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04 março 2015

Resenha Livro's: START. - Dê um soco na cara do medo, fuja da média, trabalhe no que interessa




Livro: START.
Subtítulo: Dê um soco na cara do medo, fuja da média, trabalhe no que interessa
Autor: Jon Acuff
Ed. Novo Século
226 páginas

Não acredito George! Tu se vendeu pra auto-ajuda?

Se você me conhece e está chocado por eu ter lido esse livro, calma, não vendi minha alma meus amigos.

Chega um tempo na vida da gente que, dependendo daquilo que você quer trabalhar em si mesmo, você meio que se obriga a vivenciar, e ler, coisas que não são convencionais no seu cotidiano.

Sou um cara acomodado por natureza. Desde pequeno sempre tive um lar confortável e uma mãe amorosa e protetora. Para pessoas normais isso é um paraíso. E para mim foi. Com a condição de que sempre tive uma pre-disposição gigantesca para a acomodação. 

E lá se foram trinta anos! Trinta anos de construção humana muito massa (livros, músicas, viagens, bons amigos, espiritualidade), porém, totalmente estagnados em relação a investimento acadêmico, campo profissional, etc.

Então estava eu, nos finalmente, da casa dos vinte para os trinta, sem nunca ter conseguido terminar a maioria dos cursos que comecei, sem nunca ter tido um emprego, desempregado e sustentado pela minha piedosa e incondicionalmente amorosa mãe.

Sempre fui um cara que as pessoas gostavam de elogiar por ter talento disso e aquilo, inteligência tal, boa retórica, mas... Pois é... Esse "mas" sempre me perseguiu. "Mas porque ele não consegue emprego?" "Mas por que com essa idade ele nunca terminou uma faculdade?" E por aí vai... Meus amigos queridos e familiares mais próximos consternados com minha estagnação.

E quando você arranja uma namorada? Nossa, as cobranças aumentam mais ainda. Principalmente quando se trata de uma mulher linda, com sonhos, arrojada no trabalho... Ai meu amigo, ou você corre atrás e se adapta, ou vai apodrecer na sua cama, velho, cheio de revista masculina ao redor, comendo miojo e lendo Senhor dos Anéis.

Para não perder minha namorada, e principalmente, minha auto-estima e capacidade de acreditar em mim, eu arregacei as mangas e entreguei currículos em todo buraco desta Fortaleza. E consegui um emprego, como educador social. E nesta profissão estou até hoje.

Porém, a protelação e a preguiça mental de produzir coisas que eu gosto (textos, peças, este blog, etc.) ainda continuavam me atormentando. Mas o emprego me garantiu pelo menos a estabilidade mínima suficiente para encarar um casamento. E, ainda que estável no emprego, meus velhos vícios de comportamento me estagnaram na vida acadêmica (inúmeras desistências de faculdades, cursos, esportes, etc.), e naturalmente, isso tende a gerar em mim série crise pessoal.

A quase um ano chutei tudo pro alto (com exceção de meu casamento e meu trabalho) e comecei a fazer terapia. E desde então tenho conseguido sensíveis evoluções em muitos aspectos de meu comportamento e hábitos ruins. Mas tenho muito ainda pra evoluir.

Hoje basicamente a palavra disciplina é a minha lanterna do momento. Um cara que antes era levado a fazer as coisas só pela vontade, hoje se volta muito mais pelo "dever" do que pelo "prazer" de fazer alguma coisa.

Então, hoje, quando me deparo com um livro desses, mesmo não me iludindo com essas fórmulas piegas e idiotas para americano cristão-meritocrata-triunfalista ler, mesmo assim, eu consigo encontrar dicas aqui e acolá que sim, acabam me dando ferramentas que me ajudam na árdua luta contra minha natureza acomodada.

Tem três tipos de pessoas que eu não me sinto a vontade perto. Gente muito cheia de si. Gente muito materialista. E por fim, gente muito feliz. E o autor Jon Acuff tem mó jeito de ser deste último tipo.

Não sou contra alguém ser feliz. Me refiro aqui aquele feliz profissional! Gente que tem na aparência a grande vitrine de sua vida e sublima seus sentimentos para tudo e todos em prol do marketing pessoal. Me sinto deprimido perto de pessoas assim. Vivenciando a felicidade, bem estar e prosperidade como um pacote, tornando a si mesmo num produto rentável. Aqui em Fortaleza, geralmente, encontro pessoas desse tipo no universo dos Couchings profissionais, em vendedores da Herbalyfe, e em lideranças cristãs.



Jon Acuff
O garotinho incrível

A proposta de Jon Acuff no livro é, como o próprio subtítulo sugere, sair da vida mediana (no nível de pessoas como eu, e talvez você, ó solitário leitor) e catapultar a vida dos leitores (e consumidores de suas palestras motivacionais por empresas pelo mundo) a pretensa excelência do "ser incrível".

Apesar dessa positividade em excesso me enjoar, ele escreve de forma bem humorada, leitura fácil, sempre usando exemplos de sua própria caminhada.

Segundo o autor, ninguém nasceu para ser balconista, trocador de ônibus, atendente de telemarketing, zelador, professor, concursado mediano, não, todos nasceram para ser incríveis e ter grande sucesso e ser reconhecido. Cara, só em escrever isso já fico deprimido!

Gosto sim da ideia da gente sempre lutar para se superar. Eu mesmo estou num processo assim. Não quero vencer mercado, nem conseguir ser rico e famoso. Ficaria feliz em, mesmo de forma sensível, consegui me revolucionar em coisas que estão sim ao meu alcance. 
Sempre fui tão contra vaidade e ambição que acabei extinguindo essas palavras da minha vida, sendo que até elas, se usadas de forma equilibrada, podem ser ferramentas legais e melhorar a qualidade de vida de quem as usa.

Porém, na terapia, estou aprendendo que minha caminhada pessoal não corre com a rapidez das cobranças que o mercado e as pessoas que me amam esperam de mim. Cada pessoa tem seu tempo, seu jeito, sua força interior. Estou lentamente construindo uma base sólida sob meus pés. E aos poucos, com segurança interior, e com acompanhamento profissional, espero conseguir (e já consigo em algumas coisas) dar significativos passos para fora de minhas inúmeras zonas de conforto. E olhando para dentro de mim mesmo agora percebo que a jornada ainda é bem longa.

E tudo isso sem dourar a pírola, sem auto-sugestão, sem mágica nem máquina milagrosa de tornar pessoas medianas em "incríveis" em apenas um final de semana ou numa leitura.

Não quero vencer o mercado de trabalho, nem ganhar dinheiro, nem me tornar alguém que eu não sou. Quero tão somente conseguir ser o melhor que eu posso ser, que está dentro de minhas reais possibilidades interiores. Mas se ainda assim eu conseguir as ambições citadas no início desse parágrafo, será apenas uma consequência despretensiosa.

Então caro leitor, leia este livro, ou qualquer outro livro de auto-ajuda, não como um amuleto.

Encare como se você fosse a um piquenique, ou um banquete, com uma enorme variedade de comida. E se alimente daquilo que lhe atrai e descarte o que você achar desnecessário. Com essa premissa você vai saber aprender com qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. Vai tirar lição de vida até dos filmes idiotas do Adam Sandler.

Até mesmo com um livro auto-ajuda-americano como este que resenho.

Meu grande problema com o gênero literário de auto-ajuda não é necessariamente com os livros em si, mas com quem os lê. Pense na Bíblia, onde milhões de brasileiros dizem que a lêem e se deixam influenciar sobre ela. E aí está você morando em um país com taxas de desigualdade, violência e corrupção comendo solto no couro dos assalariados desta nação.

É uma pura questão de ler e praticar (ou pelo menos tentar). Se quem lê auto-ajuda praticasse pelo menos 10% daquilo que lê, nossa, o mundo estaria insuportável de tantas pessoas "incríveis" espalhados por aí.

Não quero ser incrível. Quero apenas tentar ser a melhor versão de mim mesmo.
Então é isso! Obrigado pela companhia!

p.s. - Minha esposa, por ser da área de administração e palestrante, costuma ganhar muitos livros deste gênero. Então, já que a biblioteca é a mesma pros dois, não se surpreenda se aparecer mais resenhas de livros deste gênero.

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