Livro: romeu@julieta.com.br
Autora: Telma Guimarães
Editora: Saraiva
Páginas: 79
O termo teen é usado para determinar humanos habitantes das zonas urbanas com idade entre 10 e 17 anos.
Este público específico é responsável por boa parte do que sai de capital ($$$) das carteiras dos humanos chamados adultos (período que geralmente começa após os 25 anos e termina num infarto fulminante em torno dos 70).
Na relação entre estas duas fases da vida dos humanos existe a chamada Indústria do Entretenimento, que tem por função vital induzir os teens a comprar um determinado produto num dia x e, obrigatoriamente, convencê-lo de que o produto é ultrapassado um mês depois.
Daí se forma a seguinte equação:
xd + 30d = ei mãããeeeeeee! Meu celular não filma em HD! Que drooooga! Quero celular que filma em HD!
O nome deste ciclo contínuo de adquirir algo e achá-lo descartável depois de um mês chama-se Consumo.
A principal arma da Indústria do Entretenimento para fazer os teens infernizarem a vida dos adultos chama-se Propaganda. A Propaganda usa de vários elementos para atingir seus obtivos. Dentre os quais se destacam: redes de televisão, rádios, eventos, propagandas urbanas, cinemas, mulheres gostosas trangênicas, e claro, não podemos esquecer o novo grande elemento desse time dos sonhos, a Internet!
p.s.- sobre o parágrafo acima: a internet, assim como mulheres gostosas trangênicas, é veículo de comunicação de massa à tempos recentes (menos de 15 anos). Claro que a propaganda, desde os primórdios, usava mulheres. Mas ao contrário das trangênicas, elas eram só gostosas.
Abaixo, típico teen sobriamente interligado:
Continuando...
Diante deste bombardeio de informações e apelos com vida curta de um mês, onde ficam os livros?
Vou logo direto ao ponto porque estou aqui para comentar um livro.
Pelo menos é esta a proposta.
E toda esta baboseira pseudo-esclarecida que discorri no começo desta resenha é tão somente para perguntar:
Por que aqui no Brasil ler livros ainda é algo tão exótico, cult e diferente?
E o por quê que, para o europeu, por exemplo, ler é tão normal quanto jogar xadrez, transar, suicidar-se, beber cerveja quente, fazer necessidades fisiológicas, gostar de Franz Ferdinand ou manter a filha em cativeiro no porão de casa por 23 anos?
É verdade que muita gente tem o costume de ler. Porém, comparando a proporção de leitores junto a grande massa populacional brasileira, é ainda um número pequeno, o que coloca os adeptos da leitura na categoria de undergroud.
Diante disto atrevo-me a blasfemar o seguinte:
Os críticos podem descer o cacete em autores como Paulo Coelho, Rowling, Mayer e genéricos. Mas penso que as aventuras (em sua grande parte bem medíocres) da obra auto-ajuda-exotérica de Paulo Coelho, a série Crepúsculo e o imbatível Harry Potter, têm papel fundamental para, quem sabe, serem portas de iniciação dos teens ao maravilhoso mundo da leitura.
Digo isto porque sou um assíduo usuário (não voluntário!) de transporte público. E fico fascinado ao ver no busão a grande quantidade de adolescentes com estas obras em mãos indo para a escola.
Sobre isto não tenho mais nada a acrescentar...
* * * *
E aqui oficialmente começo a resenha do livro romeu@julieta.com.br!
Voltando os olhos para nosso celeiro tupiniquim, tive o prazer de ter em minhas mãos um criativo livro da autora Telma Guimarães.
Criativo pelo fato dela retratar um pequeno recorte da vida de um típico teen chamado Romeu (apelido Meuzão com nick Mettallica) que, como todo carinha de sua idade, tem em sua rotina uma vida colegial e virtual muito movimentada; temperada a muita azaração e (óbvio!) o sonho de todo garoto desta idade em ter uma banda de rock. Afinal, quem nunca ficou ouvindo Led Zeppelin na sala de casa usando um cabo de vassoura como guitarra se sentindo o último Jimmy Page do deserto?
Telma Guimarães consegue retratar a narrativa intercalando o mundo virtual e real de Romeu. É divertidíssimo as janelas de bate-papo que ela criou ocupando os espaços das páginas do livro mostrando para o leitor como Romeu desenvolve suas relações virtualmente.
Telma Guimarães
Ressaltando que o livro é de 1998, naquela época o MIRC tava bombando; e a conexão ainda era pela linha telefônica. Ou seja, se alguém tirasse o telefone do gancho puf! a conexão caía.
Então, para caras como eu que era um semi-pós-adolescente em 98, a leitura trará muita nostalgia. Principalmente pelos tipos de programas descrito pela autora.
Devido a velocidade com que o mundo virtual se tranforma, a autora deveria a cada cinco anos reformular os termos técnicos do livro. Como por exemplo trocar a janela de bate-papo do MIRC por um Messenger.
Enfim, achei muito criativo o livro de Telma Guimarães. Ela conseguiu colocar no papel uma dinâmica de narrativa que tornou a leitura muito prazerosa. Você nem sente que está lendo!
E que mais autores brasileiros tenham coragem de escrever livros para este público específico.
Aliás, devem até ter bons autores no Brasil para este público. Eu é que sou um completo ignorante nesta categoria de escrita literária. Réu confesso!
A todos uma boa leitura!