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29 agosto 2012

Teatro: O Bom Caminho



Antes, uma pequena introdução:

Como alguns já sabem, trabalho como educador social, numa casa de medida socioeducativa para jovens e adolescentes em conflito com a lei. Lá é uma semiliberdade, os adolescentes ficam lá toda a semana útil, e fim de semana vão ficar com suas famílias. Ao contrário de outras casas de medida em regime fechado para jovens e adolescentes aqui em Fortaleza, que são verdadeiros presídios disfarçados, lá na semiliberdade Mártir Francisca o tratamento a esses jovens é humano, e o papel do sócio-educador de fato é educar, influenciar positivamente e transformar a vida deles! Eu sei, uma minoria muda de vida, porém isso não desmerece a missão, ao contrário, a deixa mais nobre, apesar do pouco reconhecimento do Governo do Estado. Sou muito orgulhoso por ser educador social! Muito mais que um emprego (e o salário é baixo, pode acreditar!), para mim é uma missão! Ninguém muda a vida de ninguém, o poder de mudar está dentro de cada um. O que me resta como educador é apenas plantar a semente! Se por acaso essa semente germinar no coração de algum deles, aí considero como missão cumprida! Mas sei que depende deles! Em outro momento vou escrever mais a fundo sobre a unidade, estou planejando um texto, dividido em três, onde vou conversar com você sobre dimensões de espiritualidade. E um destes textos vai ser dedicado exclusivamente ao meu trabalho na unidade.

Enfim, pela primeira vez na vida escrevi uma peça que tem como protagonistas três fantoches, cada um representando um sócio-educando, assim também como personagens interagindo com os fantoches.

Fiz questão de escrever a peça na ideia de ser os próprios educadores a participarem. Principalmente para ser os fantoches! Já para o papel de educador social eu coloquei um sócio-educando para atuar. Exatamente para trabalhar essa trocas de papel, de um se colocar no lugar do outro. Trabalhando a ideia de que todos são iguais.

A peça trata basicamente no conflito em que todos eles passam quando se encontram numa situação de descumprir medida, seja pulando o muro da unidade ou não voltando do final de semana. Escrevi no intuito de mostrar que, no final das contas a escolha é deles, e cabe somente a eles pensarem o que é melhor pra eles mesmos.

O Bom Caminho foi feito pela Tereza, uma educadora com voz bem gasguita e que fala pelos cotovelos, e todos tem grande carinho por ela. O Mau Caminho foi interpretado pelo seu Fernando, professor de serigrafia, conhecido lá como Professor Bugiganga (Bugi pros íntimos), e ele é, em si, uma figura engraçada, então pensei nele até para tirar o peso de um personagem como o Mau caminho, que representa o mau propriamente dito.

Os três fantoches são baseados em três adolescentes reais, e mantive o nome deles nos fantoches. Pena que o Bruno, o qual eu interpretei com o fantoche, descumpriu medida na semana da peça, uma pena...       

Esta peça foi apresentada no aniversário de 11 anos da unidade. E antes de começar a ler a peça, vou colocar abaixo um pequeno glossário para que se entenda algumas gírias dos adolescentes, e não são poucas:

Cumádi - ficante, namorada ou esposa
É sal? - Pode ser?
Cabeça de gelo! - Fica frio!
Rochêda - massa, legal
Acocha! - expressão usada quando alguém faz alguma coisa por medo
Marretada - quando algum adolescente fala ou faz uma besteira, ele recebe dois cascudos na cabeça de cada um que ouviu ou viu a besteira
Prosa - brincadeira
Mó limpeza - tranquilo
Qual tuas área? - qual teu bairro?
Vacilo - cometer erro
Boiô - caiu em alguma brincadeira e não percebeu
Faca cega - mentiroso
Fio descascado - armadilha, cilada
Papangú - só fala besteira
Embaçar - atrapalhar

p.s. - coloquei em vermelho os intervenções para o leitor se situar no que acontece durante os diálogos.

    
O bom caminho
por George Facundo

Personagens:

Narrador
Fantoche 1 - Renato
Fantoche 2 - Ramon
Fantoche 3 - Bruno
Educador
Mau Caminho
Bom Caminho

Início:

Um adolescente entra em cena e lê:

Há caminhos que parecem certos, mas podem acabar levando para a morte.
PROVÉRBIOS 14: 12

Entra em cena o narrador:

NARRADOR:

Foi-se o tempo
Já quase nem lembro mais
Dos dias que criança brincava na rua
Todo mundo era tranquilo, e viviam em paz

O mundo foi avançando
As pessoas não mais se amando
As famílias se separando
E muita gente chorando

Os mais velhos se perguntam:
O que está acontecendo?
Ao invés de velho ser enterrado
São os jovens que estão morrendo

Muitos jovens não sabem viver
Nem conseguem aproveitar a liberdade
Usam o seu tempo livre de forma errada
E se perdem, escolhendo a marginalidade

Muitos destes adolescentes
Que pelo crime se atiça
São pegos em seus erros
E passam a responder na justiça

Os juízes, que julgam cada caso
Escutam deles as justificativas
Então se forem culpados
Vão cumprir medida socioeducativa
  
Mártir Francisca
É o nome desta unidade
Muitos jovens vem pra cá
Quando ganham semi-liberdade

Eles ficam aqui de segunda a sexta
E se eles se comportarem e não "se danar"
Podem ir no fim de semana pra casa
Com suas famílias aproveitar

E foi justamente aqui, nessa quadra
Que aconteceu um curioso fato
Estavam aqui três adolescentes
Ramon, Bruno e Renato

Neste momento dois bonecos aparecem, (Ramon e Bruno) como se estivessem chegando na quadra, para ficarem lá para fazer os papeizinhos do artesanato.

Ramon - Bora lá mah, que eu tenho que entregar essa pata até amanhã pra minha cumádi! É sal tu me ajudar?
Bruno - Cabeça de gelo! É sal! Cadê os papéis?
Ramon - Taí ó, na caixa!

Em frente a lona, haverá uma caixa no chão cheio de papeizinhos.

Bruno - Ei pivete doido, comé que a gente vai pegá? Tá longe!
Ramon - Óia, deixa de ser vaca morta seu lezado, deixa que eu pego!

Ele se estica, na parte de cima da lona tentando alcançar. Obviamente não consegue.

Bruno - Rárárá
Ramon - Tá embaçado pegar essa caixa ó...
Bruno - Rárárá! É mesmo pivete doido!
Ramon - Peraí, vou chamar o Renato! Renatô!!!!! Bom Sucesso!!!!!!

Renato, sem aparecer, fala:

Renato - Quié? Dá a idéia!
Ramon - Ôia! Chega aqui pivete!
Renato - Peraí que eu tô aqui na monitoria aperreando a Eliza!
Bruno - Chegaííííííí pivete, tá vacilando?
Renato - Peraí, tô indo, tô indo!
Bruno - Bóóóóóóóóóra pivete, tô perdendo a paciênciaaa!!!
Renato - Tô chegando, tô chegando... Vai dar certo!

Agora Renato entra em cena...

Renato - Dá a idéia!
Ramon - Tá embaçado pegar essa caixa ó...
Renato - E daí?
Bruno - Rárárá!
Ramon - E daí é? Vai cortar as forças mesmo? Ajuda aí mah!
Renato - Pera! Vai dar certo! Xeu ver aqui...

Renato se estica pra pegar, mas também não consegue...

Ramon - Usa o nariz mah!
Bruno - Rárárá!!!
Renato - Cala boca aí! Égua mah, deu não...
Ramon - E agora pivete?
Bruno - E agora pivete?
Renato – Tá é brabo! Peraí, já sei! Ei educador! Chega aí!

Nesse momento, alguém vestido de educador entra em cena...

Educador - Oi Renato, diga!
Renato - Ei educador, é sal tu pegar essa caixa aí pra gente?
Educador - Há, tranquilo, tá aqui ó!
Bruno - É sal tu ficar segurando aí pra gente só na limpezinha?  Rárárá!

Na medida que os meninos vão perguntando, o educador, mesmo contrariado, vai aceitando...

Renato - E é sal tu arrumar uns papeizinhos que tem aí na caixa? Dá aqui pra gente! Valew!
Ramon - Rôchêda! Mó limpeza tu ó educador!
Bruno - Acoooooocha pros menor!
Educador - Me respeite viu! Tô fazendo uma gentileza!
Bruno – Brincadeira educador! Tu podia ser o pior, mas é o melhor! Rárárá!

Lembrando que, quando o educador entrega os papeizinhos, uma mão de um dos que estão com os fantoches pode pegar... Assim também quando precisar de algum tipo de intervenção, como dar “marretada”, essas coisas, todos podem usar as mãos...

Quando a mão pega os papéis, eles vão conversando, cantando, e as mãos dos que estão com os fantoches vão jogando os papeizinhos já dobrados para a caixa que o educador está segurando...

Ramon - Vai ficar rochêda essa pata!
Bruno - Segura aí educador! Vixi, foi mal aí educador! Bota em relatório não! Cabeça de gelo!
Ramon - Puxa um som aí Renato!
Renato - Peraí, xeu aquecer o gogó: glauglauglauglau! Pronto! Lá vai! Um, dois, três! Princeeeeesa, por favor volte pra mim, eu te amo meu amor...
Ramon - Óóóóóóia! Tu é uma princesa éééé?
Renato - Eiii, vacilou, merece dois!
Ramon - Óia, toma dois também!
Bruno – Ó os papo! Rárárá!
Renato - Toma dois só pra deixar de ter risada feia! Bixo fei!
Bruno - Eiiii! Tá vacilando é? Toma dois!
Todos - Toma dois! Toma dois! Toma dois! Toma dois!
Educador - Chegaaaaaaa! Bóra parar aí pessoal! Já falei que não pode ter esse tipo de brincadeira na unidade!
Bruno - Cabeça de gelo educador, é só prosa, já paramos!
Educador - É bom mesmo! Continuem fazendo aí as coisas pra pata de papel!

Neste momento, um forte barulho vindo do corredor acontece... Alguém faz barulho imitando a risada do Emiliano, um adolescente da unidade (Hahahahaha!) O educador percebe o barulho e sai para averiguar o que é...

Educador: Não acredito... O Emiliano de novo fazendo barulho... Ei Emiliano, deixa disso hômi! Se aquiete!

Educador sai de cena e entra o narrador novamente...

NARRADOR:

E sempre acontece em momentos assim
Quando estamos na solidão
Que o Mau Caminho aparece
Despejando sua tentação

O Mau Caminho chega mansinho
Quando não tem ninguém vendo
E começa a dar maus conselhos
E da sua boca só sai veneno

Mau Caminho - E aí galerinha! Tudo beleza?
Renato - Rochêda!
Bruno - Mó limpeza!
Ramon - Óia, parece um urubu empalhado!
Bruno - Rárárá! É mesmo ó!
Mau Caminho - Olha o respeito pessoal, pois eu vim aqui pra trocar uma ideia com vocês!
Renato - Há é? E qual as tuas área?
Mau Caminho - Minha área? Muito bem, eu moro geralmente na mente daquele que precisa tomar uma decisão... Vocês já devem ter ouvido minha voz! Geralmente sou eu que sopro no ouvido: “Vai lá, experimenta isso e aquilo”, ou “Vai lá, faz esse assalto, uma graninha legal” ou, “ainda é cedo cara, são só 3h da madrugada, tu vai voltar pra casa agora? Fica mais um pouco!”, ou “Que família o quê... Vai curtir com teus amigos, pegar umas meninas rochêra”, e por aí vai... Eu que guio vocês nos maravilhosos caminhos dos prazeres...
Ramon - Háááá, então é tu que fica buzinando nos ouvido da gente? Óia, pois tu buzinou errado porque a gente tá é preso!
Renato - É mesmo ó... Merece um marretão!
Bruno - Rárárá!
Mau caminho - Pera pessoal, calma! Pois tô aqui pra resolver o problema de vocês!
Renato - Há é? Pois dá a idéia!
Mau Caminho - Olhem só pra esse muro! Pois é, basta pular e vocês vão ter a liberdade!
Bruno - Tá é vendo é?
Mau Caminho - É negrada! Lá fora é só festa!
Ramon - Lá fora tá é embaçado né não? Minha cumádi tá gravida, disse que eu tenho que trabalhar...  
Mau Caminho - Quem disse que a vida tem que ser difícil meu amigo? Trabalhar? Neeeem pensar! Para que perder tempo ganhando pouca grana, se você pode ter dinheiro e cumádi sem precisar trabalhar tanto! Traficar e roubar é que dá dinheiro! Eu torno a vida uma porta larga meus parceiros! Vocês tão perdendo o tempo de vocês aqui dentro! Hoje mesmo tem festa lá na pracinha, todo mundo vai tá lá, e vocês aqui dentro... Vacilo viu!
Renato - É mermo ó... O Mau Caminho tá certo! Mó saudade da liberta!
Bruno - É, saudade das cumádi!
Ramon - É... saudade das festa!
Renato - Dá até pra ouvir o raggae ó...

Neste momento começa a tocar um raggae no som e os bonecos e o Mau Caminho começam a dançar! Depois de alguns segundos, o som fica bem baixo, os personagens continuam a dançar e entra a voz do narrador...

NARRADOR:

E quando você pensa que tá tudo acabado
E que o Mau Caminho vai vencer
Aparece o Bom Caminho
Com outra ideia pra oferecer

Mau Caminho - Bóra lá galerinha, eu vou dar até pezinho pra vocês pularem o muro! Bóra lá antes que o educador volte! Bóra, Bóra!
Bruno - Cabeça de gelo e coração de pinguim que vai dar certo!
Bom Caminho - Páááááááááááááááára!!! Pode parar tudo!!! Pronde é que vocês pensam que vão eeeeeeeein???
Ramon - Óia! Tinha que ser a Tereza pra embaçar!
Bom Caminho - Quem é Tereza? Eu não sou a Tereza! Pra sua informação eu sou o Bom Caminho viiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuu! E vocês tão fazendo a maior besteira da vida de vocês descumprindo medida! Vocês tão fugindo pra quê? Esse sem vergonha aí do Mau Caminho fala bonito, mas isso é uma armadilha pra vocês!
Renato - E qual as área da senhora?
Bom Caminho - Senhora tá no céu meu filho, eu sou uma moça! E minha área é a voz que sai da boca da família de vocês, que dizem pra vocês ficarem em casa e não fazer coisa errada... Minha área é a voz do bom amigo de vocês que convidam vocês pra igreja! Minha área é o conselho dos educadores que aconselham vocês a voltarem pra cá no domingo! Toda vez que vocês ouvirem no coração de vocês que é bom sair dessa vida e cuidar da família e arranjar um emprego, e estudar, sou eu falando! Pode até não parecer divertido, mas é o melhor caminho que vocês podem escolher... O da paz, dos estudos, do trabalho, da família! Quantos meninos, novos que nem vocês, morreram cedo. E foram mortos sabe por quem? Pela Violência, que é parceira desse aí ó, o Mau Caminho...

Neste momento no telão, passa um vídeo com uma música bem suave e triste, com a seguinte frase:

SÓ EM FORTALEZA, DE JANEIRO À JULHO DE 2012, FORAM ASSASSINADOS DEZENAS DE JOVENS E ADOLESCENTES, VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA!

EM MEMÓRIA DE:

É projetada fotos de adolescentes que já passaram pela unidade e morreram vítimas da violência, com os nomes deles.

Mau Caminho - Tu vai bem me dizer que se esses meninos ficarem aqui eles vão mudar é? Tu acha que tem jeito pra eles? Deixa de ser besta sua iludida!
Bom Caminho - Cala essa boquinha viuuuuu, seu projeto de bizouro do cão! Abra bem esses ouvidinhos que vocês vão ver no que é que dá seguir meus conselhos!
Ramon - Óia! Bizouro do cão! Boiô!
Bruno - Rárárá!
Renato - Ééééégua Mau Caminho, vai deixar?
Bom Caminho - E cala essa boquinha vocês também viiiiiiiiiiiiiu! Pois agora quem vai falar é a voz daqueles que escolheram seguir meus bons conselhos!

Agora começa a parte que, seja em vídeo ou pessoalmente, acontece os testemunhos de adolescentes que passaram pela unidade e saíram do crime.

Bom Caminho - Tá vendo meninos? Quando a gente quer, a gente pode mudar viiiiiiu! Então, tire essas idéias ruins da cabeça, cumpram a medida de vocês, estudem, trabalhem que vocês podem ir looooonge!
Bruno - Cabeça de gelo galera, vamo ficá!
Renato - É mermo viu, vamo cumprir medida só na limpeza, estudar, fazer curso...
Ramon - Pois é, vamo se aquetá que é melhor! Esse Mau Caminho é mó faca cega!
Renato - Tá é vendo é? Isso é um fio descascado!
Bom Caminho - E você seu papangú, eu tenho um negócio aqui pra você viuuuuuu! Toma! Toma!

O bom caminho neste momento tira a chinela e começa a bater na bunda do Mau Caminho que chora, e os dois saem de cena...

Renato – Rééé! Tua casa caiu Mau Caminho!
Bruno - Rárárá! Vacilou!
Ramon - Acóóóóóócha pro Bom Caminho!
Educador - Quem é que acoxa ein?

Educador entra novamente em cena...

Bruno - Óia, lá vem esse educador embaçar as conversas dos menó!
Educador - Embaçar nada menino... Tô fazendo o meu trabalho! Acompanhando vocês!
Renato - Dá pra segurar a caixa aí de novo só na limpezinha?
Educador - Arriégua! De novo?
Ramon - Vai lá educador!
Educador - Tá bom!
Renato - Dá mais papel aí pra gente, pode ser? Se num der a amizade é a mesma!
Educador - Toma, tá aqui!
Todos - Acooooooooxa pros menor!!!
Educador - Óóóóóólha!!!!
Bruno - Rárárá! É só proza educador! Tu sabe né? Podia ser o pior!
Educador - Já sei! Mas sou o melhor!
Bruno - Não, tu é o “mais ou menos” por ter deixado a gente sozinho aqui na quadra! Rárárá!
Ramon - Óia, boiô!

Neste momento entra uma técnica da área de psicologia...

Técnica - Ramon, atendimento!
Educador - Vá lá Ramon, a psicóloga quer falar com você!
Ramon - Já vai, vai dar certo! Ei, é sal ficar impregnado aí nos papeis só na limpeza?
Bruno - Cabeça de gelo, vá lá!

Depois entra uma técnica/o do setor jurídico...

Advogado - Ei Renato, bóra lá que eu vou te atender!
Bruno - Vixi, estourou a audiência! É penal!
Educador - Deixa de besteira hômi, o advogado só quer falar contigo!
Advogado – Vem logo Renato!
Renato - É sal! Fica aí Bruno!
Bruno - Boiei, fiquei sozinho!
Educador - E eu? Num tô aqui contigo!
Bruno - Ó os papo! Rárárá!

Agora entra uma técnica do serviço social...

Técnica - Ei Bruno, atendimento, vem!
Educador - Pronto, aí, vai ser atendido!
Bruno - Mó limpeza! Vai dar certo! Cabeça de gelo!
Educador - Vá lá Bruno, se avexe hômi, atendimento!
Bruno - Ei, é sal não uma ligação?
Técnica - Depende pra quem for Bruno! Vamos lá na sala que a gente conversa!
Bruno - Boiô educador, ficou sozinho! Rárárá! Falô pessoal!

NARRADOR:

E aqui termina esta história
E espero que dela tenham sido aprendiz
Pois seguir os conselhos do Bom Caminho
É o primeiro passo para um final feliz

Onde quer que você ande
Sempre haverá dois caminhos pra escolher
Escolham portanto o lado do bem !
Esse é o melhor caminho, só depende de você!

Espero que tenham se divertido
E prestado bastante atenção
Pois a lição desta história
É pra guardar pra sempre, no fundo coração

E se desta história tiverem gostado
E em sua vida tiver feito diferença
Podem então dar uma salva de palmas
Pois essa, certamente, é nossa maior recompensa!

Boa noite!

No final entram todos os participantes da peça, e todos cantam a canção “Saber Viver” dos Titãs.

FIM

22 agosto 2012

Resenha (Filme): O que esperar quando você está esperando (EUA - 2012)


Filme: O que esperar quando você está esperando (EUA - 2012)
Diretor: Kirk Jones
Estúdio: Alcon Entertanment

Olhem para o cartaz acima! Ele me enganou direitinho...

Explico!

Um dia, de última hora, eu e minha digníssima resolvemos ver um filminho no Iguatemi. Não tem erro, lá tem 12 salas de cinema, a gente podia ir lá na hora e escolher um e bingo! Quando vi esse cartaz pensei:

- Caramba! Rodrigo Santoro segurando uma criança negra nos braços!

E no cartaz ainda tinha: "Agora já é tarde para pular fora".

Sabe o que passou pela minha cabeça? Que ia ser um dramão daqueles de arrepiar. Tipo um filme de arte ou coisa do tipo. Não tive dúvidas, fui comprar os ingressos e entrei na sala de cinema.

Ledo engano!

Lembram daquele tipo de filme como "Simplesmente amor" (Inglaterra - 2003)? Cheio de atores famosos com várias estórias que no final se cruzam? Pois é, é basicamente a mesma fórmula, só que o tema central de todas as tramas é a gravidez.

O filme não é ruim não, é tipo... fofinho! De preferência pra assistir de casalzinho sabe. Rodrigo Santoro e Jannifer Lopez tem uma ótima química. Legal ver ele num papel de destaque em um filme americano.

Alguns atores então ótimos, outros nem tanto.

O forte do filme, pra mim, é que ele trata sem romantismo esse período na vida de um casal. Tanto para os que estão tentando engravidar, tanto para os que engravidam sem planejar, assim também como aqueles que não conseguem ter um filho e resolvem adotar um. Neste ponto eles exploram bem estes aspectos, mesmo que debaixo de um humor por vezes irônico.

Enfim, fiquei frustrado por conta de esperar outro tipo de filme devido a minha completa ignorância. Mas não digo que joguei dinheiro fora, acabou sendo um bom entretenimento.

É isso!

Veja o trailer de "O que esperar quando você está esperando" no vídeo abaixo:

21 agosto 2012

Resenha (CD's): David Gilmour - "At Hammersmith Odeon" (1984)

Artista: David Gilmour
Álbum: At Hammersmith Odeon
Ano: 1984
Gravadora: Coqueiro Verde Records

Apesar do álbum mais importante da minha vida ser o The dark side of the moon (1973),  meu primeiro contato com Pink Floyd foi através da era Gilmour, no caso o disco ao vivo Dalicate sound of thunder (1988).

Então, é natural eu afirmar que, definitivamente, meu Floyd favorito é David Gilmour. Mesmo reconhecendo que Roger Waters é um grande letrista, que boa parte das idéias geniais dos álbuns do Floyd ser dele, assim como os conceitos e tal, certamente ele seria incompleto sem ter Gilmour por perto para acrescentar a inteligência armônica, assim também como adicionar as canções sua linda voz e seus solos épicos de guitarra que tornaram as canções do Floyd eternas.

A maior prova disso é a carreira solo de ambos. Waters produziu álbuns com letras ótimas, mas musicalmente insossos. Já Gilmour, se tiver por perto um letrista razoável, consegue criar ótimas canções. Não a tôa, a era Gilmour no Pink Floyd foi uma maratona milionária. E os dois álbuns que se seguiram sem Waters são excelentes, assim como os shows da turnê dos mesmos.

Este álbum ao vivo foi realizado em 30 de abril de 1984, logo após o lançamento de About Face (1984),  segundo álbum solo de Gilmour. Na época a Sony Music lançou um VHS que, além do show, vinha recheado de extras com entrevistas e um documentário sobre Gilmour. Chegando a era do DVD, em parte devido a Sony Music achar o vídeo antigo e sem muita qualidade, e por outra o fato de Gilmour, com o passar dos anos, ter criado uma rejeição por About Face, eles resolveram engavetar o show. Até que essas grandes gravadoras começaram a ceder material (que eles julgavam pouco rentável) para selos mais independentes lançarem no mercado. No caso aqui no brasil o selo foi a Coqueiro Verde Records.

O Show está recheado com músicas de About Face, com exceção da bela "There's no way out here", e "Short and sweet", esta com participação de Roy Harper, o mesmo que cantou em "Have a cigar".

"Until we sleep" e a linda "Murder" poderiam tranquilamente estar no álbum A momentary lapse of reason (1987) sem medo de ser feliz.

"Out of the blue" é uma deliciosa canção acústica que nos leva a viajar sem sair do sofá. Linda de morrer! Se tivesse um solinho de guitarra pra fechar com chave de ouro, certamente seria uma prima muito próxima de "On the turning away".

E claro, não podia faltar os clássicos "Run like hell" e "Confortably Numb" (com participação especial de Nick Mason), estas do The Wall (1979), que tornaram-se marca registrada das apresentações ao vivo do Pink Floyd na era Gilmour.

Enfim, no ano seguinte (1985) Roger Waters anunciaria definitivamente o fim das atividades do Pink Floyd, à contragosto de David Gilmour e Nick Mason. Ao contrário de Waters, os dois músicos acreditavam piamente que tinham muito à produzir no Floyd, com ou sem Waters. E certamente este show de 1984 mostra que sim, Gilmour tinha ainda muita energia para gastar no Pink Floyd. O sonho (ou a viagem) ainda não tinha acabado!

A PREDILETA:

"Murder" é linda demais! E tem nela todos os elementos que eu aprecio entre as características de Gilmour compor. Um começo acústico com sua voz maravilhosamente entoada. Uma letra de uma beleza obscura de cunho existencialista, triste e comovente. E um aumento crescente da energia dela até a explosão de guitarras no final. Enfim, eis a fórmula da roupagem progressiva que conseguiu se sobressair na década de 80. E deixo vocês com esta linda música! 

Aperte o play no vídeo abaixo, deite no sofá e viaje ouvindo "Murder":

20 agosto 2012

Resenha (Filme): Jogo entre ladrões (EUA - 2009)


Filme: Jogo entre ladrões (EUA - 2009)
Direção: Mimi Leder
Estúdio: Nu Image Films

Pois é, Morgan Freeman já foi daqueles atores que, só de você ver o nome dele estampado no cartaz de um filme você ia assistir sem medo de ser feliz. Apesar deste filme ser de 2009, só fui ver ele agora. E realmente, se eu fosse entrar numa sala de cinema pra ver esse filme sairia bastante desapontado.

Não que que o filme seja ruim de doer. Não, o filme é na verdade previsível, com atuações mornas tanto de Morgan, como de Antônio Banderas. E francamente, o roteiro não convence de jeito nenhum. Um filme de assalto, principalmente destes que tem a proposta de ser charmoso, com sedução, bom humor e atores famosos era pra botar pra quebrar, como por exemplo o filme "Onze homens e um segredo" (EUA - 2001).

Porém o que vejo é um filme razoável, com uma ideia já bastante manjada e explorada (até com bem mais criatividade), e que certamente passou despercebido, como apenas mais um filminho pra colocar uns tostões a mais no bolso de algum produtor, pois como eu disse no início, Morgan Freeman e Antonio Banderas já encabeçaram tantos filmes bons que, certamente, muita gente bem intencionada teve ter lotado as salas de cinema para ver esse filme.

Enfim, descartável...

Veja trailer do filme "Jogo entre ladrões" no vídeo abaixo:

  

19 agosto 2012

Resenha (Filme): O quarto sábio (EUA - 1985)



Filme: O quarto sábio (EUA - 1985)
Diretor: Michael Ray Rodhes
Estúdio/Distribuidora: Apocalipse Filmes

Confesso que, à primeira vista, não me atraí por este filme. Faço parte de um grupo chamado "Estudo bíblico para não religiosos" aqui em Fortaleza, e a Ellen sugeriu ao grupo ver esse filme e conversar sobre ele depois. Nossa, o filme é da década de 80, distribuído como conteúdo de edificação evangélica, enfim, tinha todo um currículo para não cair nas minhas graças. Tirando isso, você vê claramente a precariedade de cenários, essas coisas.

Porém, à medida que você avança na narrativa, vai se envolvendo cada vez mais na busca de Artaban (Martin Sheen, o pai do Charlie Sheen). Ele é um médico da antiga Pérsia que através da astronomia e árduo estudos das escrituras, chega à conclusão de que um Rei ia nascer, e esse rei seria soberano em toda parte.

Ele larga tudo o que tem (pois era filho único de um líder muito rico) e parte em uma jornada na busca deste rei. Daí já dá pra saber que ele é, na verdade, o quarto rei mago, que chega atrasado nos principais acontecimentos da vida de Jesus.

O filme é baseado em um best-seller do escritor Henry Van Dyke, e é óbvio que eu vou garimpar este livro nos sebos virtuais para ver se tem publicação em português.

Pois muito bem, não vou falar mais detalhes da estória pois posso entregar muita surpresa legal. Mas a busca dele pelo Mestre o faz encontrar muitas coisas pelo caminho. E enquanto ele não O acha, vai tentando levar a vida junto com seu servo, que é mandado junto a ele pelo pai para protegê-lo.

Emocionou-me muito esse filme, principalmente por ele ser um retrato fiel de nossa própria jornada espiritual, cheio de autos e baixos. Particularmente este filme lembrou-me muito Ben-Hur (EUA - 1959), que também é um épico criado em torno de personagens que viviam às margens do ministério de Jesus, e por alguma razão esses caminhos se encontram.

Minha própria relação com Jesus Cristo começou em torno desta minha busca de sentido para minha existência durante a adolescência. Lembro-me exatamente da madrugada de insônia em que eu peguei uma bíblia empoeirada na estante e comecei a ler os quatro evangelhos, e minha vida nunca mais foi a mesma desde então. Já estou há mais de quinze anos nessa peregrinação em busca de Jesus, e confesso a vocês que toda vez que acho que estou chegando perto, sempre sou surpreendido por algo que me faz perceber que, na verdade, ainda estou muito longe.

Esta minha busca teimosa desta utopia que é ser discípulo de Jesus fez-me lembrar de uma aula sobre mitologia no meu curso de filosofia. No caso a professora estava falando do maravilhoso ideal de república arduamente defendida por Sócrates. Um aluno questionou se não era uma perca de tempo estudar uma coisa que "se sabe" é uma utopia impossível de ser vivenciada.

Ela deu uma risadinha de canto de boca e prontamente respondeu, e com esta resposta termino esta minha resenha:

- O homem hoje tem tecnologia para construir uma nave tripulada e alcançar a estrela mais próxima da terra?

- Não professora, é praticamente impossível o homem conseguir tal coisa...

- Porém meus caros, isso não impede que milhares de pescadores no mundo se orientem e busquem direção através delas.

* * *

"Corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória. Esse prêmio é a nova vida para a qual Deus me chamou por meio de Cristo Jesus."
Filipenses 3:14


"Um passo à frente, e você já não está no mesmo lugar!"
Chico Science


Veja trailer do filme O quarto sábio no vídeo abaixo:

13 agosto 2012

Resenha (CD's): Neto Santana 50 Anos (EP) (2009)


Artista: Neto Santana
Álbum: Neto Santana 50 anos (EP)
Gravadora: Independente
Ano: 2009

Neto Santana é daqueles amigos que, de tão amigo, já se tornou mais que um irmão. Sua casa, para mim, é basicamente um segundo ninho, o segundo lugar neste planeta onde eu me sinto mais à vontade. Eu e a família Santana atingimos um ponto na relação que se tornou quase que um parentesco sem linhagem de sangue. Uma adoção praticamente.

Neto é um dos muitos caras que acordam pela manhã, põe um terno e vai para o escritório, em um prédio empresarial imponente em Fortaleza. Passa o dia lidando com números, cálculos e relacionamentos impessoais.

Pouca gente sabe que aquele engravatado é um compositor de mão cheia. Um verdadeiro apaixonado por bons vinhos, boa música e cujo violão tornou-se quase uma extensão do seu corpo.

A casa dos Santana é um lugar extremamente musical. O tempo todo se conversa (e se discute) sobre música. Um dos poucos lugares que eu conheço que ainda mantém na compra de CD's e LP's um hábito normal. Viajar com essa família então, além da diversão certa, é momento de intensa degustação sonora.

Sua mulher Mirilene é a maior fã de Rubem Alves que se têm notícia e uma grande mulher. A matriarca agregadora! Suas filhas são a trindade perfeita de inspirações musicais. Daiá (jornalista, musicalmente sofisticada, voltada pra MPB de vanguarda), Giulia (Estudante de veterinária, musicalmente inclinada para as tendências sonoras em torno do reggae, rock, samba-rock e outras pérolas nacionais. Ela vai ser daquelas que vai envelhecer e ainda vai escutar Nando Reis como se fosse a primeira vez), e finalmente a caçulinha Geísa (a típica espécime geração Y, uma esponjinha de tudo aquilo que aparece, a qual eu sempre vou ser orgulhoso por a ter apresentado ao som do Jack White!).

O clã Santana

Daiá, Giu, Netão, Miri e Gegê


E o grande maestro e mestre de cerimônia de tudo isso é o Neto Santana.

Voltando para o engravatado profissional de Factoring; enquanto muitos executivos chegam em casa cansado, vai ao bar e prepara uma boa dose de Whisky para aliviar-se da tensão; Neto Santana por sua vez tira a gravata, arregaça as mangas e pega o violão. O cara tem um repertório que abrange quase tudo, da mais sofisticada MPB, ao brega, ao rock nacional, à jovem guarda e, além disso, com uma formação batista tradicional, tem um repertório invejável na área da música cristã, passando por Vencedores por Cristo, Rebanhão, João Alexandre e muitos outros. Mas quem o conhece sabe que seu xodó mesmo é a música regional nordestina!

O cara é filho do interior de Pernambuco, de origem humilde, sabe como ninguém compor sobre os elementos do sertão, da caatinga, da aridez, do triste estado do homem que vive sob o sol rachante e a frieza do abandono do Estado.

Seu habitat natural são os elementos regionais. Que claramente influencia sua música. O baião, o xote, o forró são ingredientes elementares de suas músicas.

Casa onde Neto foi criado no sertão pernambucano

E, ao completar 50 anos, resolveu presentear os mais chegados com um EP que continha pelo menos sete de suas canções. E é sobre este disco que vou falar hoje.

Gravado no Sítio Trapiá (município de Assú - Rio Grande do Norte), lugar este de grande inspiração para Neto, teve na produção a ajuda de um gringo, Jason Jay, um europeu do País de Gales que estava passando uma temporada na Igreja batista de Trapiá, para conhecer o trabalho dos missionários ingleses Mike e Davina Wilson, que há mais de 20 anos trabalham com esta comunidade.

Por acaso esse gringo era produtor musical e tinha lá um equipamento portátil de considerável qualidade. Estava lá para produzir um disco com as canções criadas pela própria comunidade de Trapiá. E Neto aproveitou para finalmente gravar alguma de suas músicas.

"Meu pé de serra" abre o disco, que é praticamente uma narrativa do êxodo rural, do homem sertão que troca a mata pela selva de pedra, e uma vez na cidade grande trabalha incansavelmente na esperança de um dia voltar para o seio de sua terra.

"Quem sai de sua terra
Tem a saudade, faz os olhos marejar"

"Quem diria" é uma declaração de amor à Trapiá. Esta canção foi regravada pelo tradicional grupo cristão Sal da Terra, que há muito tempo faz um excelente trabalho com canções regionais pelo sertão, levando o evangelho através do bom e velho pé-de-serra.

"Flor do evangelho" e "Vida de sertanejo", tem na primeira a vida do sertanejo "comedor de macambira", que tem na palavra de Deus a esperança de seu crescimento, quem sabe até chegar um dia a ser "doutô". A segunda descreve o dia-a-dia de um boiadeiro, que "acorda bem cedo, pega a enxada e vai trabalhá", nossa, você fecha os olhos e imagina uma casinha de taipa, no pé de uma serra, com um céu azul, sem sinal de nuvem, e um homem surrado pelo sol indo cuidar das terras e dos animais. Mesmo com a seca, espera em Deus a bondade da "graça" da chuva. Uma linda poesia que começa com um solo de Neto apenas com a voz, que lembra um vaqueiro tangendo os bois.

"Identidade cristã" e "Viver para amar" já tem seu toque teológico. Uma inspirada na parábola do Bom Samaritano, mostrando que, "formalidade religiosa" não identifica o cristão, mas tão somente o amor. A segunda, provavelmente inspirada nas cartas de João (o apóstolo do amor) e é um verdadeiro complemento de "Identidade Cristã".

"Quem diz amar a Deus
E rejeita o irmão
Ainda não conheceu
Da vida a razão"

E é a mais pura verdade!

Neto é daqueles que, não sei se por comodismo ou talvez por não ter tanta segurança na consistência de suas próprias criações, é daqueles caras super talentosos que, sendo artistas por natureza, se tornam burocratas por amor á família. Um cara que consegue ser a personificação do maluco beleza, controlando a maluquez, misturado com a lucidez. Sabendo usar estas duas naturezas em momentos apropriados.

Neto Santana com sua bebida predileta: o sangue de Cristo!
De preferência seco e branco... 

Sua música é sincera, brota de sua alma. De seus sonhos, de suas utopias e ideais. De um universo sertanejo em que talvez habite sua saudade. Um homem do sertão vivendo na selva de pedra.

Ele não têm Myspace, nem colocou suas músicas no youtube. Quando é para cantar suas canções em meio a estranhos, à princípio mostra-se encabulado, quase constrangido, porém quando termina de cantar o povo sempre celebra sua obra, e o mesmo ri orgulhoso.

Uma pena que suas canções e melodias sejam restritos apenas aos seus, aos íntimos. Neto Santana não aparenta ter grandes ambições musicais, porém é um homem que como poucos, pode encher o peito e dizer aos quatro ventos que o Salmo 128 é uma realidade em sua vida! O que, no final das contas, é algo muito mais importante do que ser "importante" e "conhecido".

Esse é o Neto Santana: um músico, um poeta, um pai de família, um amigo, um irmão, e intimamente até confesso que, por vezes, um pai que nunca tive.

Enfim, como eu sou um teimoso por natureza, e como não quero ter a responsabilidade de ser um daqueles que mantém um tesouro escondido, vou compartilhar com você, ó desocupado leitor, minha canção predileta de Neto Santana. E você, assim como eu, vai fazer parte dos poucos privilegiados que tiveram acesso à suas músicas!

A PREDILETA:

Não sei se a levadinha folk, com direito à gaita de "Está chovendo no sertão" foi ideia do Neto ou do Jason, porém esta sem dúvida é minha predileta. Se eu fosse produtor musical certamente ia escolher essa como música de trabalho. Está tudo aqui: passarinhos cantando uma canção divina, o bizouro voando ao redor da lamparina, e a alegria do homem do campo quando a chuva chega. Nossa! Essa música tem elementos que me arrebatam para a minha infância, na fazenda da minha avó, no município de Itatira, aqui no Ceará.

Enfim, uma bela obra, uma musica cheia de vida, que traz em si a fertilidade e felicidade de poder alcançar uma grande espera. A chuva após a seca, a luz após a escuridão, o colheita cheia de alegria daqueles que plantaram chorando.

Esperança!

Esperança de poder um dia matar a minha saudade do cheiro da terra molhada...

Veja no vídeo abaixo a música "Está chovendo no sertão", de Neto Santana:

06 agosto 2012

Resenha (Livro): Harry Potter e o cálice de fogo (2000)


Livro: Harry Potter e o cálice de fogo
Autora: J. K. Rowling
Editora: Rocco
Ano: 2000
Páginas: 583

Cheguei ao quarto livro da série de sete livros do bruxinho mais famoso do mundo e, o que eu tenho a comentar basicamente é:

- Nossa, que série massa!

Sempre tive desejo de ler Harry Potter, tanto que até evitei (bravamente!) a ver os filmes. Pra dizer que não vi nenhum, eu cheguei a ver o primeiro e o último. O primeiro achei legal, o último não entendo muita coisa por conta de não conhecer boa parte dos personagens. Enfim, comecei a maratona e aqui cheguei.

Você sente, a cada livro, que à medida que Harry vai crescendo, a própria história vai, aos poucos, tomando uma atmosfera sombria e dramática. Ao que parece, Rowling respeita o público que vai saindo da infância para a adolescência aprofundando as questões na medida que o Harry vai deixando de ser criança e passa a ir para a adolescência.

Este livro, particularmente, foi o que eu mais gostei até agora. Tenho medo de tecer comentários sobre alguma coisa que possa entregar algo importante do livro. Mas posso dizer que dois eventos importantes acontecem: A copa mundial de quadribol, e o torneio tribuxo, que é uma espécie de competição entre escolas de magia, com um escolhido de cada casa. Quem escolhe quem vai representar cada casa é o cálice de fogo. E parei por aqui.

Com uma narrativa que te leva a um desfecho surpreendente, parece que o livro em si tem um feitiço, do tipo "prazerus leituruns vicius", pois você começa a ler e não consegue parar. Seu olho desliza com facilidade em cada linha e quando menos percebe, lá se vão cem páginas.

Enfim, leitura mais que recomendada e, até ouso dizer, quase que obrigatória. Sem dúvida é um clássico moderno, que será lido e relido por várias gerações.

E é maravilhoso chegar ao final deste livro, perceber que a autora te leva a conclusões nada óbvias, e pensar:

- Caramba! Fui deliciosamente enganado!

Vamos ao próximo livro então...

E boa leitura!

02 agosto 2012

Resenha (Filme): Batman - O cavaleiro das trevas ressurge (2012)





Filme: Batman - O cavaleiro das trevas ressurge (Eua - Reino Unido / 2012)
Diretor: Christopher Nolan
Estúdio: DC Entertainment / Legendary Pictures / Syncopy / Warner Bros.


Confesso que tava apreensivo com esse filme. Principalmente pelo anterior, com aquele Coringa arrasador. Enfim, fui assistir e, caramba! Que filmaço!

O filme se passa 8 anos após a prisão do Coringa e a morte do Harvey Dent. Depois disso, Gotham City passa a viver uma paz, paz essa que consequentemente fez o Batman perder seu lugar. O que dá certa razão ao Coringa, quando este, no filme anterior, passou na cara do Batman que ele só tinha razão de existir por conta de caras como ele (Coringa). Só há o herói por conta dos vilões. Eles são peças fundamentais para o estabelecimento do que é certo e errado em uma coletividade.

A paz de Gotham faz Bruce Wayne virar um homem recluso, por não mais encontrar um sentido para lutar, pois não há mais o mal para o Batman combater.

Enfim, não vou ficar contando o enredo do filme, vou me ater mais as minhas sensações.

Enquanto Coringa era um fanfarrão que queria só ver o circo pegar fogo. O vilão deste já é daqueles que tem sede genuína por destruição e terror, tendo por trás desse sentimento (e de seu corpo de brutamontes, tipo vilão do Mad Max), uma ideologia messiânica. As coisas mais monstruosas que se pode fazer acontece quando o ódio é regado por uma ideologia. Porque além da ação, existe a paixão como combustível. E quando a paixão aflora, a criatividade aumenta. Lembre-se: não estou falando de sexo, mas de terrorismo! O nome do brutamontes é Bane (interpretado pelo competente Tom Hardy, aquele feroz lutador de vale tudo do filme Guerreiro - 2011).

O filme em si é colossal, um verdadeiro clássico moderno (daqui a uns 30 anos a gente conversa sobre essa minha precoce afirmação), e principalmente, uma senhora aula de como se fazer cinema.

Christopher Nolan consegue construir um filme com apelo blockbuster, mostrando de uma vez por todas que sim, dá para se produzir um filme comercial com um roteiro e direção de uma profundidade e beleza, que certamente irá acalorar debates intelectuais por muitas gerações.

Muito mais do que produções megalomaníacas, o que o público está querendo mesmo é e sempre foi roteiro. E acho bom filmes assim ganhar o grande público, pois pessoas mais exigentes vão exigir filmes melhores, mais bem escritos, enfim.

O filme carrega a sombra de, no filme anterior, ter sido marcado pela trágica e prematura morte de Heath Ledger (que fez o Coringa). Agora o foi pela chacina de 12 pessoas em um cinema do Colorado (EUA) na estréia do filme, por um lunático psicopata chamado James Holmes, que provavelmente comprou suas armas em alguma padaria americana. Deus salve a América!

Resumindo: O filme valeu cada centavo que eu paguei numa cara sessão domingo à noite! É muito bom quando você paga um ingresso e sai da sala de cinema impactado por um espetacular filme. O que faz jus, de fato, a expressão:

A maravilhosa magia do cinema!

Veja abaixo trailer do filme "Batman - O cavaleiro das trevas ressurge":

01 agosto 2012

Resenha (Filme): Talihina Sky - A história do Kings of Leon





Filme: Talihina  Sky - The story of Kings Of Leon (EUA - 2012)
Diretor: Stephen C. Mitchell
Produtora: Sony Music


Os Kings Of Leon são daquelas bandas que tem uma história muito boa para ser verdade. Tantas lendas foram criadas em torno dos irmãos Followill que, de fato, caiu como uma luva esse documentário que, muito mais que mostrar a realidade do que realmente a banda é, veio confirmar muitas coisas que antes era tida como mera especulação para aumentar a fama da banda.

Os Kings, sem dúvida, é uma das bandas mais populares do mundo. Daquelas feitas para encher estádios.

A banda surgiu no começo de 2000', numa época que ninguém aguentava mais o chamado New Metal infestarem todos os meios de comunicação como uma espécie de representantes do que havia de mais moderno no rock. Foi uma epidemia! Eu achava aquilo tão fabricado, chegava a dizer que eram uma versão de Boy's Band do mal. E tudo o que se tocava naquela época, se não parecesse New Metal, não ia ter interesse mercadológico nenhum.

Ainda bem que, na contramão daquela patifaria, surgiram bandas com uma proposta de "volta as raízes" com um som mais cru, de garagem, bem rock mesmo. E novamente, o rock foi salvo com bandas como The Strokers, The Hives, Franz Ferdinand, The White Stripes e claro, o Kings Of Leon.

Pouca gente conhece a origem humilde dos King's. Eles foram criados debaixo de uma educação religiosa fundamentalista pentecostal. Não tinham acesso a tv e, até certa idade, nem chegaram a ir à escola, sendo educados em casa por sua mãe e seu pai pastor evangelista.

Com o divórcio dos pais, ao que parece, as bases fundamentais de sua criação religiosa ruíram. Até que descobriram o rock através de um disco dos The Pixies, o clássico "Surfer Rosa".

Daí começaram a ensaiar, e daí para deixar uma demo numa gravadora, entrar no rol das bandas com apelo retrô da moda àquela época, e aos palcos do mundo todo foi um pulo.

O documentário tem depoimentos de familiares e amigos da banda. Muitos vídeos caseiros do tempo que eles eram religiosos. As brigas e drogas após a fama. Os conflitos de uma vida rocker e o que restaram das convicções cristãs deles. Todas estas questões muito bem montadas, escritas e compiladas pelo diretor estreante Stephen C. Mitchell, amigo da banda desde o início da carreira deles, em seu primeiro longa.

Enfim, gostei muito do documentário. Principalmente por ele mostrar, em muitos aspectos, a decadência desse formato de família cristã fundamentalista que se baseiam mais na religião em si do que na liberdade e originalidade que Jesus foi quando veio a terra. Então, essa dicotomia do tipo "ou é fanático religioso, ou é um porra louca drogado" é algo evidente na forma como tanto a família como os rapazes da banda enxergam a espiritualidade.

Espero que, com o tempo, eles consigam encontrar esta que é, segundo o escritor e pensador cristão C.S. Lewis, a grande chave dos ensinamentos de cristo no que diz respeito a experimentar os divinos prazeres da vida, resumido em uma palavra pouco dita e, infelizmente, esquecida pela tradição cristã, que criminosamente a trocou pela abstinência.

Essa palavra chama-se temperança, ou equilíbrio.

Gostei muito do documentário! E acho difícil você achar ele em alguma locadora. O caminho é baixar da internet mesmo...

Assista abaixo o trailer do documentário:

Lendas do Rock: "The dark side of the Oz"



Era 13 de julho de 2012, dia mundial do rock. Entrei na Distrivídeo vestindo minha inseparável camisa do Joy Division quando encontro uma atendente da mais tradicional locadora de vídeos de Fortaleza e pergunto:

- Moça, você tem aí o Mágico de Oz?

Ela me observa intrigada, olha pra minha camisa por uns três segundos, depois olha pra mim e fala:

- Sério, o que é que tá acontecendo? Você é o oitavo cara que me entra aqui na locadora com camisa de banda atrás desse filme!

Ao que tudo indica, eu não fui o único interessado em, no dia internacional do rock, experimentar uma das lendas mais curiosas da história da música.

"The dark side of the Oz" é a lenda que diz que, se você apertar o play no começo do filme "O mágico de Oz", e ao mesmo tempo apertar o play no álbum "The dark side of the moon" do Pink Floyd, a sincronia entre o filme e as músicas do álbum é perfeita. Como se os caras da banda tivessem gravado o disco vendo o filme, fazendo uma trilha sonora do mesmo.

Esse boato surgiu na primeira metade da década de 90' e foi crescendo à ponto de chegar as grandes publicações sobre música e ganhar proporções globais. Dizem que até trabalhos acadêmicos foram escritos sobre este curioso fenômeno.

Os membros e produtores do álbum Dark Side negam qualquer ligação ou conexão com o filme durante as gravações. Chegaram até a dizer que era apenas uma "viagem" de algum lunático com muito tempo livre.

Obviamente a gravadora aproveitou essa lenda para divulgar ainda melhor o álbum. Existem até versões piratas do Mágico de Oz já comercializadas com as canções do Pink Floyd com o título "Dark Side of the Oz" incorporado à capa. Acho que a EMI e a MGM poderiam fazer um acordo para, pelo menos nos extras do filme colocarem a versão com o som do Pink Floyd.

Eles iam vender pra caramba com certeza!

Enfim, eu mesmo resolvi tirar minhas conclusões e fazer esta experiência e realmente tem muito pano pra manga na sincronicidade entre disco e filme. O começo e final das músicas coincidem com o início e o fim de uma cena ou recorte marcante do filme. Os relógios de "Time" começam a tocar na hora que a bruxa aparece na bicicleta. Ouvir "The great gig in the sky" assistindo o furacão destruir todo o cenário do filme é uma experiência de arrepiar todos os fios de cabelo do corpo. Exatamente quando a porta da casa abre e ela vê o mundo colorido de Oz, começa a tocar "Money". E é incrível ver todos os personagens dançando exatamente sob o som da guitarra de Gilmour durante o solo na parte mais rock dessa mesma música. Isso, para citar uns poucos momentos de uma imensidão de "coincidências".

Não vou ficar aqui pontuando tudo porque assim o texto vai ficar enorme. Porém, muita gente com tempo mais livre que eu já fizeram estudos bem mais detalhados que você facilmente pode encontrar no Google.

Ao som de Dark Side, o filme Mágico de Oz fica sombrio, porém, nossa! Foi uma das melhores experiências que eu já tive na vida. Por mais que, assim como eu, você também ache que é pura coincidência, vale muito à pena você fazer esse teste.

E se possível, depois de assistir me diga o que achou!

Assista abaixo, na íntegra, The dark side of the OZ: