última canção chamada "De onde vem a calma" do Camelo. Senti calafrios de tanto sentimento misturado em minha cabeça pela força que era essa canção que fechava o álbum. Acho que foi um dos melhores encerramentos de álbum (se é que existe essa categoria...) que eu já ouvi em um disco de rock. Porém, quando ouvi pela primeira vez o disco 4, acompanhando faixa a faixa, e escutei o final com "É de lágrima", por Deus, que apoteose sonora! Pesquisando sobre este disco em outros blogs, li até um mais exagerado, comparando esse final com a canção "Eclipse" do Dark side of the moon do Pink Floyd.

Exageros à parte, de fato, melodicamente essa música é magistral. E ela consegue fundir essa bipolaridade sentimental, de altos e baixos, presente em todo o álbum. Apesar de ir sacando qual é a do disco à medida que fui avançando nas faixas, nesta certamente Marcelo Camelo me pegou de surpresa. E que grata surpresa! Enfim, difícil realmente escolher uma música predileta neste álbum; por mim colocaria ele todo em formato full pra se ouvir de cabo à rabo, mas já que tenho que escolher, escolho essa então!

Confira no vídeo abaixo "É de lágrima" do Los Hermanos 4:

Um comentário:

Nathália M. disse...

Mt bom. Álbum lindo e significativo.