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05 abril 2015
Resenha Livro's: De Todo Coração - Vivendo a plenitude do amor ao Senhor
Livro: De Todo Coração - Vivendo a plenitude do amor ao Senhor
Autor: Luciano Subirá
Ed. Orvalho
207 páginas
Desde o natal de dezembro de 2014, eu e minha esposa estamos frequentando uma igreja Batista aqui perto de casa.
Quem pensa que eu sou um cara que é contra a igreja se engana. Muito pelo contrário. Quando falo sobre o movimento evangélico no Brasil, e as atitudes bizarras que estes tomam politicamente e religiosamente, não caio no erro de generalismos. Acredito na igreja, aquela que inclusive está na "igreja", e fora dela, espalhados por este Brasil.
E sempre quis encontrar uma igreja aqui perto da minha casa que fosse saudável, e no qual, mesmo não sendo membro, me permitisse conviver, abençoar e ser abençoado por ela. Encontrei essa igreja que tem um engajamento com a comunidade local e uma família pastoral bastante sincera, simples e piedosa.
E a conexão com essa comunidade de fé tem me abençoado muito. E tenho tido o prazer de ter muitas trocas de saberes. Emprestei alguns livros do Philip Yancey pra alguns membros. E um deles, o irmão André, me emprestou esse livro do Luciano Sabirá. E como eu não tenho preconceito com nada, e só avalio uma coisa depois que de fato eu leio, degustei cada folha deste livro.
O presente livro foi escrito em 2009, fruto direto de uma geração evangélica no Brasil, encabeçados por ministérios como Lagoinha, David Quinlan, dentre muitos outros, que trouxeram para o centro do debate e vivência nas igrejas o conceito, estilo e estética do que, segundo eles, é ser adorador. Então a adoração virou o centro de muitos movimentos cristãos em todo o Brasil. Aquela música que te levava para outra atmosfera, lhe trasportava por uma viagem transcendental com o Criador, etc. Muitos eruditos da música cristã tachavam esses sons e essas posturas como "mantra gospel", "adoração sentimentalóide" etc. Concordo em muitos aspectos desta crítica. Uma vez que acredito que a adoração transcende as emoções e sensações. Tive contato com grupos como Jocum - "Jovens com uma missão" e GAP "Grupo de Adoração ao Pai" (aqui em Fortaleza mesmo) e pude ver aspectos péssimos e bons desse estilo "revolucionário" de ser adorador.
Muita gente, amigos meus queridos, que entraram de cabeça em toda essa carga emocional dessa chamada "geração extravagante" de adoradores, movidos pelo mesmo sentimentalismo, hoje não querem nem saber de cristianismo, igrejas e coisa parecida. A realidade as vezes pode ser tão brutal que nem o maior dos sentimentos, se não embasados em uma base sólida e firme de fé e estudos, pode suportar.
Ao mesmo tempo, por um outro lado, não podemos ficar na frieza de mesas de estudos achando que o conhecimento em si mesmo já basta. Óbvio que Deus tem múltiplas maneiras de se chegar a uma pessoa. O próprio apóstolo Paulo, tido com um grande erudito e sagaz articulador das palavras, não foi convencido através de discurso, e sim através de uma experiência mística. (Atos 9)
Não ignoro as experiências sobrenaturais e místicas no cristianismo. Só reforço que elas por si só não é o bastante para a qualidade da espiritualidade vivenciada. Disciplinas espirituais por exemplo e uma obediência a princípios em meios hostis é algo que está para além de qualquer sentimentalismo. É algo moldado em postura baseado em uma convicção firme.
O livro fala de experiências de Deus falando audivelmente no ouvido de cristãos, nos moldes bíblicos. Propõe que é possível sim vivenciar hoje experiencias semelhantes aos homens de Deus na bíblia. Não duvido. Também não acato de um todo. Principalmente para mim que nunca tive tanto contato com o aspecto sobrenatural da fé. E também já vi muita gente entrando em roubada por conta de alguém falar categoricamente "Deus me disse isso e aquilo...".
O grande problema desse último exemplo é por se criar um bloqueio quanto a isso e, de repente, quando e se Deus falar de verdade através de alguém, eu já ter uma certa resistência quanto a isso.
O livro aborda a ideia de que, quando você faz uma entrega pessoal, ou percebe a verdade revelada em Jesus, todos os outros assuntos na sua vida é secundários e coadjuvantes na vida do discípulo. E chama o leitor para uma caminhada real com o Jesus, e não apenas uma fé de ocasião.
Enfim, acho o livro positivo. Ele não fala de questões alienantes da "adoração". Mas tenta trazer a tona aspectos de uma adoração genuína, reforçando a ideia de um Deus vivo e pessoal que sim, caminha conosco e interfere em nossa vida, se relaciona e compartilha de seus sentimentos conosco.
Eu mesmo, rato de mesa de leitura que sou, tenho que também explorar esses aspectos mais transcendentais de minha fé. As disciplinas espirituais (como jejum, meditação, solitude, oração) estão me ajudando muito nisso. Mas ainda tenho muito o que caminhar neste aspecto. E o presente livro sensivelmente conseguiu me instigar pra esse aspecto.
Agora, não é um livro que particularmente eu compraria. É daqueles livros beeeeem devocionais, um Pão Diário de pouco mais de 200 páginas. É um livro muito bom para os jovenzinhos "oba oba" de plantão que tem na igreja muito mais um entretenimento baseado na sociabilidade de jovens descolados do que uma convicção nos caminhos de Jesus. E acho que, acreditando que o conhecimento de Deus é progressivo na caminhada de qualquer cristão, o cara em seus 2 primeiros anos de fé tem que ler livros como esse. Faz parte do be-a-bá do crescimento nos caminhos de Jesus.
Mas mesmo assim, isso não impediu que um macaco velho igual a mim, com o coração aberto, aprender alguma coisa e isso trazer-me a necessidade de cutucar outros aspectos até então adormecidos em minha fé.
28 março 2015
Migalhas Teológicas: Minha opinião "provisória" sobre os gays e o cristianismo
Notícia no site oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB): "Agora gays podem casar na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA)
Link: http://ipb.org.br/informativo/agora-gays-podem-casar-na-igreja-presbiteriana-dos-estados-unidos-pcusa-3972
Esta notícia é antiga. Data de Junho de 2014.
Fiz questão de mostrar essa notícia pelo site oficial da Igreja Presbiteriana no Brasil (IPB), por que, em detrimento de qualquer discordância teológica em um ponto ou outro, tenho bons e queridos amigos presbiterianos espalhados por todo esse Brasil, e sei que isso não é um tema fácil.
Hoje, um dos temas que mais me faz estudar sobre os trâmites da minha fé é a questão gay. Primeiro porque tenho inúmeros amigos e amigas gays que, sim, querem e desejam ter uma conexão genuína com sua espiritualidade e, por conta de sua orientação sexual, foram rejeitadas por igrejas, digamos, convencionais. E acreditem, são muitos! Amigos das igrejas chamadas "inclusivas" devem ter centenas de histórias de casos dessa natureza para contar.
Suponhamos (eu disse "suponhamos") que realmente o caminho para se chegar a Deus seja de fato a leitura "literalista" da bíblia. Será que um sujeito pode estar doutrinariamente correto, com conceitos bíblicos bem enxutos e amarrados, e mesmo assim estar equivocado em sua postura para com o pecador? E principalmente, com aqueles pecadores que eles julgam terem pecados mais graves e que merecem mais evidência que outros? Pois é... O que eu fico indignado é isso! Me causa muita revolta e repulsa quando vejo a igreja, no que diz respeito à homossexualidade, ser literalista e fundamentalista, mas no que diz respeito à sexualidade dos héteros por exemplo, ser flexível, fazer leituras históricas e tal. Não à toa temos o Silas Malafaia (Pastor da Assembléia de Deus e, segundo a revista Forbes, milionário) celebrando o terceiro (eu disse terceiro!) casamento do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). E o deputado Magno Malta (PR-ES), também árduo militante anti-gay, está no seu segundo casamento, com uma jovem cantora gospel, que também deixou seu marido para ficar com ele.
Tanto Malafaia, quanto Bolsonaro e Magno Malta fazem parte da linha de frente desse cinturão bíblico fundamentalista que declara guerra aos direitos de casamento civil (eu disse civil, que dirá religioso) dos gays não economizando expressões de fúria em suas falas e gestos.
Pergunto de novo: Alguém pode estar "em tese" teologicamente correta e, ainda assim, sua postura ser bizarramente equivocada?
Ou seja, mesmo que esses caras estivessem corretos teologicamente, a postura dos mesmos para com esse "público" em especial é um espetáculo midiático de ódio e intolerância. E passam uma falsa imagem de que representam a comunidade evangélica no Brasil que podem até teologicamente pensar a mesma coisa, mas na postura certamente vão ter mais piedade, compaixão, paciência, misericórdia, mansidão, frutos do Espírito que, ao que parece, faltam um pouco a esses senhores.
p.s. - deixando claro, nenhum dos acima citados são Presbiterianos.
Não estou falando isso por ser contra divórcio nem nada disso. Como se eu quisesse justificar "um pecado citando outro". Muito pelo contrário. Poxa, tá infeliz no casamento, tentou todas as formas de conciliação e não deu certo? Vai ficar a vida toda com alguém por quem não tem mais atração nem afinidade? Então o caminho é o divórcio. Pera lá, mas a bíblia é absolutamente contra o divórcio e, principalmente, que o divorciado se case de novo. "Há gente, não podemos ser tão literais assim, vamos aqui analisar o contexto..." E aí temos dois fundamentalistas (um celebrando o casamento, e o outro se casando) apelando para o "liberalismo", ou "relativismo bíblico" para defender algo de seu próprio interesse, que é ser realizado humana e sexualmente com uma parceira que lhe faz feliz e ainda assim sem perder a conexão com Deus.
E por que com os gays tem que ser diferente? Se formos literalistas, então um gay não é tão pecador quando um divorciado, e principalmente, do divorciado que se casa de novo?
Pode ser que sim ou pode ser que não. Depende da lente com a qual você lê o texto sagrado.
Eu posso até concordar com você mais conservador (e digo isso a duras penas, confesso!) que a bíblia é a Palavra de Deus. Inerrante! Intocável! E que deve ser lida letra por letra sem questionar nada! Ainda assim, digo para você que "pode até ser". Porém, o olhar humano sobre ela no decorrer da história não é... Definitivamente!
Então se você tem dificuldade de relativizar o que está escrito na letra (que mata! 2 Co 3.6), relativize pelo menos o olhar humano no decorrer do tempo. Porque o que você interpreta hoje como verdade bíblica inabalável é nada mais nada menos que a soma (e evolução nessa leitura) de inúmeros pensadores bíblicos até chegar nesse olhar que você tem hoje. A verdade bíblica não foi passada como telefone sem fio (Até porque se fosse assim, a bíblia chegaria a nós com uma visão muito mais deformada do que está hoje). Mas sim através de incontáveis exercícios de escritos e reflexão. Uns aderidos, outros rechaçados. Outros rechaçados e queimados em praça pública.
Você, por mais conservador que seja, se comparado com um fundamentalista do início do século passado, ou da Idade Média, certamente seria rotulado de liberal e apóstata.
Como foram condenados como liberais e destruidores da família e dos bons costumes os cristãos do norte dos EUA pelos cristãos do sul por conta de os primeiros acharem uma aberração e anticristão o cidadão poder possuir escravos. Mesmo Paulo tendo uma versão claramente moderada sobre isso em suas epístolas, tratando a escravidão como uma questão cultural comum, apenas aconselhando os senhores de escravos a terem um olhar mais humano sobre eles, dizendo que estes também (e apesar de escravos) são irmãos em Cristo.
Peraí, Paulo era a favor da escravidão?
No contexto de Paulo a escravidão era socialmente aceitável. Apesar de ser bem diferente do contexto da escravidão africana, não deixava de ser escravidão. E Paulo foi um cara que, dentro daquele contexto, foi muito iluminado, humanizando e elevando o escravo à condição de filho de Deus tal qual seu dono. Na dúvida leia a carta que Paulo manda a Filemon, intercedendo de forma tocante em favor do escravo Onésimo.
Gostou da contextualização histórico-cultural? Acabei de livrar a cara de Paulo: passou de um "conivente com a escravidão" para um cara com uma mente à frente de seu tempo. No primeiro caso, Paulo serviu como baliza à qual os cristãos escravocratas do sul dos EUA se agarraram com unhas e dentes, e no segundo foi a bandeira dos cristãos do norte dos EUA.
Podemos dizer então que o que gerou uma comoção nos EUA para entrarem em uma guerra civil foi um lado de cristãos acreditar que o outro estava completamente equivocados em seu fundamento bíblico para manter o regime desumano de escravidão. E lutaram não só por um tratamento humano aos escravos, mas por uma libertação total dos escravos. Neste quesito eles conseguiram ir além do próprio Paulo, mesmo a bíblia, de forma geral, aceitando a escravidão como algo socialmente aceitável.
Tá vendo como nem tudo é preto no branco?
Não podemos ler a bíblia como se lê um código civil-penal. Atendo-se às palavras como um conjunto de regras do que pode ou não se pode fazer (como os fariseus faziam). Devemos olhar a bíblia analisando sim textos e contextos, e principalmente, o princípio que está por trás das palavras. Saindo das amarras de uma leitura de olhar frio e pretensamente preciso, para esquentar nosso coração sabendo que o que está em jogo é outro ser humano, com seu contexto, vida, sentimentos, etc. tal qual Jesus fazia.
"A lei foi dada por meio de Moisés, mas o amor e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo." (João 1. 17)
Aliás, não é preciso ser um gênio em teologia para perceber que Jesus pegava muito mais pesado com os estudiosos da Lei que colocavam a letra que mata acima da dignidade humana das pessoas. Jesus ousou trazer um novo olhar sobre a letra que mata, lendo ela sob a lente do Espírito que vivifica. De fato, a letra matou-o crucificado. Porém, o Espírito o vivificou.
Tudo textos e contextos!
Então por que, no que diz respeito à questão gay, a gente sequer pode dar uma chance de ponderar alguns argumentos? Como se Deus, o Todo Poderoso, pudesse ser domesticado dentro de nossa limitada grade de doutrinas e convicções?
Uma querida amiga de confissão presbiteriana tempos atrás me adivertiu in box:
"Eu sei que você lê a bíblia e tem suas convicções. Mas realmente tenho me sentido incomodada com umas postagens suas sobre o homossexualismo e Deus não ser tão conservador quanto parece ser. Rapaz, assim como qualquer outro pecado, se você acha que o homossexualismo é certo e correto, repense bem antes de passar para as pessoas como se você fosse cristão e seguisse a bíblia."
E deixou claro na mensagem que não estava sequer interessada no que eu tinha a dizer sobre isso:
"Você vai me contra argumentar com mil palavras porque você é uma pessoa que sabe usá-las muito bem... (...) Como disse (...) não tô a fim de discutir sobre isso... Apenas te fazer pensar, mas isso cabe a ti."
Por um lado, eu entendo perfeitamente a preocupação de minha amiga. Contextualizei suas palavras e sei que, não é uma manifestação contra mim. O princípio dessas palavras é uma genuína preocupação comigo, com as pessoas que me leem, e principalmente, com sua própria cosmovisão de fé, herdada de uma longa tradição de bons e piedosos presbiterianos na família dela.
Só digo que é possível sim uma pessoa repensar esse contexto e, ainda assim, se considerar cristão e seguidor da bíblia. Claro que, de um lado e de outro, qualquer questão fechada ainda é uma atitude equivocada e prematura. O universo teológico ainda tem muito o que debater e dialogar sobre esse tema. O Papa Francisco já está dando sensíveis passos na direção de pelo menos demonstrar amor, tolerância e compaixão pelo pecador em detrimento do pecado, recebendo grupos GLBTS no Vaticano para dialogar. A igreja brasileira conservadora não tem sido muito cirúrgica em saber separar essas duas dimensões. Que dirá dialogar sobre outras possibilidades de leitura e interpretação bíblica.
A não ser que me provem que minha esposa Lorena é na verdade um travesti que fez mudança de sexo e mudou o nome da identidade, eu não sou gay. Portanto não advogo em causa própria. Faço apenas o exercício de "amar o próximo" como a mim mesmo, fazendo assim um exercício sincero de me colocar no lugar do outro, e sendo sensível às questões afetivas de amigos que amam a Deus sinceramente, têm uma relação com um companheiro ou companheira baseada em princípios de amor, fidelidade, lealdade, mais até que de muitos casais héteros que eu conheço, e que desejam profundamente apesar disso serem aceitos e ativos participantes nas comunidades de fé de confissões protestante-evangélicas e católicas.
Confesso que essa questão para mim ainda não é fechada. Tenho muito que ler e estudar ainda antes de fechar essa questão em minha mente. Mas não estou sozinho, pois vejo claramente que esta questão não é unanimidade na igreja cristã no mundo. Então não podemos simplesmente bater o pé de forma infantil e dizer "não e não" sem antes nem considerar outras leituras e argumentos. Eu só formo uma opinião quando de fato observo todos os argumentos possíveis e, diante disso, deixo minha sensibilidade escolher a opinião que a meu ver é a mais sensata.
Não tenho problema nenhum em ter um olhar crítico sobre a bíblia. O próprio Lutero também teve, quando esbravejava raiva sem fim sobre a carta de Tiago, chamando-a de "Epístola de palha". Pois a considerava uma afronta a ideia defendida por ele da salvação pela graça, perspectiva esta que ia contra a meritocracia defendida pela igreja católica medieval.
Gostaria de lembrá-los que esse fundamentalismo bíblico nasceu nos EUA, na primeira década do século passado (portanto, é uma postura bem nova), por conta de um julgamento conhecido como caso John Scopes (Consultem o São Google) que tratava da questão de abolir ou não o ensino do criacionismo nas escolas. Só depois da comoção midiática gerada por conta desse julgamento foi que surgiu o chamado Cinturão Bíblico Americano, onde, em contraponto às ideias liberais, os cristãos sulistas (sempre eles!) se fecharam num literalismo e conservadorismo baseado muito mais no medo e na raiva que propriamente numa reflexão equilibrada. George W. Bush é um filho direto dessa geração de cristãos.
Na notícia que postei do site da Presbiteriana do Brasil (que repudia totalmente a Presbiteriana americana com linha de pensamento mais liberal) me preocupa o fato do autor conclamar a Igreja a ir contra o diálogo, tratando a iniciativa da Presbiteriana americana como apostasia, fruto de seminários que se deixaram infiltrar (contaminar) por professores de pensamentos "liberais".
O mesmo artigo termina dizendo:
"Acredito que a única medida preventiva é não abrirmos mão da legitimidade e aplicabilidade dos valores e dos ensinamentos bíblicos para todas as épocas e culturas. Isto nos permitirá sempre fazer uma crítica da cultura a partir do referencial da Palavra inspirada e infalível de Deus. Foi quando a PCUSA subjugou a Bíblia à cultura que a lata de minhocas foi aberta. A Bíblia passou a ser julgada pela cultura. Vai ser difícil para liberais, neo-ortodoxos, libertinos e outros grupos no Brasil, que de maneiras diferentes colocam a cultura à frente da Bíblia, resistir à pressão."
Finalizando com a sentença:
"Quem viver, verá."
Pelo visto, muitos bons e piedosos professores de seminário, que estudaram anos a fio pra dar um conteúdo de qualidade aos alunos para além da doutrinação eclesiásticas seja lá de qual denominação for estão com suas carreiras acadêmicas ameaçadas. Jogaremos anos e anos de reflexão teológica na lata do lixo. Domesticaremos monografias, dissertações de mestrados e teses de doutorados teológicos à grade de doutrinas e confissões de fé das denominações. E certamente isso será um grande retrocesso na nossa jornada em direção a uma maturidade equilibrada, baseado na troca de ideias e não de ofensas e ameaças.
Então meus amigos, abramos os olhos e o coração. O debate e diálogo da questão gay está para além do que estes fazem ou deixam de fazer com suas genitálias.
Está em jogo uma clara ameaça ao maravilhoso e fascinante exercício do livre pensar construído através do penoso sacrifício de inúmeros pensadores cristãos que ousaram sair da normalidade de leitura sugerindo outras opções. E por conta disso foram queimados, perseguidos, exilados, e, a exemplo de Rubem Alves e Leonardo Boff, expulsos de suas denominações.
Enquanto isso eu sigo nesta situação incômoda: Taxado como "liberalzinho-progressista" pela igreja e "conservador e retrógrado" por quem não é religioso. Sinto uma clara sensação de inadequação dos dois lados.
Fazer o que né?
Para ambos os lados, acho que o caminho mais sensato é um diálogo maduro. Sem levar as diferenças para o lado pessoal como se fosse questão de matar ou morrer.
A teologia brasileira tem uma longa e árdua jornada pela frente...
"É bom não radicalizar e ter equilíbrio. Quem teme a Deus evita extremos, porque vê os dois lados da moeda" (Eclesiastes 7. 18)
Você, por mais conservador que seja, se comparado com um fundamentalista do início do século passado, ou da Idade Média, certamente seria rotulado de liberal e apóstata.
Como foram condenados como liberais e destruidores da família e dos bons costumes os cristãos do norte dos EUA pelos cristãos do sul por conta de os primeiros acharem uma aberração e anticristão o cidadão poder possuir escravos. Mesmo Paulo tendo uma versão claramente moderada sobre isso em suas epístolas, tratando a escravidão como uma questão cultural comum, apenas aconselhando os senhores de escravos a terem um olhar mais humano sobre eles, dizendo que estes também (e apesar de escravos) são irmãos em Cristo.
Peraí, Paulo era a favor da escravidão?
No contexto de Paulo a escravidão era socialmente aceitável. Apesar de ser bem diferente do contexto da escravidão africana, não deixava de ser escravidão. E Paulo foi um cara que, dentro daquele contexto, foi muito iluminado, humanizando e elevando o escravo à condição de filho de Deus tal qual seu dono. Na dúvida leia a carta que Paulo manda a Filemon, intercedendo de forma tocante em favor do escravo Onésimo.
Gostou da contextualização histórico-cultural? Acabei de livrar a cara de Paulo: passou de um "conivente com a escravidão" para um cara com uma mente à frente de seu tempo. No primeiro caso, Paulo serviu como baliza à qual os cristãos escravocratas do sul dos EUA se agarraram com unhas e dentes, e no segundo foi a bandeira dos cristãos do norte dos EUA.
Podemos dizer então que o que gerou uma comoção nos EUA para entrarem em uma guerra civil foi um lado de cristãos acreditar que o outro estava completamente equivocados em seu fundamento bíblico para manter o regime desumano de escravidão. E lutaram não só por um tratamento humano aos escravos, mas por uma libertação total dos escravos. Neste quesito eles conseguiram ir além do próprio Paulo, mesmo a bíblia, de forma geral, aceitando a escravidão como algo socialmente aceitável.
Tá vendo como nem tudo é preto no branco?
Não podemos ler a bíblia como se lê um código civil-penal. Atendo-se às palavras como um conjunto de regras do que pode ou não se pode fazer (como os fariseus faziam). Devemos olhar a bíblia analisando sim textos e contextos, e principalmente, o princípio que está por trás das palavras. Saindo das amarras de uma leitura de olhar frio e pretensamente preciso, para esquentar nosso coração sabendo que o que está em jogo é outro ser humano, com seu contexto, vida, sentimentos, etc. tal qual Jesus fazia.
"A lei foi dada por meio de Moisés, mas o amor e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo." (João 1. 17)
Aliás, não é preciso ser um gênio em teologia para perceber que Jesus pegava muito mais pesado com os estudiosos da Lei que colocavam a letra que mata acima da dignidade humana das pessoas. Jesus ousou trazer um novo olhar sobre a letra que mata, lendo ela sob a lente do Espírito que vivifica. De fato, a letra matou-o crucificado. Porém, o Espírito o vivificou.
Tudo textos e contextos!
Então por que, no que diz respeito à questão gay, a gente sequer pode dar uma chance de ponderar alguns argumentos? Como se Deus, o Todo Poderoso, pudesse ser domesticado dentro de nossa limitada grade de doutrinas e convicções?
Uma querida amiga de confissão presbiteriana tempos atrás me adivertiu in box:
"Eu sei que você lê a bíblia e tem suas convicções. Mas realmente tenho me sentido incomodada com umas postagens suas sobre o homossexualismo e Deus não ser tão conservador quanto parece ser. Rapaz, assim como qualquer outro pecado, se você acha que o homossexualismo é certo e correto, repense bem antes de passar para as pessoas como se você fosse cristão e seguisse a bíblia."
E deixou claro na mensagem que não estava sequer interessada no que eu tinha a dizer sobre isso:
"Você vai me contra argumentar com mil palavras porque você é uma pessoa que sabe usá-las muito bem... (...) Como disse (...) não tô a fim de discutir sobre isso... Apenas te fazer pensar, mas isso cabe a ti."
Por um lado, eu entendo perfeitamente a preocupação de minha amiga. Contextualizei suas palavras e sei que, não é uma manifestação contra mim. O princípio dessas palavras é uma genuína preocupação comigo, com as pessoas que me leem, e principalmente, com sua própria cosmovisão de fé, herdada de uma longa tradição de bons e piedosos presbiterianos na família dela.
Só digo que é possível sim uma pessoa repensar esse contexto e, ainda assim, se considerar cristão e seguidor da bíblia. Claro que, de um lado e de outro, qualquer questão fechada ainda é uma atitude equivocada e prematura. O universo teológico ainda tem muito o que debater e dialogar sobre esse tema. O Papa Francisco já está dando sensíveis passos na direção de pelo menos demonstrar amor, tolerância e compaixão pelo pecador em detrimento do pecado, recebendo grupos GLBTS no Vaticano para dialogar. A igreja brasileira conservadora não tem sido muito cirúrgica em saber separar essas duas dimensões. Que dirá dialogar sobre outras possibilidades de leitura e interpretação bíblica.
A não ser que me provem que minha esposa Lorena é na verdade um travesti que fez mudança de sexo e mudou o nome da identidade, eu não sou gay. Portanto não advogo em causa própria. Faço apenas o exercício de "amar o próximo" como a mim mesmo, fazendo assim um exercício sincero de me colocar no lugar do outro, e sendo sensível às questões afetivas de amigos que amam a Deus sinceramente, têm uma relação com um companheiro ou companheira baseada em princípios de amor, fidelidade, lealdade, mais até que de muitos casais héteros que eu conheço, e que desejam profundamente apesar disso serem aceitos e ativos participantes nas comunidades de fé de confissões protestante-evangélicas e católicas.
Confesso que essa questão para mim ainda não é fechada. Tenho muito que ler e estudar ainda antes de fechar essa questão em minha mente. Mas não estou sozinho, pois vejo claramente que esta questão não é unanimidade na igreja cristã no mundo. Então não podemos simplesmente bater o pé de forma infantil e dizer "não e não" sem antes nem considerar outras leituras e argumentos. Eu só formo uma opinião quando de fato observo todos os argumentos possíveis e, diante disso, deixo minha sensibilidade escolher a opinião que a meu ver é a mais sensata.
Não tenho problema nenhum em ter um olhar crítico sobre a bíblia. O próprio Lutero também teve, quando esbravejava raiva sem fim sobre a carta de Tiago, chamando-a de "Epístola de palha". Pois a considerava uma afronta a ideia defendida por ele da salvação pela graça, perspectiva esta que ia contra a meritocracia defendida pela igreja católica medieval.
Gostaria de lembrá-los que esse fundamentalismo bíblico nasceu nos EUA, na primeira década do século passado (portanto, é uma postura bem nova), por conta de um julgamento conhecido como caso John Scopes (Consultem o São Google) que tratava da questão de abolir ou não o ensino do criacionismo nas escolas. Só depois da comoção midiática gerada por conta desse julgamento foi que surgiu o chamado Cinturão Bíblico Americano, onde, em contraponto às ideias liberais, os cristãos sulistas (sempre eles!) se fecharam num literalismo e conservadorismo baseado muito mais no medo e na raiva que propriamente numa reflexão equilibrada. George W. Bush é um filho direto dessa geração de cristãos.
Na notícia que postei do site da Presbiteriana do Brasil (que repudia totalmente a Presbiteriana americana com linha de pensamento mais liberal) me preocupa o fato do autor conclamar a Igreja a ir contra o diálogo, tratando a iniciativa da Presbiteriana americana como apostasia, fruto de seminários que se deixaram infiltrar (contaminar) por professores de pensamentos "liberais".
O mesmo artigo termina dizendo:
"Acredito que a única medida preventiva é não abrirmos mão da legitimidade e aplicabilidade dos valores e dos ensinamentos bíblicos para todas as épocas e culturas. Isto nos permitirá sempre fazer uma crítica da cultura a partir do referencial da Palavra inspirada e infalível de Deus. Foi quando a PCUSA subjugou a Bíblia à cultura que a lata de minhocas foi aberta. A Bíblia passou a ser julgada pela cultura. Vai ser difícil para liberais, neo-ortodoxos, libertinos e outros grupos no Brasil, que de maneiras diferentes colocam a cultura à frente da Bíblia, resistir à pressão."
Finalizando com a sentença:
"Quem viver, verá."
Pelo visto, muitos bons e piedosos professores de seminário, que estudaram anos a fio pra dar um conteúdo de qualidade aos alunos para além da doutrinação eclesiásticas seja lá de qual denominação for estão com suas carreiras acadêmicas ameaçadas. Jogaremos anos e anos de reflexão teológica na lata do lixo. Domesticaremos monografias, dissertações de mestrados e teses de doutorados teológicos à grade de doutrinas e confissões de fé das denominações. E certamente isso será um grande retrocesso na nossa jornada em direção a uma maturidade equilibrada, baseado na troca de ideias e não de ofensas e ameaças.
Então meus amigos, abramos os olhos e o coração. O debate e diálogo da questão gay está para além do que estes fazem ou deixam de fazer com suas genitálias.
Está em jogo uma clara ameaça ao maravilhoso e fascinante exercício do livre pensar construído através do penoso sacrifício de inúmeros pensadores cristãos que ousaram sair da normalidade de leitura sugerindo outras opções. E por conta disso foram queimados, perseguidos, exilados, e, a exemplo de Rubem Alves e Leonardo Boff, expulsos de suas denominações.
Enquanto isso eu sigo nesta situação incômoda: Taxado como "liberalzinho-progressista" pela igreja e "conservador e retrógrado" por quem não é religioso. Sinto uma clara sensação de inadequação dos dois lados.
Fazer o que né?
Para ambos os lados, acho que o caminho mais sensato é um diálogo maduro. Sem levar as diferenças para o lado pessoal como se fosse questão de matar ou morrer.
A teologia brasileira tem uma longa e árdua jornada pela frente...
"É bom não radicalizar e ter equilíbrio. Quem teme a Deus evita extremos, porque vê os dois lados da moeda" (Eclesiastes 7. 18)
04 março 2015
Resenha Livro's: START. - Dê um soco na cara do medo, fuja da média, trabalhe no que interessa
Livro: START.
Subtítulo: Dê um soco na cara do medo, fuja da média, trabalhe no que interessa
Autor: Jon Acuff
Ed. Novo Século
226 páginas
Não acredito George! Tu se vendeu pra auto-ajuda?
Se você me conhece e está chocado por eu ter lido esse livro, calma, não vendi minha alma meus amigos.
Chega um tempo na vida da gente que, dependendo daquilo que você quer trabalhar em si mesmo, você meio que se obriga a vivenciar, e ler, coisas que não são convencionais no seu cotidiano.
Sou um cara acomodado por natureza. Desde pequeno sempre tive um lar confortável e uma mãe amorosa e protetora. Para pessoas normais isso é um paraíso. E para mim foi. Com a condição de que sempre tive uma pre-disposição gigantesca para a acomodação.
E lá se foram trinta anos! Trinta anos de construção humana muito massa (livros, músicas, viagens, bons amigos, espiritualidade), porém, totalmente estagnados em relação a investimento acadêmico, campo profissional, etc.
Então estava eu, nos finalmente, da casa dos vinte para os trinta, sem nunca ter conseguido terminar a maioria dos cursos que comecei, sem nunca ter tido um emprego, desempregado e sustentado pela minha piedosa e incondicionalmente amorosa mãe.
Sempre fui um cara que as pessoas gostavam de elogiar por ter talento disso e aquilo, inteligência tal, boa retórica, mas... Pois é... Esse "mas" sempre me perseguiu. "Mas porque ele não consegue emprego?" "Mas por que com essa idade ele nunca terminou uma faculdade?" E por aí vai... Meus amigos queridos e familiares mais próximos consternados com minha estagnação.
E quando você arranja uma namorada? Nossa, as cobranças aumentam mais ainda. Principalmente quando se trata de uma mulher linda, com sonhos, arrojada no trabalho... Ai meu amigo, ou você corre atrás e se adapta, ou vai apodrecer na sua cama, velho, cheio de revista masculina ao redor, comendo miojo e lendo Senhor dos Anéis.
Para não perder minha namorada, e principalmente, minha auto-estima e capacidade de acreditar em mim, eu arregacei as mangas e entreguei currículos em todo buraco desta Fortaleza. E consegui um emprego, como educador social. E nesta profissão estou até hoje.
Porém, a protelação e a preguiça mental de produzir coisas que eu gosto (textos, peças, este blog, etc.) ainda continuavam me atormentando. Mas o emprego me garantiu pelo menos a estabilidade mínima suficiente para encarar um casamento. E, ainda que estável no emprego, meus velhos vícios de comportamento me estagnaram na vida acadêmica (inúmeras desistências de faculdades, cursos, esportes, etc.), e naturalmente, isso tende a gerar em mim série crise pessoal.
A quase um ano chutei tudo pro alto (com exceção de meu casamento e meu trabalho) e comecei a fazer terapia. E desde então tenho conseguido sensíveis evoluções em muitos aspectos de meu comportamento e hábitos ruins. Mas tenho muito ainda pra evoluir.
Hoje basicamente a palavra disciplina é a minha lanterna do momento. Um cara que antes era levado a fazer as coisas só pela vontade, hoje se volta muito mais pelo "dever" do que pelo "prazer" de fazer alguma coisa.
Então, hoje, quando me deparo com um livro desses, mesmo não me iludindo com essas fórmulas piegas e idiotas para americano cristão-meritocrata-triunfalista ler, mesmo assim, eu consigo encontrar dicas aqui e acolá que sim, acabam me dando ferramentas que me ajudam na árdua luta contra minha natureza acomodada.
Tem três tipos de pessoas que eu não me sinto a vontade perto. Gente muito cheia de si. Gente muito materialista. E por fim, gente muito feliz. E o autor Jon Acuff tem mó jeito de ser deste último tipo.
Não sou contra alguém ser feliz. Me refiro aqui aquele feliz profissional! Gente que tem na aparência a grande vitrine de sua vida e sublima seus sentimentos para tudo e todos em prol do marketing pessoal. Me sinto deprimido perto de pessoas assim. Vivenciando a felicidade, bem estar e prosperidade como um pacote, tornando a si mesmo num produto rentável. Aqui em Fortaleza, geralmente, encontro pessoas desse tipo no universo dos Couchings profissionais, em vendedores da Herbalyfe, e em lideranças cristãs.
Jon Acuff
O garotinho incrível
A proposta de Jon Acuff no livro é, como o próprio subtítulo sugere, sair da vida mediana (no nível de pessoas como eu, e talvez você, ó solitário leitor) e catapultar a vida dos leitores (e consumidores de suas palestras motivacionais por empresas pelo mundo) a pretensa excelência do "ser incrível".
Apesar dessa positividade em excesso me enjoar, ele escreve de forma bem humorada, leitura fácil, sempre usando exemplos de sua própria caminhada.
Segundo o autor, ninguém nasceu para ser balconista, trocador de ônibus, atendente de telemarketing, zelador, professor, concursado mediano, não, todos nasceram para ser incríveis e ter grande sucesso e ser reconhecido. Cara, só em escrever isso já fico deprimido!
Gosto sim da ideia da gente sempre lutar para se superar. Eu mesmo estou num processo assim. Não quero vencer mercado, nem conseguir ser rico e famoso. Ficaria feliz em, mesmo de forma sensível, consegui me revolucionar em coisas que estão sim ao meu alcance.
Sempre fui tão contra vaidade e ambição que acabei extinguindo essas palavras da minha vida, sendo que até elas, se usadas de forma equilibrada, podem ser ferramentas legais e melhorar a qualidade de vida de quem as usa.
Porém, na terapia, estou aprendendo que minha caminhada pessoal não corre com a rapidez das cobranças que o mercado e as pessoas que me amam esperam de mim. Cada pessoa tem seu tempo, seu jeito, sua força interior. Estou lentamente construindo uma base sólida sob meus pés. E aos poucos, com segurança interior, e com acompanhamento profissional, espero conseguir (e já consigo em algumas coisas) dar significativos passos para fora de minhas inúmeras zonas de conforto. E olhando para dentro de mim mesmo agora percebo que a jornada ainda é bem longa.
E tudo isso sem dourar a pírola, sem auto-sugestão, sem mágica nem máquina milagrosa de tornar pessoas medianas em "incríveis" em apenas um final de semana ou numa leitura.
Não quero vencer o mercado de trabalho, nem ganhar dinheiro, nem me tornar alguém que eu não sou. Quero tão somente conseguir ser o melhor que eu posso ser, que está dentro de minhas reais possibilidades interiores. Mas se ainda assim eu conseguir as ambições citadas no início desse parágrafo, será apenas uma consequência despretensiosa.
Então caro leitor, leia este livro, ou qualquer outro livro de auto-ajuda, não como um amuleto.
Encare como se você fosse a um piquenique, ou um banquete, com uma enorme variedade de comida. E se alimente daquilo que lhe atrai e descarte o que você achar desnecessário. Com essa premissa você vai saber aprender com qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. Vai tirar lição de vida até dos filmes idiotas do Adam Sandler.
Até mesmo com um livro auto-ajuda-americano como este que resenho.
Meu grande problema com o gênero literário de auto-ajuda não é necessariamente com os livros em si, mas com quem os lê. Pense na Bíblia, onde milhões de brasileiros dizem que a lêem e se deixam influenciar sobre ela. E aí está você morando em um país com taxas de desigualdade, violência e corrupção comendo solto no couro dos assalariados desta nação.
É uma pura questão de ler e praticar (ou pelo menos tentar). Se quem lê auto-ajuda praticasse pelo menos 10% daquilo que lê, nossa, o mundo estaria insuportável de tantas pessoas "incríveis" espalhados por aí.
Não quero ser incrível. Quero apenas tentar ser a melhor versão de mim mesmo.
Então é isso! Obrigado pela companhia!
p.s. - Minha esposa, por ser da área de administração e palestrante, costuma ganhar muitos livros deste gênero. Então, já que a biblioteca é a mesma pros dois, não se surpreenda se aparecer mais resenhas de livros deste gênero.
03 março 2015
Resenha Cinema: Dois Dias, Uma Noite (França - Bélgica - Itália) (2014)
Você abriria mão de um bônus salarial de R$ 1.000.00 para manter uma colega de trabalho sua na empresa? Esse é o drama que passa Sandra (Interpretada pela premiada atriz francesa Marion Cotillard). Quando voltou ao trabalho depois de uma licença por conta de uma forte depressão ela descobre que tinha sido demitida, pois o dono da empresa ofertou um bônus extra no salário dos funcionários, porém em troca eles tinham que abrir mão de uma das funcionárias, no caso, Sandra.
Ela descobre que a votação foi influenciada pelo gerente que não gosta dela e pede ao chefe uma nova votação. O mesmo concorda e ela tem o final de semana para ir na casa de cada funcionário pedir o voto a favor na permanência dela na empresa. Dois dias e uma noite.
Lembrando que no contexto está a grave crise do Euro na Europa, com uma alta taxa de desemprego. Então, para qualquer um, perder um emprego é, de fato, um grande pesadelo.
Apesar de gostar de filmes comerciais, com efeitos e estética de fazer o cara delirar no cinema, gosto também muito do contrário. De filme onde a matéria prima são os atores. Sem nada, nenhum efeito ou truque para escondê-los ou maquiá-los. E esse filme é bem isso. Um filme humano, que foca na cara do ator para que este com sua técnica consiga nos passar a verdade do seu personagem.
Gosto da ideia de me envolver com uma história aparentemente trivial. Mas a medida que você, como um voyeur, acompanha a jornada do personagem, você se envolve e, claro, se emociona. Um trivial que é um universo. Um trivial que explora a natureza humana como ninguém. Que joga a pergunta pra quem assiste do "o que vem primeiro?", as coisas ou as pessoas? O benefício do dinheiro extra ou o colega que está prestes a perder o trabalho?
E neste universo, assim como você descobre a mesquinhez de uns, também de deslumbra com a generosidade e humanidade de tantos outros.
Recomendo muito a você entrar nesta caminhada (de porta em porta) com a personagem Sandra. Um filme muito humano! Gostei demais! Uma obra prima de atuação!
Assista abaixo o trailer deste filme:
Ela descobre que a votação foi influenciada pelo gerente que não gosta dela e pede ao chefe uma nova votação. O mesmo concorda e ela tem o final de semana para ir na casa de cada funcionário pedir o voto a favor na permanência dela na empresa. Dois dias e uma noite.
Lembrando que no contexto está a grave crise do Euro na Europa, com uma alta taxa de desemprego. Então, para qualquer um, perder um emprego é, de fato, um grande pesadelo.
Apesar de gostar de filmes comerciais, com efeitos e estética de fazer o cara delirar no cinema, gosto também muito do contrário. De filme onde a matéria prima são os atores. Sem nada, nenhum efeito ou truque para escondê-los ou maquiá-los. E esse filme é bem isso. Um filme humano, que foca na cara do ator para que este com sua técnica consiga nos passar a verdade do seu personagem.
Gosto da ideia de me envolver com uma história aparentemente trivial. Mas a medida que você, como um voyeur, acompanha a jornada do personagem, você se envolve e, claro, se emociona. Um trivial que é um universo. Um trivial que explora a natureza humana como ninguém. Que joga a pergunta pra quem assiste do "o que vem primeiro?", as coisas ou as pessoas? O benefício do dinheiro extra ou o colega que está prestes a perder o trabalho?
E neste universo, assim como você descobre a mesquinhez de uns, também de deslumbra com a generosidade e humanidade de tantos outros.
Recomendo muito a você entrar nesta caminhada (de porta em porta) com a personagem Sandra. Um filme muito humano! Gostei demais! Uma obra prima de atuação!
Assista abaixo o trailer deste filme:
Migalhas Teológico-musicais - "Best Day Of My Life" (American Authors)
Durante a gravação do primeiro álbum de sua banda, o vocalista Zac Barnett trabalhava como garçom num restaurante francês em Manhattan. Ele e os demais mebros da banda usavam a escassa graninha deles para ajudar no financiamento do disco. Até que, em 2012 o furacão Sandy veio devastando tudo, inclusive o restaurante francês que Zac trabalhava.
Um episódio desses poderia pôr tudo a perder na vida de Zac. Mas ele arregaçou as mangas, olhou pra frente, e na cara e coragem, com recursos reduzidos, conseguiu concretizar o sonho de gravar o disco de sua banda, o American Authors.
A música "Best Day Of My Life" estourou nos EUA se tornando um sucesso em propagandas de TV e no game FIFA 14.
Talvez o segredo do sucesso dessa música seja porque Zac conseguiu transmitir através dela toda sua vibe nas circunstâncias difíceis que passou na gravação do disco.
Muita gente (e até eu) se irrita com essa coisa triunfalista do jeito americano de ser. Porém o que destaca nesta letra é que o "dia feliz" não é uma memória do que passou, mas uma promessa e decisão para o dia que ainda virá. Como se a felicidade, muito mais que um sentimento momentâneo, pudesse ser encarado como uma escolha, quase que um estado de espírito. E isso, claro, independente das circunstâncias que nos acometem.
Tava lendo uma entrevista ontem de um neurocientista que dizia que a busca da felicidade era responsável pelo alto índice de depressão, insatisfação e pessoas deprimidas no planeta. Porque, grosso modo, as pessoas encaram a felicidade como um objetivo de princípios totalmente equivocados como estabilidade, poder de consumo. Não a toa já tem estudos comprovando que o Facebook para muitas pessoas é fonte de tristeza. Afinal, em plena quinta-feira de uma semana qualquer, quanta gente viajando, mergulhando, tirando fotos em paisagens, compartilhando conquistas, mostrando como emagreceu, como é legal ter um carro novo, passou num concurso. E aqui está você, do outro lado da tela, se sentindo o cocô do cavalo do bandido, achando que a grama do seu contato no Face é muito, mas muito mais verde que a sua.
Todo mundo é irritantemente feliz no Facebook. Menos você, claro!
A própria espiritualidade ocidental, via de regra, está pautada num falso preceito que liga diretamente felicidade a bens e poder de consumo. Sendo que nos Evangelhos aprendemos com o mestre carpinteiro de Nazaré que a felicidade não é material, mas um estado de espirito e paz interior que está para além dos problemas a nossa volta. Felicidade e muito mais de dentro pra fora que de fora pra dentro.
Jesus usa um exemplo interessante em uma das estórias que contava ao povo (sim, ele contava muitas!). Falou certa vez em duas casas (Mateus 7. 24-27). Super mal localizadas por sinal. Por conta de nessa região, periodicamente as tempestades e ventanias fortes (a exemplo do furacão Sandy) vir e arrasar com tudo.
Depois destas intempéries uma permaneceu erguida e a outra desabou. O segredo? Um engenheiro prudente construiu uma delas edificada numa rocha sólida, e um outro engenheiro sem noção construiu uma edificada sobre a areia.
Bem que essa ilustração poderia ser representada pelo seu coração não? O que, ou em quê está alicerçado seu coração? Em pessoas tão limitadas quanto você? Em bens materiais que qualquer crise econômico-financeira pode tragar?
Talvez um irmão mais fervoroso venha me dizer: "Tudo posso naquele que me fortalece!" (Filipenses 4. 13)
Leia os versículos anteriores e perceba que esse "tudo posso" está relacionado a passar necessidades, dormir ao relento, ser perseguido. O tudo é TUDO! Coisas boas e ruins!
Aí esse irmão ainda, não se dando por vencido, continue: "É, mas o Senhor é meu pastor e nada me faltará!" (Salmo 23).
Mas se você ler os versículos posteriores vai ver que isso não o impede de passar por vale de sombra de morte. O que aprofunda mais ainda o conceito, que consiste que, ainda que passe poi isto, o temor não toma conta de minhas atitudes, pois sei que independente de qualquer coisa Deus está comigo.
Neste momento muita gente está sabiamente pensando no Salmo 23 como fonte de conforto em um leito de hospital. Muita gente está se confortando nessa verdade agradecendo a Deus por um pão seco numa mesa pobre de recursos, porém rica em espiritualidade e, pasmem, gratidão.
Eu mesmo acabei de sair de uma tempestade pessoal. O segundo semestre de 2014 pra mim foi, como diz alguns amigos aqui no Ceará, muito punk meu amigo. Tive duas escolhas diante de mim. Aceitar a situação e continuar sendo passivo as coisas da vida e me acomodar (o que seria normal pra mim, pois nisto consiste a natureza real do meu caráter. Quem me conhece sabe.), ou perceber que posso ser perfeitamente mutável, e tentar através de esforço e auto-disciplina tentar construir uma história diferente pra mim. O que vai totalmente contra a minha natureza acomodada e procrastinadora mas que, muito mais por uma decisão e escolha, me ajudou a contornar a difícil situação em que me encontrava e hoje, apesar de ainda estar no processo, consegui evoluir muita coisa em mim mesmo. Bem a maneira do "um passo a frente e você já não está nesse lugar" como dizia o grande Chico Science.
O que me fez aprender, a duras penas, que felicidade é muito mais uma escolha do que uma expressão "sentimentalóide" circunstancial. Usando do mesmo princípio "só por hoje" do AA (Alcoólicos Anônimos), tomando uma decisão sobre si mesmo antes do "depois" acontecer. Vivenciar o agora, o já, o momento. Não busque... Seja!
E certamente "Best Day Of My Life" poderia ser um perfeito hino disso tudo. Faça acontecer. Não desperdice tempo pensando no futuro, ou achando que está numa jornada idiota em algo que está ao seu alcance agora. Como nessa música, já comece seu dia na vibe de encará-la como mais uma chance e possibilidade de construir esperança e significados para minha-sua vida e para as pessoas que estão ao meu-seu redor.
Eu sei que muitos grupos e movimentos pró-empresariais usam cisa parecida para alienar as pessoas com uma auto-sugestão idiota.
A ideia é apenas você tirar o foco do seu futuro e procurar descobrir a felicidade em coisas simples em seu cotidiano, e transforma-lo em algo muito mais interessante e memorável do que apenas torná-lo mais um dia que passou, como se nunca tivesse existido em sua vida. Depende apenas de você transformar o dia em algo especial, tanto para você quanto para os outros.
Foi exatamente isso que Zac Barnett fez depois do furacão. E a felicidade que mora no agora mudou sua vida e sua banda, nos presenteando com uma letra inspirada.
Aquilo que pra você é distante talvez esteja tão pertinho, na simplicidade de tudo ao seu redor. Olhe! A mudança tem que partir do seu olhar. É só trocar a lente.
"Quem sabe faz agora, não espera acontecer" - Geraldo Vandré
"Viver é melhor que sonhar!" - Belchior
"Não estou dizendo que já tenha tudo isso, que já o tenha conseguido. Mas estou a caminho, prosseguindo..." - Filipenses 3. 12 (Tradução de A Mensagem, Eugene Peterson)
Assista abaixo ao clipe (legendado) de "Best Day Of My Life" da banda American Authors:
Assista abaixo ao clipe (legendado) de "Best Day Of My Life" da banda American Authors:
Resenha Cinema: A Teoria de Tudo (Reino Unido - 2014)
É bem possível que meu gênero predileto no cinema seja a cinebiografia. Não é de admirar que este também seja o gênero literário que tenho mais prazer de ler.Tem coisas no mundo real que nem a mais criativa ficção consegue abarcar. Vejam só: Um brilhante estudante, com uma carreira acadêmica promissora se apaixona perdidamente por uma colega de faculdade, e quando está às portas de ser uma estrela do mundo astrofísico é acometido por uma doença degenerativa dos movimentos dos músculos que paralisa seu corpo o prendendo a uma cadeira de rodas.E uma garota que, apaixonada, no momento mais difícil da vida dele, olha nos fundos dos olhos do amado e diz: Eu te amo, vamos enfrentar isso juntos!
E os dois, com todas as limitações, vão contra todas as probabilidades e resolvem construir uma família.
E essa é a mágica das biografias. É você degustar isso tudo pensando: caramba! Realmente ele passou por isso!
Claro que toda biografia é a leitura do autor sobre a história. O que, dependendo de quem seja, pode nos dar uma luz na história ou obscurecer ainda mais os fatos, "dourando a pírola" e deformando informações. Vide a cinebiografia do Tim Maia, e a escabrosa versão "editada" que a globo exibiu.
O legal nesse filme sobre um dos maiores astrofísicos da história (Stephen Hawking) é que ele é baseado na biografia feita pela ex-mulher dele (Jane Hawking), que mostra toda sua entrega dentro do casamento com o cientista, mas também se expõe relatando detalhes do desgaste natural da rotina diária de cuidar de um portador de necessidades especais (este é o termo politicamente correto para isso?), e todos os obstáculos que aparecem que nem sempre podemos lidar com eles da forma mais, digamos, socialmente (e principalmente, familiarmente) esperados.
Fui ao cinema hoje achando que ia ficar viajando na maionese em muitas cenas do filme e me deparo com uma grande história de amor. E lembre-se, aqui no caso, amor é diferente de romance e paixão. Apesar de isso tudo estar embutido também na improvável relação desse casal. Mas o forte aqui é aquele amor que tem por princípio o altruísmo e escolha baseado muito mais na construção da vida juntos que propriamente nos instintos hormonais (mesmo estes também estarem presentes).
A parte científica do filme é explorado de forma que o telespectador leigo também possa ser inserido no princípio da teoria do cara. Porém, claro, o filme é muito mais focado na vida doméstica da família Hawking. E saí da sala de cinema feliz por ter gasto uma grana preta pra ver um filme e ser recompensado por um delicioso entretenimento: para a alma e para a mente.
Só pra encerrar, a atuação de Eddie Redmayne na pele do premiado cientista está assombrosa! Tanto que lhe valeu o Oscar de melhor ator esse ano.
Enfim, tanto para os nerds quanto para os leigos, super recomendo!
Assista abaixo o trailer deste filme:
E os dois, com todas as limitações, vão contra todas as probabilidades e resolvem construir uma família.
E essa é a mágica das biografias. É você degustar isso tudo pensando: caramba! Realmente ele passou por isso!
Claro que toda biografia é a leitura do autor sobre a história. O que, dependendo de quem seja, pode nos dar uma luz na história ou obscurecer ainda mais os fatos, "dourando a pírola" e deformando informações. Vide a cinebiografia do Tim Maia, e a escabrosa versão "editada" que a globo exibiu.
O legal nesse filme sobre um dos maiores astrofísicos da história (Stephen Hawking) é que ele é baseado na biografia feita pela ex-mulher dele (Jane Hawking), que mostra toda sua entrega dentro do casamento com o cientista, mas também se expõe relatando detalhes do desgaste natural da rotina diária de cuidar de um portador de necessidades especais (este é o termo politicamente correto para isso?), e todos os obstáculos que aparecem que nem sempre podemos lidar com eles da forma mais, digamos, socialmente (e principalmente, familiarmente) esperados.
Fui ao cinema hoje achando que ia ficar viajando na maionese em muitas cenas do filme e me deparo com uma grande história de amor. E lembre-se, aqui no caso, amor é diferente de romance e paixão. Apesar de isso tudo estar embutido também na improvável relação desse casal. Mas o forte aqui é aquele amor que tem por princípio o altruísmo e escolha baseado muito mais na construção da vida juntos que propriamente nos instintos hormonais (mesmo estes também estarem presentes).
A parte científica do filme é explorado de forma que o telespectador leigo também possa ser inserido no princípio da teoria do cara. Porém, claro, o filme é muito mais focado na vida doméstica da família Hawking. E saí da sala de cinema feliz por ter gasto uma grana preta pra ver um filme e ser recompensado por um delicioso entretenimento: para a alma e para a mente.
Só pra encerrar, a atuação de Eddie Redmayne na pele do premiado cientista está assombrosa! Tanto que lhe valeu o Oscar de melhor ator esse ano.
Enfim, tanto para os nerds quanto para os leigos, super recomendo!
Assista abaixo o trailer deste filme:
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