Livro: A Bíblia de Jerusalém
Autor: Vários
Editora: Paulus
Paginas: 2206
Minha família é um misto de religiosos católicos e protestantes. Se você, mesmo que superficialmente, é conhecedor do universo que existe no convívio destas duas religiões, já deve imaginar como deve ser o circo.
Dentre as controvérsias ridículas que se discutem, sempre vêm à tona a questão da bíblia, principalmente quando alguém usa de algum argumento retórico baseado nela, seguido do argumento do outro Mas essa bíblia é dos crentes, e não católica... e vice-versa.
Desde criança, o imaginário em torno das histórias bíblicas sempre fizeram parte da minha rotina. Jesus Cristo, mais do que ninguém, sabia contar uma boa história. Tanto que era famoso por suas famosas parábolas, que são utilizadas na nossa linguagem popular até hoje.
Para usar apenas um exemplo, se você passar um bom tempo sem ir à casa de alguma tia ou avó sua, a primeira coisa que ela vai lhe dizer depois de tanto tempo é Olha só, o filho pródigo voltou!
Apesar de sempre gostar de ler a bíblia (pois ela forjou no meu caráter a disciplina de leitura) nunca fui muito chegado à religiosidade de minha família. Quando lia a bíblia queria ler uma boa história, aprender algum princípio legal que me trouxesse sabedoria. E não procurar uma forma de destruir o argumento e idéia do outro.
Por ver tantas conversas idiotas sobre as mais diversas traduções, somado a minha incurável curiosidade, resolvi ler as duas traduções para ter minhas próprias conclusões. Então li a tradução evangélica de João Ferreira de Almeida, e logo depois li a versão católica traduzida pelos Monges Capucchinos.
E a que conclusão cheguei?
Adivinha!?
Era praticamente a mesma coisa!
A diferença era que uma dizia Então Jesus lhes disse e a outra dizia Lhes disse Jesus então.
Tanto numa como noutra o princípio textual era o mesmo.
Claro que há os chamados livros apócrifos nas versões utilizada pelos católicos, mas em nada isto interfere no restante. Além do que, os livros apócrifos também está repleto de boas histórias e bons princípios. Mas por estas não serem aceitas no cânon oficial dos judeus, os protestantes nunca adotaram elas. Outro motivo também foi por que os livros apócrifos foram adicionados na época da contra-reforma, que foi uma ofensiva católica contra a reforma de Lutero, mas isto é uma outra história.
Muita gente já matou ou foi morta por conta da forma como algumas pessoas leram e interpretaram a bíblia. Outras tantas foram diferenciais em momentos de grandes crises morais e humanas e, por influência da bíblia, salvaram e transformaram muitas vidas.
Charles Manson, além da bíblia, tinha no Álbum Branco dos Beatles boa parte da inspiração para cometer assassinatos em série no fim da década de 60. Dentre as vítimas está a atriz Sharon Tate, mulher do diretor de cinema Roman Polanski. E nem por isso você vai achar que ouvir Beatles é nocivo né?
Charles Manson, psicopata americano
que tinha na bíblia e no Álbum Branco
dos Beatles sua maior fonte de inpiração
para assassinar.
Ela (a bíblia) tem esse poder de destruição ou edificação dependendo diretamente dos olhos de quem a lê.
Um filme que pode lhes dar uma boa idéia do que estou falando é O Livro de Eli.
Mas então? Tudo isto torna a bíblia detestável?
Muito pelo contrário. Isso a torna fascinante!
Eu costumo dizer que a bíblia é o livro não lido mais comentado no planeta. Pois todos tem uma opinião sobre ela, mas poucos de fato a leram. Neste público, certamente está incluído boa parte dos cristãos brasileiros.
Mas, acima de todas estas controvérsias religiosas ou embates em torno de veracidade histórica Vs. mitologia, a bíblia é um livro que merece ser lido. Ela conta a história de Deus e de um povo. Povo esse composto por personagens ridiculamente humanos, com virtudes e defeitos, e, exatamente por isto, extremamente fascinantes.
Acho que, independente se você é religioso ou não, ou se você a encara como algo real ou fictício, a leitura deste conjunto de livros deveria ser obrigação para todo amante da leitura assim como clássicos da literatura grega antiga e obras-primas mais contemporâneas como Dom Quixote, Crime e Castigo, O Senhor dos Anéis, etc.
Enfim, quanto a estas questões acho que não tenho mas nada a lhes acrescentar.
Filme O Livro de Eli
O Bem e o Mal estão nos olhos de quem lê!
Então, vamos ao livro! Finalmente!
Logo no texto de introdução desta A Bíblia de Jerusalém li algo que, de cara, me chamou a atenção:
Após três anos de árduo e intenso trabalho, realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes e por um grupo de revisores literários, pudemos entregar ao público a tradução do Novo Testamento. Cinco anos mais tarde, as mesmas equipes tinham ultimado a tradução do Antigo Testamento. Assim os leitores puderam ter acesso à Bíblia de Jerusalém em sua edição integral.
Esta louvável sinergia entre católicos e protestantes no trabalho de tradução logo me instigou. Existem várias traduções da bíblia em português. E digo logo que todas elas (incluindo esta da qual eu resenho) tem muitas imprecisões e erros.
O diferencial neste projeto é que, já que se trata de uma ação conjunta, têm-se a idéia de que eles não são levados por proselitismo e intenções tendenciosas de fazer a tradução favorecer mais a um grupo em detrimento de outro, ou outros, já que o cristianismo é, sem sombra de dúvida, uma das religiões mais ramificadas que existem.
Não estou dizendo que ela não é tendenciosa nem têm lá suas imprecisões. A diferença é que, se tiver, elas não são tão absurdamente gritantes como muitas outras. E o que senti na leitura dela foi que essa sinergia de estudiosos foram motivadas por uma sinceridade acadêmica na busca de uma boa tradução.
Sou um amante confesso da bíblia, não só como leitor de fé, mas também como um fã literário. Acho importante, principalmente para os aventureiros do campo da teologia, terem pelo menos umas 5 traduções da bíblia, pelo motivo da diferença entre linguas serem muitas e, tanto no grego quanto no hebraico, a tradução estar sujeita a tanta controvérsia, pois um termo em grego ou hebraico pode ter uma infinidade de significados na lingua portuguesa.
Nesta Bíblia de Jerusalém, por vezes, os tradutores se preocupam tanto com a questão do sentido exato que se perde a poesia que se têm em traduções mais populares. As notas de rodapé e as introduções dos livros se preocupam em esclarecer a historicidade e muitas vezes até as dificuldades de tradução em cima de falhas nos fragmentos originais, e não há tentativas forçosas em dar interpretações, à exemplo de outras bíblias de estudos.
Li esta Bíblia de Jerusalém num período de quase 2 anos. E não me arrependi.
Como todo aventureiro que se coloca a ler a bíblia, me cansei algumas vezes, me empolguei outras tantas e hoje, finalmente, concluí a leitura. E certamente vou adotá-la como bíblia de referência!
Então, para os pretensos candidatos a enfrentar 2206 páginas, ou para aqueles que querem uma bíblia que tenha uma certa exatidão ou aproximação do original, eis aí o livro!
Boa Leitura!
9 comentários:
Confesso que também nunca li a bíblia toda. Li várias partes, mas de maneira muito fragmentada. Faz pelo menos uns cinco anos que adio uma leitura completa... Bem, a tradução que tenho, por enquanto, é a do Almeida. E comentando o conteúdo histórico e literário, você tem toda razão! A bíblia não deixa de ser um clássico, mas,além disso, pode produzir efeitos que vão além de qualquer literatura comum... E quanto ao seu estilo, existem uns livros que possuem uma poesia belíssima! Pretendo, sim,ler a bíblia toda ainda, e mais, estudar o seu conteúdo histórico. Gostei da dica e vou procurar comparar traduções também! Beijo. Gostei do blog, facundo: aquele que tem facundia!!! :D
De História da Filosofia para Bíblia Sagrada. Adorei a ecleticidade literária, rsrsr.
Mas é incrível como a bíblia é fascinante,intrigante, apaixonante e polêmica. Tudo ao mesmo tempo agora.
Esse post me lembrou do meu objetivo não alcançado ainda: o de ler a bíblia toda!Vamos lá!
eu nunca li a biblia inteira,li alguns livros do antigo testamento e todos do novo.
E concordo com vc nessa questao que muita gente briga sem nunca ter lido,hahaha...e nao vejo diferenca entre a biblia catolica da protestante,apenas que em uma tem uns livros a mais e so.
abracao.
Gente assim é outra coisa né, começar ouvindo logo Pink floyd. a primeira coisa que ouvi foi Nirvana por causa do meu tio, mas logo depois (não me pergunte como) começei a conhecer outras coisas de boa qualidade(axo).
Agora tô ouvindo mt o Barret, tinha uns álbuns dos outros mais perdi td quando formatei o pc, e agora, baixando td de novo!!
Mas o Barret é show!!
E não tava sabendo sobre o outro concerto do The wall não, vou procurar me inforar nos sites!!
E sobre teu post, agora fiquei ainda mais impressionada, Por duas coisas. Primeiro por vc ter lido as duas biblias inteiras, juro que tentei pelo menos uma e li quase toda. A outra coisa é que pensei mesmo que vc fosse religioso, confundi teu interesse co religiosidade, efim, acontece.
Bjãoo e até mais!
Facundo,
deixei uma sugestão para você no blog, em resposta ao seu comentário!!!
mais um pouquinho e seu post também iria precisar de uma resenha!!! kkkk
(brincadeirinha de quem se acostumou com os 140 caractéres do twitter!!!)
beijo
George, já tinha lido muito da Bíblia, mas acho que esse seu texto me abriu uma dimensão totalmente nova.... valeu! Murilo
Facundo, Parabéns pelo texto. Comecei a ler e nao queria mais parar. Gostei da maneira como tratou a importancia da leitura bíblica e pude notar o quanto isso gerou motivação para esta longa e deliciosa leitura entre os seus amigos de Blog. De fato, a Bíblia é um livro impactante e fascinante, porém pouco lido, embora muito discutido como vc mencionou. Recentemente, por estar fazendo seminário teológico, comprei um exemplar da Bíblia de Jerusalém e posso dizer que por ter sido traduzida diretamente de manuscritos originais, esta é uma tradução excelente para o estudo aprofundado, sem desmerecer o trabalho dos demais tradutores conhecidos. Gostei demais do seu texto. Que Deus te abençoe!
Ah! Quanto aos livros apócrifos que você muito bem mencionou, de fato eles estão presentes na Bíblia de Jerusalém por ter sido um trabalho em conjunto realizado por protestantes e católicos. Embora esses livros tenham sido considerados canônicos na Contra-Reforma (1546 - Concílio de Trento), os mesmos pertencem à literatura histórica judaica e alguns deles foram escritos no período inter-testamentário. Embora nem judeus nem protestantes os considerem canônicos, os livros de Tobias, Judite, Baruc, 1 e 2 Macabeus, Eclesiástico e Sabedoria, são importantes fontes históricas e culturais para consulta.
Além da Biblia Sagrada, Torá e tantos outros livros que fazem parte de mim, a 4 meses comprei a Biblia de Jerusalem! A biblia contendo os livros da igreja catolica nos serve de fonte para melhorar nossos conhecimentos religiosos! Leio, releio e recomendo!
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